Nóvoa não acredita que Europa volte a ter grande crescimento económico
Candidato à Presidência da República critica “retrocesso educativo” dos últimos anos.
O candidato à Presidência da República, que já tem o apoio expresso de algumas figuras do PS, mas é também contestado por outras, participou este sábado numa conferência organizada pela concelhia socialista de Vila Franca de Xira. O tema principal foi a educação e o ex-reitor considerou que, nos últimos anos, “houve um retrocesso grave na educação em Portugal”.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
O candidato à Presidência da República, que já tem o apoio expresso de algumas figuras do PS, mas é também contestado por outras, participou este sábado numa conferência organizada pela concelhia socialista de Vila Franca de Xira. O tema principal foi a educação e o ex-reitor considerou que, nos últimos anos, “houve um retrocesso grave na educação em Portugal”.
Sampaio da Nóvoa acha que o modelo de educação seguido na Europa desde o século XVIII está esgotado e que, nas próximas décadas, vamos assistir a uma mudança profunda. “A aprendizagem, no espaço de 10/20/30 anos vai sofrer uma revolução como provavelmente não existe desde o século XVIII. Vamos ter que elaborar outras dinâmicas de aprendizagem muito distintas das que conhecemos do século XX. O espaço escolar vai ser ocupado de outras formas. Vai haver uma desmaterialização dos espaços escolares e a ideia dos horários escolares e das aulas vai desaparecer”, previu, considerando que todo o modelo educativo que conhecemos vai ser posto em causa.
Depois, o antigo reitor da Universidade de Lisboa criticou abertamente a política educativa do Governo. “Constatamos um retrocesso grave na educação em Portugal”, observou, considerando que tem havido uma excessiva aposta no “ler, escrever e contar”, descurando outras dimensões como as vertentes artística e filosófica.
“É o empobrecimento que, muitas vezes, resulta de uma atitude pedagógica em que, a certa altura, só vale ler, escrever e contar, em detrimento das restantes áreas. E quando os exames se transformam num factor de exclusão, estamos no pior de dois mundos”, acrescentou, preconizando uma maior autonomia de todos os agentes educativos.
Mas Sampaio da Nóvoa acredita que tudo isto está, também, relacionado com a evolução da economia e não augura grande crescimento para a Europa. “Poderíamos gostar imenso disso, mas provavelmente não vai haver grande crescimento económico na Europa nos próximos 30 a 50 anos. Não vamos ter grandes possibilidades de crescimento, de ter muito mais riqueza, por razões que têm a ver com os equilíbrios do mundo", preconizou.
"Seria ilusório pensar que, passada esta crise, vamos ter políticas de crescimento. Mas, num certo sentido, isto pode não ser totalmente negativo”, afirmou, admitindo que esta ideia, aparentemente paradoxal, pode não ser fácil de explicar.
“As últimas décadas foram de crescimento, que se fez muito pela exploração de uma certa desigualdade e de um esgotamento dos recursos do planeta, à custa do modo de vida e de consumos que não são sustentáveis, nem desejáveis no futuro”, defendeu Sampaio da Nóvoa, estimando que nem dois planetas Terra chegariam para manter esta evolução dos consumos de mais de 7 mil milhões de habitantes.
“Talvez haja outros valores e outras maneiras de viver e de nos relacionarmos que não precisem desta espécie de crescimento. E a educação, nas últimas décadas, esteve muito ligada a uma educação na perspectiva do crescimento, de mais riqueza, de mais dinheiro, de mais consumo, de mais bens materiais. Hoje precisamos de ser capazes de viver melhor com menos. De viver melhor e de forma mais igual”, rematou.