O bluff diplomático e a falta de dinheiro
Há uma pergunta que nesta altura ninguém se atreve a fazer em Atenas e em Bruxelas.
O que vai acontecer à Grécia a partir de Junho? É uma pergunta de muitos mil milhões de euros.
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O que vai acontecer à Grécia a partir de Junho? É uma pergunta de muitos mil milhões de euros.
Por estes dias já se percebeu que, com mais ou menos esforço, mais ou menos diplomacia, os gregos devem conseguir chegar a acordo com os credores oficiais para prolongar o actual programa de resgate que termina em Junho. O ministro da Economia já deu indicações de que o “acordo deverá ficar fechado na semana da Páscoa” (os ortodoxos celebram a Páscoa no próximo domingo) e os gregos devem finalmente receber o cheque de 7,2 mil milhões da troika. Em troca disponibilizam-se a fazer reformas que se calhar poucos acreditam ser exequíveis mas, talvez vencidos pelo cansaço, ou temendo um Grexident (uma saída acidental ou inadvertida da zona euro), os parceiros europeus já não deverão esticar muito mais a corda.
Os cofres de Atenas começam a ficar vazios – desde Agosto do ano passado que o país não recebe um cêntimo dos credores oficiais – e não é por acaso que na semana passada o ministro do Interior veio sugerir que o Governo preferiria pagar salários e pensões do que fazer o reembolso de 450 milhões ao FMI que vence esta quinta-feira. Provavelmente não iremos assistir a nenhum default já que à boa maneira europeia tudo se há-de resolver à última hora.
Passada esta fase de maior aperto de tesouraria, chegará a hora de responder à pergunta de um milhão de dólares que neste momento tanto aflige os gregos. E a resposta é clara: se os juros não sofrerem uma correcção brusca no espaço de três meses, a Grécia vai continuar arredada dos mercados e vai necessitar de um terceiro resgate. E resta saber como é que Yanis Varoufakis e Alexis Tsipras estão em condições de negociar (e de aguentar a negociação) de um novo resgate, que irá exigir concessões que irão ao arrepio de todas as promessas eleitorais feitas pelo Syriza. Sendo que nesta altura já são poucas as que se mantêm incólumes.
Numa tentativa de não colocar toda a diplomacia no mesmo cesto, Alexis Tsipras vai esta quarta-feira a Moscovo provavelmente falar com Vladimir Putin sobre a flexibilização das restrições sobre os produtos alimentares gregos. Mas Tsipras quer que os parceiros europeus (e americanos, ainda ontem Varoufakis esteve com o responsável do Tesouro norte-americano para os Assuntos Internacionais) olhem para a Rússia como uma possível fonte alternativa de financiamento para Grécia. Algo que já se percebeu que Vladimir Putin não será.
Neste périplo diplomático pelos ‘inimigos dos meus amigos’, Antonis Samaras até já veio dizer que Tsipras também terá procurado apoio de Teerão para comprar dívida pública helénica. Atenas procura nesta altura todos os trunfos a que possa deitar mão para que possa chegar a Junho com algum poder negocial. Nem que tenha de fazer bluff diplomático.