Grécia dá sinais contrários mas anuncia pagamento que vence na próxima semana
Governo de Atenas parece falar num duplo registo, o que não pode ser dissociado das negociações em curso com os credores internacionais.
A afirmação – feita quando os cofres gregos estão cada vez mais vazios – destina-se a acalmar os receios de incumprimento e não pode ser dissociada das negociações em curso com os credores internacionais. A crer em sucessivas declarações, o Governo grego parece falar num duplo registo.
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A afirmação – feita quando os cofres gregos estão cada vez mais vazios – destina-se a acalmar os receios de incumprimento e não pode ser dissociada das negociações em curso com os credores internacionais. A crer em sucessivas declarações, o Governo grego parece falar num duplo registo.
A meio da semana, foram divulgadas declarações do ministro do Interior, Nikos Voutsis, em que este sugeria que se os credores internacionais não libertassem verbas do programa de assistência financeira que falta concluir, a Grécia não pagaria a tempo o empréstimo de cerca de 450 milhões de euros que vence no dia 9, optando por pagar salários e pensões. O risco iminente de incumprimento do pagamento de dívida, que provocou quase instantaneamente grande nervosismo nos mercados, levou o Governo a negar, pouco depois, a intenção de não pagar ao FMI.
Atenas desmentiu também informações de fonte anónima veiculadas pela agência Reuters, segundo as quais, nareunião do grupo de trabalho do Eurogrupo de quarta-feira, os gregos teriam dito aos congéneres da moeda única que o país ficaria sem dinheiro a 9 de Abril. O representante helénico teria afirmado que um acordo sobre as reformas não deveria ser um entendimento post mortem. “Não há forma de podermos ir para além de 9 de Abril”, teria dito, segundo um responsável da Zona Euro.
Alegado plano B
Mas o cenário de incumprimento não desapareceu da imprensa internacional: na quinta-feira, o jornal britânico The Telegraph escreveu que a Grécia está paralelamente a trabalhar num plano que passaria pela nacionalização do seu sistema bancário e pela introdução de um novo dracma – a antiga moeda helénica. Isto, no caso de as negociações com as instituições credoras falharem e os parceiros da Zona Euro não aliviarem as suas exigências.
“Somos um Governo de esquerda. Se tivermos de escolher entre o incumprimento ao FMI ou o incumprimento com o nosso povo, a escolha é fácil”, disse um responsável governamental não identificado pelo jornal. “Estão a tentar pôr-nos numa posição em que ou ficamos em incumprimento com o nosso povo ou assinamos um acordo que é politicamente tóxico para nós.” Responsáveis do partido disseram estar conscientes das reacções que uma falta de pagamento ao FMI poderia provocar.
Por entre afirmações não assumidas e desmentidos, a Spiegel – que tinha já divulgado as declarações do ministro do Interior sobre risco de default – citou o secretário-geral do Ministério das Finanças, Nikos Theocharakis, como tendo dito que a Grécia estaria “perto do fim” e, provavelmente, não pagaria ao FMI na próxima semana. A informação, antecipada nesta sexta-feira pela Reuters, a partir um artigo da revista alemã a publicar este sábado, motivou novo desmentido de Atenas.
O financiamento à Grécia está congelado à espera de um acordo sobre reformas. E as preocupações com a falta de liquidez do tesouro de Atenas crescem a cada dia que passa. Como observa a agência noticiosa, a Grécia não recebe fundos do programa de assistência financeira desde Agosto de 2014. Em Maio chegam novos prazos para pagamentos.
O novo Governo, liderado pelo partido Syriza, espera que uma lista de reformas que apresentou na quarta-feira à Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI desbloqueie os 7,2 mil milhões de euros da última prestação do seu segundo resgate, e conduza à devolução de cerca de 1,9 mil milhões de euros de lucros realizados pelo BCE com a dívida grega.
Mas a lista é considerada pelos credores um “trabalho em progresso”, longe de ser “satisfatório”. Estão previstas novas discussões no dia 8, mas não há qualquer garantia de obtenção de um acordo. Atenas propôs uma melhoria em 2015 do excedente orçamental primário face ao ano passado, com base em medidas para aumentar rapidamente a receita do Estado, em valores que mais do que compensariam o acréscimo da despesa pública, com medidas como o pagamento do 13.º mês aos pensionistas com reformas mais baixas, retirado no início dos programas da troika.
Com este braço-de-ferro em fundo, no dia das próximas negociações, 8 de Abril, véspera de vencer o prazo de pagamento ao FMI, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, tem uma deslocação prevista a Moscovo. O Governo grego disse que, naquela que é a primeira visita à Rússia desde que foi eleito, Tsipras não vai pedir ajuda. Citado pela Reuters, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, considerou prematuro falar em assistência financeira à Grécia.
Na agenda das discussões com o Presidente russo, Vladimir Putin, não deixarão, porém, de estar as relações económicas e as sanções da União Europeia à Rússia, motivadas pela guerra no Leste da Ucrânia. “As relações entre Moscovo e a União Europeia serão discutidas à luz da política de sanções de Bruxelas e da ‘atitude muito fria para com essa política' por parte de Atenas”, disse o porta-voz.