Jean-Marie Le Pen afasta-se e dá lugar à neta nas eleições regionais
Novo capítulo na guerra geracional da extrema-direita francesa: Marion Maréchal-Le Pen, mais à direita do que a tia Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, foi escolhida pelo avô para o substituir como cabeça de lista.
O afastamento de Jean-Marie, de 86 anos, vem ao encontro do que era reclamado pela direcção da Frente Nacional (FN) depois da entrevista que deu à revista de extrema-direita Rivariol, em que defendia o regime colaboracionista de Vichy, durante a II Guerra, e criticava o caminho de abertura e normalização do partido seguido pela filha.
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O afastamento de Jean-Marie, de 86 anos, vem ao encontro do que era reclamado pela direcção da Frente Nacional (FN) depois da entrevista que deu à revista de extrema-direita Rivariol, em que defendia o regime colaboracionista de Vichy, durante a II Guerra, e criticava o caminho de abertura e normalização do partido seguido pela filha.
“Fizemos um trabalho imenso para ganhar credibilidade, para nos implantarmos no terreno, que é minado pelas derrapagens repetidas do sr. Le Pen… Ele faz parte de outra geração e devia aceitá-lo”, disse ao Le Monde Damien Guttierez, conselheiro eleito pelo departamento do Var, nas eleições do mês passado.
Mas o velho Le Pen, já ameaçado com um processo disciplinar que pode levar à sua expulsão do partido, afirmou em entrevistas sucessivas, que “uma FN gentil não interessa a ninguém” e apontou o dedo a quem considera estar por trás deste desvio ideológico da FN: Florian Philippot, um jovem politólogo no topo da hierarquia do partido, muito próximo de Marine Le Pen, co-responsável pela estratégia de renovar o discurso do partido, tornando-o mais soberanista, em vez de racista, e mais social, chegando a sectores do eleitorado em que antes não entrava.
A sua neta, que já confirmou que quer ser cabeça de lista nesta região do Sul de França, é tida como mais próxima politicamente do avô do que da tia. Marion Maréchal-Le Pen, de 25 anos, é a mais jovem deputada da Assembleia Nacional. Teve uma posição mais dura face ao casamento para todos – o casamento homossexual – do que a linha oficial da FN, é mais liberal em matéria económica e, disse o investigador Jean-Yves Camus ao Le Figaro, “oferece uma linha bastante compatível com uma direita dos valores descomplexada”. Por outro lado, tem já raízes eleitorais na região e não tem um passado de afirmações polémicas, como o avô, sublinha este especialista na extrema-direita.
"Há duas sensibilidades na FN. Marion Maréchal encarna a linha nacional-conservadora que assume claramente ser de direita”, diz Camus. Esta corresponde mais claramente aos eleitores da região PACA, o eleitorado tradicional da FN. “Outra fracção sociológica do eleitorado frontista quer ultrapassar as clivagens direita-esquerda. Esta é a linha de Florian Philippot, que continua a privilegiar o ‘nem direita nem esquerda’”, prossegue. Estes são os eleitores do Norte e do Nordeste, os novos votantes em Marine Le Pen, os eleitores desiludidos com os socialistas, por exemplo.
O peso da FN na região PACA não é menosprezável: há um ano, nas eleições europeias, Jean-Marie Le Pen obteve 28% dos votos.
Num momento de divisões do partido pode ainda haver novas surpresas: o eurodeputado Bruno Gollnisch anunciou a intenção de se tornar cabeça de lista por esta região nas eleições de Dezembro de 2015. É um pouco estranho, pois este veterano é um próximo de Jean-Marie Le Pen. Mas talvez o velho guerreiro da extrema-direita francesa não esteja a mostrar as cartas todas nem aos seus colaboradores mais chegados, nesta guerra contra a filha pela alma do partido que fundou em 1972.