Portugal e Marrocos querem cooperação abrangente para travar tragédias no Mediterrâneo

Rabat é a capital mais próxima de Lisboa, o que para os políticos marroquinos não é uma mera circunstância geográfica. Deve servir para acelerar as relações e recuperar o tempo perdido.

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Passos Coelho com o primeiro-ministro marroquino, Abdelilah Benkirane Nuno Ferreira Santos

“Devemos atacar a raíz e as causas dos problemas, o que só se consegue com uma cooperação abrangente entre as duas margens do Mediterrâneo”, disse o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho em conferência de imprensa. “Portugal e os governos da Europa devem sentir que a visão securitária não é suficiente, deve haver justiça e prosperidade dos dois lados do Mediterrâneo pois, assim, seria mais fácil lidar com os fluxos migratórios, é um bom investimento para todos”, concordou o primeiro-ministro marroquino Abdelilah Benkirane.

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“Devemos atacar a raíz e as causas dos problemas, o que só se consegue com uma cooperação abrangente entre as duas margens do Mediterrâneo”, disse o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho em conferência de imprensa. “Portugal e os governos da Europa devem sentir que a visão securitária não é suficiente, deve haver justiça e prosperidade dos dois lados do Mediterrâneo pois, assim, seria mais fácil lidar com os fluxos migratórios, é um bom investimento para todos”, concordou o primeiro-ministro marroquino Abdelilah Benkirane.

A segurança era um dos temas da agenda da cimeira e entre os dois países foi assinado um acordo que visa cooperar na gestão da imigração, prevenção da criminalidade e policiamento de proximidade. Os acontecimentos das últimas 48 horas no Mediterrâneo, os sucessivos naufrágios de pesqueiros com imigrantes, propiciaram uma abordagem multifacetada do problema à margem, portanto, das medidas exclusivamente securitárias.

Nas declarações de Passos Coelho e Benkirane ficou claro serem necessárias acções a jusante. “Hoje decorre em Marrocos, sob os auspícios da ONU, um processo de diálogo relativo à questão líbia”, anunciou o chefe do Governo de Rabat. “Espero que se chegue a bom termo”, disse, referindo-se a uma negociação entre as partes em conflito naquele país. “É necessário que toda a região seja pacificada”, destacou.

“A segurança na Líbia e na região do Sahel não pode ser descurada”, avisou o primeiro-ministro português. Recorda-se que é através da Líbia, actualmente um Estado falhado, que são encaminhados para a travessia do Mediterrâneo os imigrantes da África Subsariana que procuram um futuro de paz e bem-estar na Europa.

“Uma solução duradoira implica uma grande cooperação entre a União Europeia (UE) e os países africanos, a imigração ilegal não é só um problema dos países europeus que fazem a fronteira sul do Mediterrâneo, mas afecta a todos”, disse Pedro Passos Coelho. “Pode haver uma reunião extraordinária do Conselho Europeu e, se houver reunião, é para tomar decisões”, alvitrou. Contudo, Passos preferiu não antecipar medidas. Ainda assim, reiterou a necessidade de políticas alargadas: “Importa atacar a causa dos problemas, enquanto houver desnível de desenvolvimento estas situações tão dramáticas continuarão a existir.”

Cooperação abrangente é a solução. “A Europa deve investir um pouco mais e deve existir do lado dos países africanos uma aposta política na segurança e desenvolvimento, a economia anda a par com a política, mas não é o dinheiro que resolve tudo, quando não existe dinheiro agrava-se, mas é preciso haver vontade política”, disse Passos Coelho. Recorda-se que Portugal e Espanha partilham actualmente a presidência do diálogo 5 + 5 – Argélia, Espanha, França, Itália, Líbia, Malta, Marrocos. Mauritânia, Portugal e Tunísia.

“Temos um sistema único, regularizámos a situação de 20 mil africanos no nosso país, nós, os africanos, temos de suportar a nossa responsabilidade, mas a Europa deve contribuir para que os africanos se possam desenvolver, é essa a verdadeira solução”, insistiu Abdelilah Benkiranz.

Trocas comerciais em crescendo
De desenvolvimento das trocas comerciais entre as duas margens do Mediterrâneo, neste caso entre Portugal e Marrocos, se falou esta segunda-feira no Palácio das Necessidades onde, durante a manhã, decorreram as reuniões da XII cimeira luso-marroquina.  “Desde 2010 duplicámos o valor das nossas exportações e também duplicou o número de empresas portuguesas a trabalhar no mercado marroquino”, revelou Passos.

“Podemos fazer mais e melhor, proximamente, e sem querer definir números, poderemos chegar a mil milhões de euros nas exportações”, prognosticou o governante português: “Temos um grande potencial para crescer.” O chefe do Governo de Marrocos também foi optimista. “Temos de recuperar o tempo perdido, acelerar as relações, a proximidade geográfica entre as duas capitais [Rabat é a capital mais próxima de Lisboa] deve encorajar a essa melhoria”, enfatizou Benkiranz.

Foram assinados acordos nas áreas da Energia, Turismo, Transportes e Linhas Marítimas, embora não tenham sido avançadas consequências concretas. Mas especial atenção mereceu a criação de um observatório para o desenvolvimento das relações económicas. “Permitirá identificar as oportunidades de negócio, como já ocorreu com a constituição de observatórios com outros países”, admitiu Pedro Passos Coelho.

Marrocos sempre insiste na importância dos acordos comerciais com a UE e faz pressão sobre Bruxelas. Por vezes, segundo críticas da diplomacia comunitária, aliviando as suas políticas de controlo da imigração que passa pelo seu território. “Para nós, a Europa começa em Espanha, à esquerda há um país que nos é mais próximo, que é Portugal”, disse o primeiro-ministro marroquino. Desta forma, o chefe do Governo de Rabat sintetizou uma situação: a vantagem de Portugal não ter sido potência colonizadora de Marrocos.