A inédita revisão histórica ucraniana
Ilegalizar os símbolos soviéticos e condenar à prisão quem os exiba é uma ideia errada de democracia.
Envolvida numa guerra que ainda não terminou, e da qual ainda ouviremos falar durante bastante tempo, a Ucrânia encontrou uma maneira estranhamente original de exorcizar a etapa comunista do seu passado: proibir, e punir mesmo com penas de prisão entre cinco e dez anos, todos aqueles que exibirem símbolos soviéticos e nazis. A lei, aprovada pelo parlamento mas ainda carente de ratificação presidencial, levará ainda a uma minuciosa “purga” global, incluindo estátuas, monumentos e nomes de ruas. Levada à letra, esta lei conduzirá fatalmente à dissolução do Partido Comunista da Ucrânia (sobre o qual, aliás, pende um processo de dissolução por parte do poder actual, que se arrasta nos tribunais) e, implicitamente, à prisão dos seus membros. Se é deste modo que a Ucrânia dirigida por Poroshenko tenciona agradar à União Europeia, engana-se. Apesar da terrível história do comunismo e dos crimes cometidos em seu nome, os símbolos soviéticos são hoje vistos como restos inofensivos de que passado que a esmagadora maioria rejeita. É raro o país ex-soviético onde tais símbolos não são objecto de comércio popular, em feiras. Mesmo no Leste da Alemanha reunificada essas heranças da era comunista são vendidas aos turistas, sobrevivendo praças, estátuas e edifícios do tempo soviético, como parte da sua história. Se o derrubar de tais símbolos durante uma revolução ou rebelião popular se podia entender (condenando ou não tais actos) no contexto de uma mudança violenta de regime, o apagamento da história por via de uma lei de carácter repressivo só pode vir a acirrar ainda mais os ânimos entre ucranianos e pró-russos, que coexistem (embora cada vez menos pacificamente) no mesmo território. Um comunismo “ao contrário” é tudo aquilo de que a Europa não precisa na Ucrânia. Se algo se perdeu na tradução, durante os processos de “namoro” político, é bom lembrar, aqui, o que significa democracia.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Envolvida numa guerra que ainda não terminou, e da qual ainda ouviremos falar durante bastante tempo, a Ucrânia encontrou uma maneira estranhamente original de exorcizar a etapa comunista do seu passado: proibir, e punir mesmo com penas de prisão entre cinco e dez anos, todos aqueles que exibirem símbolos soviéticos e nazis. A lei, aprovada pelo parlamento mas ainda carente de ratificação presidencial, levará ainda a uma minuciosa “purga” global, incluindo estátuas, monumentos e nomes de ruas. Levada à letra, esta lei conduzirá fatalmente à dissolução do Partido Comunista da Ucrânia (sobre o qual, aliás, pende um processo de dissolução por parte do poder actual, que se arrasta nos tribunais) e, implicitamente, à prisão dos seus membros. Se é deste modo que a Ucrânia dirigida por Poroshenko tenciona agradar à União Europeia, engana-se. Apesar da terrível história do comunismo e dos crimes cometidos em seu nome, os símbolos soviéticos são hoje vistos como restos inofensivos de que passado que a esmagadora maioria rejeita. É raro o país ex-soviético onde tais símbolos não são objecto de comércio popular, em feiras. Mesmo no Leste da Alemanha reunificada essas heranças da era comunista são vendidas aos turistas, sobrevivendo praças, estátuas e edifícios do tempo soviético, como parte da sua história. Se o derrubar de tais símbolos durante uma revolução ou rebelião popular se podia entender (condenando ou não tais actos) no contexto de uma mudança violenta de regime, o apagamento da história por via de uma lei de carácter repressivo só pode vir a acirrar ainda mais os ânimos entre ucranianos e pró-russos, que coexistem (embora cada vez menos pacificamente) no mesmo território. Um comunismo “ao contrário” é tudo aquilo de que a Europa não precisa na Ucrânia. Se algo se perdeu na tradução, durante os processos de “namoro” político, é bom lembrar, aqui, o que significa democracia.