Espécies em perigo de extinção nos 35 hectares para abate na Serra da Cabreira
Associação alerta para o impacto desta acção junto de espécies animais protegidas como o lobo ibérico, cervo e garrano, que têm aqui o seu habitat.
“Contactadas todas as instituições da região, como as câmaras de Montalegre e Vieira do Minho, e associações de baldios, ninguém sabe do porquê, de onde partiu a iniciativa. O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) aparentemente também desconhece e pediu-nos informação mais detalhada”, revela o porta-voz do grupo SOS – Serra da Cabreira, Rui França.
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“Contactadas todas as instituições da região, como as câmaras de Montalegre e Vieira do Minho, e associações de baldios, ninguém sabe do porquê, de onde partiu a iniciativa. O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) aparentemente também desconhece e pediu-nos informação mais detalhada”, revela o porta-voz do grupo SOS – Serra da Cabreira, Rui França.
O porta-voz disse à Lusa que tem “documentado” um conjunto de “espécies protegidas” inseridas nas “milhares de árvores marcadas para abate” sem que o ICNB admita o seu conhecimento, apesar de alegadamente ter sido este organismo a dar indicação aos guardas-florestais para a marcação da “ampla zona”.
“Estão marcadas milhares de árvores, inclusivamente espécies em risco ou mesmo em extinção, como o pinheiro-silvestre. As marcadas são resinosas, mas a envolvente toda é um bosque bastante denso. Abarca uma diversidade enorme de espécies”, alertou, denunciando ainda o impacto desta acção junto de espécies animais protegidas como o lobo ibérico, cervo e garrano, que têm aqui o seu habitat.
O responsável do movimento de defesa da Serra da Cabreira conta que o ICNB pediu “informações mais detalhadas sobre o local exacto” e que o levantamento já foi feito por GPS e entregue ao organismo, do qual espera “bom senso”.
“Quem faz a marcação são os vigilantes da natureza. Quem tomou a iniciativa do projecto inicial, ainda não sabemos e já questionamos o ICBN há 30 dias. Criamos então o movimento SOS – Serra da Cabreira que o questionou massivamente e tivemos, finalmente, uma resposta do director a pedir a localização da zona marcada para abate”, relata Rui França.
O membro do SOS – Serra da Cabreira fala em “aparente desconhecimento” do responsável do ICNB, mas recorda que foi o vigilante, “alegadamente com ordens do ICNB”, quem marcou “uma área gigante de floresta para abate”.
“Parece que toda a gente desconhece, excepto nós que vimos e documentamos o terreno”, lamenta.
Caso o abate se verifique para venda da madeira, o seu fruto será “obrigatoriamente repartido pelo ICNB e a associação de baldios” - a área para abate pertence a Caniçó (Montalegre) e, eventualmente, ainda envolve árvores de Linharelos (Montalegre) e Campos (Vieira do Minho).
“Área de pastagem? Esta zona está a quilómetros em linha recta dos baldios a que pertence. Não acredito que haja gado suficiente para tantos hectares de pasto, sendo que há uma enorme zona a norte para o efeito. A área de prado é gigante e não é necessário deitar enormes áreas abaixo para pastagens. Os únicos que lá pastam são garranos selvagens”, vinca.
O movimento SOS – Serra da Cabreira já reúne cerca de 1500 membros “com paixão comum pela serra e floresta”, nomeadamente “pessoas escandalizadas” com o que se está a passar.
“Deixo o desafio aos responsáveis para irem ao terreno antes de decidirem administrativamente o abate. Depois de verem a riqueza, diversidade e beleza do local, certamente não é num gabinete que vão tomar essa decisão”, concluiu.
A Lusa tentou contactar o ICNB, tanto a delegação do Norte como o departamento central, sem qualquer resposta.