O medo nunca morre
Os pesadelos estão para a vida como o sono está para o sonho.
Acordo a meio da noite, levanto-me e vou trabalhar durante uma hora ou duas. As luzes do escritório e do computador consolam-me. Ajuda-me, depois da incapacidade dos pesadelos - de não poder influenciar os terrores que me acontecem - a capacidade ridícula mas segura de determinar o que vou ler, escrever, ouvir ou ver.
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Acordo a meio da noite, levanto-me e vou trabalhar durante uma hora ou duas. As luzes do escritório e do computador consolam-me. Ajuda-me, depois da incapacidade dos pesadelos - de não poder influenciar os terrores que me acontecem - a capacidade ridícula mas segura de determinar o que vou ler, escrever, ouvir ou ver.
A última vez que sofri por causa de pesadelos que me interrompiam as noites e entravam pelas manhãs tinha eu cinco ou seis anos.
Ser pequenino é não ter poder, para além do poder duvidoso e auto-destrutivo da manipulação, que deixa toda a gente mal.
Agora - não só adulto como já velho - posso levantar-me e, como dizem os mais inteligentes contra os estúpidos, enfrentar os meus entediantes mas irritantemente bem-intencionados demónios.
O medo nunca morre. Nunca crescemos. Julgamos que ficamos crescidos mas a única, inútil verdade é que fomos andando, de ano para ano e de idade para idade, enaltecendo a ilusão venenosa de estarmos a progredir.
Os pesadelos estão para a vida como o sono está para o sonho: nada acontece - ou pode acontecer - como previmos ou queríamos que acontecesse.
As minhas noites - interrompidas e violadas por violências que nunca conseguem justificá-las - continuam a ser infantis, com todos os piores e melhores sentidos daquele adjectivo; desta palavra.
Há luxos que doem muito.