Costa perdido e não achado

António Costa continua no meio de uma desordem crescente, que tarde ou cedo dará cabo dele.

Costa é conduzido exclusivamente pelas suas emoções: berra quando se irrita ou julga que vai impressionar o “povo”; explica numa voz normal o que não o comove. O resultado é que o cidadão comum não o leva a sério. O ar de improvisação e de amadorismo anula a importância e a pertinência de qualquer declaração. No fim, fica sensação de que o homem se esganiça e se agita por puro desespero.

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Costa é conduzido exclusivamente pelas suas emoções: berra quando se irrita ou julga que vai impressionar o “povo”; explica numa voz normal o que não o comove. O resultado é que o cidadão comum não o leva a sério. O ar de improvisação e de amadorismo anula a importância e a pertinência de qualquer declaração. No fim, fica sensação de que o homem se esganiça e se agita por puro desespero.

E, de facto, desde que chegou a secretário-geral, Costa acumula erros sobre erros. A autoridade que ele tem hoje sobre o PS talvez seja muita e muito forte. Infelizmente, cá de fora, o que se vê é um barco aos bordos, com a tripulação em revolta. Para começar, a ideia de congeminar em segredo um “cenário macroeconómico” e um programa eleitoral, que sairão do chapéu miraculosamente em Maio, não lembra ao diabo. O eleitorado não percebe nada de macroeconomia (ou de outra qualquer) e, em quarenta anos, nunca leu um programa eleitoral. E, naturalmente, a consequência deste extraordinário exercício, que se destinava, e destina, a exibir responsabilidade e preparação, acabou por ser um vácuo, que a “esquerda” do partido e a extrema-esquerda fora do partido encheram com a sua costumada algazarra. António Costa não conseguiu até agora meter na cabeça de um único português a mais vaga ideia do que pode esperar dele.

Tanto mais quanto ele deixou que a questão das presidenciais se misturasse com a campanha das legislativas. De repente, apareceram candidatos como cogumelos. Uns claramente de direita, que Costa devia ter excluído em grosso, sem espécie de comentário. Outros do PS e arredores, que ele devia ter tratado com a mesma simpatia inócua – e solenemente avisado de que ele próprio escolheria o candidato dele, quando achasse oportuno. A força necessária para ganhar a maioria e o país não é mais do que a força acumulada pela demonstração pública de uma vontade que não se deixa desviar do essencial. Mas, no estado a que as coisas chegaram, António Costa continua no meio de uma desordem crescente, que tarde ou cedo dará cabo dele.