Tu não és importante
Saibamos, por conseguinte, morrer juntos, de bem connosco, de bem uns com os outros, de bem com o mundo, placidamente (educadamente)
Tu não és importante, o teu nome não é importante, os teus filhos não são importantes, nem importante é a tua mulher, o teu marido, os teus irmãos ou os teus pais. O teu país não é importante nem muito menos a tua nacionalidade, a tua casa não é importante e ninguém quer saber qual a rua e a terra onde moras, se tens parques ao pé de ti ou praia, montanhas ou planícies, porque nada disto te pertence, não encontro lá o teu nome, e se porventura o vir, ao teu nome, estou certo em como o tempo se encarrega de tudo apagar.
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Tu não és importante, o teu nome não é importante, os teus filhos não são importantes, nem importante é a tua mulher, o teu marido, os teus irmãos ou os teus pais. O teu país não é importante nem muito menos a tua nacionalidade, a tua casa não é importante e ninguém quer saber qual a rua e a terra onde moras, se tens parques ao pé de ti ou praia, montanhas ou planícies, porque nada disto te pertence, não encontro lá o teu nome, e se porventura o vir, ao teu nome, estou certo em como o tempo se encarrega de tudo apagar.
Porque as florestas, os céus que habitam lá por cima, as árvores em tudo para além de ti, já cá estavam antes mesmo de te verem nascer, e apesar dessa vontade, as tuas mãos definham com a idade de acordo com os ditames da mãe Natureza, deus Gaia, o único e verdadeiro deus, do qual tu não só fazes parte como és prova: anda, portanto, pequeno deus, e mostra-nos aquilo de que és capaz.
Mas sem pretensões, mas sem ilusões, anda apenas e colhe os frutos desta árvore, mas sem medo de morrer, ao contrário dos outros animais. Não conheço, conheci ou hei-de conhecer, um animal com medo de morrer. Não. Os animais não têm medo de morrer. Morrem e pronto, já está. Porque te achas tu superior e onde vais tu encontrar este medo?
Deus, o outro Deus, o teu, se existe, ou existiu (não existe nem nunca existiu, mas isto é um suponhamos), por certo pregou-te uma valente partida, porque te fez à Sua imagem, mas tão mortal como um rato, para sempre condenado a viver e perecer uma e uma só vez, e pouco mais, sempre na ilusão de que os teus actos e os teus filhos perpetuarão o teu nome muito para além da tua morte.
O António Lobo Antunes referia como a morte é um período de tempo muito longo: podemos estar vivos noventa anos, mas por certo vamos estar mortos muitos mais. Ergo, o melhor é habituares-te. Correcção: o melhor é preparares-te para veres quem, na morte, tem, de facto, os verdadeiros tomates, ou apenas o discernimento, tão maduro como natural, de que nada é feito para durar, para sempre, eu não serei, e tu, meu caro, na regra não serás a excepção.
Saibamos, por conseguinte, morrer juntos, de bem connosco, de bem uns com os outros, de bem com o mundo, placidamente (educadamente). Porque tu não és importante, o teu nome não é importante, e ainda menos importante é a tua fotografia no Facebook, e daqui por cem anos já cá não estará ninguém para te recordar, para te contar e cantar. Importante, meu amigo, é tudo quanto te faz feliz e tudo quanto gostas de fazer, importante é sorrir, importante é rir, importante é acordar, correr e pular, importante é dar, mas sem receber, importante é essa tua felicidade e a certeza em como dentro da mesma viverás para sempre.