Rei zulu inverte discurso e pede fim da violência contra imigrantes na África do Sul

Cerca de 6000 pessoas ouviram o discurso do rei, que é acusado de ter despoletado a onda de violência xenófoba. Antes da sua intervenção, a multidão vaiou os representantes de outros países.

Foto
Rei zulu tentou contrariar o ambiente de xenofobia de que é acusado de espoletar AFP

“Convoquei este imbizo para dar início a uma guerra, uma guerra real contra a violência dirigida contra cidadãos nacionais de outros países”, disse o rei zulu a uma multidão de cerca de 6000 pessoas reunidas no Estádio Moses Mabhida, em Durban, região onde faleceram pelo menos quatro das sete vítimas mortais que se contaram desde o início dos confrontos.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“Convoquei este imbizo para dar início a uma guerra, uma guerra real contra a violência dirigida contra cidadãos nacionais de outros países”, disse o rei zulu a uma multidão de cerca de 6000 pessoas reunidas no Estádio Moses Mabhida, em Durban, região onde faleceram pelo menos quatro das sete vítimas mortais que se contaram desde o início dos confrontos.

Esta não é a primeira vez que o rei zulu apela ao fim da violência desde o seu discurso no final de Março. Goodwill Zwelithini afirmou inicialmente que nunca se referira a cidadãos estrangeiros nos seus discursos. Mas, depois de terem surgido gravações do evento, Zwelithini alterou o tom e passou a acusar os órgãos de comunicação de terem colocado as suas declarações fora do contexto. Uma acusação que renovou nesta segunda-feira.

“Há uma terceira força para a qual devemos olhar”, disse Zwelithini, referindo-se aos media sul-africanos depois de ter afirmado que aceitava, por sua parte, a investigação em curso por parte da Comissão Sul-Africana dos Direitos Humanos ao discurso em que alegadamente exigiu que a população imigrante abandonasse o país.

O rei zulu, contudo, não deixou de se referir ao tema da imigração no país. “O Governo também se deve pronunciar e ser muito claro sobre como as pessoas de fora do país se devem integrar”, disse Zwelithini, citado pela televisão eNCA. Zwelithini manteve assim a postura de alerta sobre “algumas das actividades conduzidas por estrangeiros”, como afirmara na sexta-feira um seu porta-voz.

Tom contrariado
Mas a multidão de 6000 pessoas que assistiram ao “imbizo antixenofobia” – o termo é dos media sul-africanos – contrariou o tom do discurso oficial dos responsáveis zulus e mostrou que a animosidade contra imigrantes africanos poderá resistir à retórica de apaziguamento. Antes de Goodwill Zwelithini, no Estádio Moses Mabhida o tom mais marcante era, precisamente, o de um sentimento de repúdio contra cidadãos estrangeiros.

A multidão entoou cânticos xenófobos e vaiou os oradores que, antes do rei zulu, discursaram e apelaram ao fim da violência contra a comunidade estrangeira no país. O tom de conflito foi evidente. Antes de Zwelithini, falaram representantes de outros países africanos e membros da religião muçulmana, judaica e hindu. Todos foram vaiados. 

Até Mangosuthu Buthelezi, um dos mais destacados líderes políticos nas negociações para o fim do apartheid na África do Sul e número dois da monarquia zulu – o seu cargo é comparável ao de primeiro-ministro do reinado de Goodwill Zwelithini –, ouviu cânticos contra cidadãos estrangeiros à medida que apelava à integração pacífica das comunidades africanas no país.

“Os nossos irmãos e irmãs dos Estados africanos são bem-vindos no nosso meio, tal como nós, sul-africanos refugiados do apartheid, fomos bem-vindos nos seus países”, disse Buthelezi a uma multidão que lhe respondia com cânticos no tom contrário: “Eles têm de ir.”

Violência diminuiu
Houve pelo menos sete vítimas mortais e mais de 300 pessoas foram detidas desde que tiveram início os ataques contra a comunidade imigrante na África do Sul. Os ataques começaram em Durban, mas acabaram por se alastrar até aos subúrbios de Joanesburgo, que desde então se tornaram no principal palco da violência e onde foram destruídos dezenas de postos comerciais que pertenciam a cidadãos imigrantes. Com uma taxa de desemprego nos 24% (mais de 50% na camada jovem da população), a principal reivindicação para os ataques é a de que a população imigrante está a “roubar” empregos aos cidadãos naturais da África do Sul. Mais de mil pessoas já fugiram de suas casas, de acordo com a BBC.

Ao longo do fim-de-semana, registaram-se vários confrontos em diferentes cidades do país, mas, de acordo com o Governo sul-africano, a violência diminuiu nos últimos dois dias. O ministro sul-africano da Segurança do Estado, David Mahlobo, disse nesta segunda-feira à Al-Jazira que o país esteve “relativamente estável ao longo das últimas 48 horas”.

Mas as fotografias publicadas no domingo pelo Sunday Times ainda perduram. O diário sul-africano divulgou imagens do assassinato de Emmanuel Sithole, um moçambicano que vivia nos subúrbios de Joanesburgo e que foi cercado por um grupo de homens que o esfaqueou em plena luz do dia. O Governo sul-africano anunciou nesta segunda-feira que deteve os três homens envolvidos no ataque.