Estado fica com acções dos bancos que usarem regime dos impostos diferidos
Ministra das Finanças recusa ideia de que haverá uma “borla fiscal” ao comprador do Novo Banco.
"Quando os bancos têm a possibilidade de transformar estes impostos por activos diferidos em créditos fiscais, o Estado fica com o valor equivalente a 110% desse montante em acções", afirmou a ministra das Finanças no Parlamento, durante uma interpelação ao Governo do PCP.
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"Quando os bancos têm a possibilidade de transformar estes impostos por activos diferidos em créditos fiscais, o Estado fica com o valor equivalente a 110% desse montante em acções", afirmou a ministra das Finanças no Parlamento, durante uma interpelação ao Governo do PCP.
Maria Luís Albuquerque respondia ao deputado de Os Verdes José Luís Ferreira e foi depois novamente confrontada com a questão dos impostos diferidos pela deputada do BE Mariana Mortágua. "Como é que este país, que diz que não há dinheiro para devolver salários, não tem dinheiro para devolver pensões, não tem dinheiro para pagar serviços públicos, pode comprometer-se a dar uma borla fiscal no futuro de 2865 milhões de euros ao novo comprador do Novo Banco?", questionou Mariana Mortágua.
Segundo a deputada bloquista, pode chegar-se ao "absurdo" de haver "um banco ou uma empresa que vem dar 2 milhões de euros por um banco que tem lá dentro um crédito sobre o Estado que vale 2865 milhões". "É um negócio da China, não há dúvida. Para quem é que é um bom negócio? É um bom negócio para quem compra o Novo Banco ou é um bom negócio para quem vende o Novo Banco?", interrogou.
"Disse aqui que estes créditos se podiam transformar em propriedade, presumo então que o Estado tenha acções do Novo Banco no valor dos créditos fiscais que lá tem?", questionou ainda. Na resposta, a ministra das Finanças afirmou que se o Governo desse ao Novo Banco 2,8 mil milhões em créditos fiscais "os investidores por esse mundo fora devem ser extraordinariamente burros porque até acham que só vão pagar 2 mil milhões por uma coisa que tem 2,8 mil milhões lá dentro".
"Tenho alguma dificuldade em perceber essa visão de mercado que só a senhora deputada vê e o mercado aparentemente não vê. E explico porquê: nós não demos 2,8 mil milhões de créditos fiscais, o que está reconhecido é a possibilidade de transformar em créditos fiscais este valor, se o banco tiver prejuízos nos próximos anos que permitam a conversão em créditos fiscais e que não é na totalidade dos prejuízos de cada ano, é com regras claras", argumentou.
De acordo com a ministra, se os bancos o fizerem, "isso dá ao Estado o direito de converter, de ter acções, diluindo os restantes accionistas, de valor equivalente a 110%". "Ainda não temos acções ao Novo Banco porque ainda não lhes demos nada, ainda não lhes demos créditos fiscais. Eles podem ter uma conversão no futuro e nessa altura é que nós poderemos ter acções. Como por enquanto não lhes demos nada é natural que não tenhamos nada em troca", afirmou.
Na quarta-feira, Comissão Europeia confirmou ter pedido informações a Portugal e a outros três Estados-membros sobre regimes de impostos diferidos, estando agora a analisar as respostas já recebidas para determinar se foram prestadas ajudas estatais ilegais à banca.
O assunto esteve em destaque na conferência de imprensa diária da Comissão na quarta-feira, depois de o Financial Times noticiar que Bruxelas está a considerar abrir uma investigação para determinar se quatro países do sul da Europa, designadamente Grécia, Itália, Portugal e Espanha, prestaram ilegalmente garantias a bancos que acumularam activos considerados de fraca qualidade no resto da zona euro.
Em Junho do ano passado, o Governo português aprovou alterações legislativas que passaram a permitir a conversão em créditos fiscais dos activos por impostos diferidos acumulados pelas empresas – quer por via de imparidades de crédito quer pelos benefícios atribuídos aos empregados (como os fundos de pensões) –, numa medida que pretendia sobretudo ajudar os bancos a cumprirem os rácios de capital exigido pelos reguladores.