Vítimas de armas químicas na Síria emocionam Conselho de Segurança
Membros do órgão mais poderoso da ONU não conseguiram ficar indiferentes às imagens e aos testemunhos de médicos sírios que presenciaram um ataque com armas químicas.
“Se havia um olho seco na sala, eu não o vi.” O desabafo é da embaixadora norte-americana, Samantha Power, à saída do encontro com um grupo de médicos sírios que quis mostrar em primeira mão as consequências dos ataques com armas químicas.
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“Se havia um olho seco na sala, eu não o vi.” O desabafo é da embaixadora norte-americana, Samantha Power, à saída do encontro com um grupo de médicos sírios que quis mostrar em primeira mão as consequências dos ataques com armas químicas.
Segundo os médicos, tratou-se de um ataque em Março em Sarmin, no Noroeste do país. O primeiro sinal foi o som de helicópteros que sobrevoavam a pequena cidade na província de Idlib. Seguiram-se estrondos e um cheiro a cloro invadiu o ar. Em pouco tempo, dezenas de pessoas chegavam ao hospital em dificuldades respiratórias, contaram os médicos.
Será difícil encontrar uma reunião do Conselho de Segurança que tenha sido mais emotiva do que a desta quinta-feira à noite (madrugada de sexta-feira em Portugal Continental). “Alguns [embaixadores] estavam a chorar. Ficaram claramente afectados pelo que viram nos vídeos e pelo que ouviram”, relatou à BBC o presidente da Sociedade Médica Sírio-Americana, Zaher Sahloul, que também participou no encontro.
A Human Rights Watch documentou recentemente seis ataques em Idlib, durante os quais as forças governamentais terão usado armamento químico – um relato consistente com o que foi apresentado pelos médicos sírios. “As autoridades sírias parecem uma vez mais mostrar um completo desrespeito pelo sofrimento humano ao violarem a proibição global de armamento químico”, disse a vice-directora da organização para o Médio Oriente e o Norte de África, Nadim Houry.
Depois da exibição das imagens, os representantes dos 15 membros do Conselho de Segurança “exprimiram-se fora da linguagem diplomática”, conta Sahloul. “Muitos deles disseram que isto é chocante e que os responsáveis devem ser trazidos à justiça.”
E é aqui que a emotividade volta a dar lugar ao cálculo diplomático. Os Estados Unidos, o Reino Unido e a França acusam as forças ao serviço do regime do Presidente, Bashar al-Assad, de usar armas químicas no combate contra os rebeldes. “Todas as provas mostram que [os ataques] vêm de helicópteros – só o regime de Assad é que tem helicópteros”, argumentou Samantha Power.
A Rússia, aliada de Assad, defende que as provas apresentadas são insuficientes para que se possa atribuir a autoria dos ataques ao Exército sírio.
Com o veto assegurado de Moscovo, “qualquer acção do Conselho de Segurança da ONU parece praticamente impossível”, escrevia o editor diplomático da Al-Jazira, James Bays, a partir de Nova Iorque.
O máximo que foi alcançado foi um voto de condenação pelo uso de armas químicas na guerra civil síria, sob a forma de uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança a 6 de Março, precisamente dez dias antes do ataque relatado pelos médicos.
A missão conjunta da Organização para a Proibição das Armas Químicas (OPAQ) e da ONU para eliminar o arsenal químico na Síria foi concluída a 30 de Setembro. A OPAQ está agora a investigar no terreno os ataques em Idlib.
As forças governamentais leais a Assad têm investido nos últimos dias na reconquista de Idlib, controlada desde há um mês pelos rebeldes. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos – que tem uma grande rede de recolha de informação no terreno – comunicou que foram feitos pelo menos 120 raides aéreos sobre Idlib e partes controladas pelos rebeldes em Alepo.