Se o Irão tivesse mesmo a bomba, o mundo seria mais perigoso ou mais equilibrado?
Combate à proliferação pode ter contradições.
Leslie Gelb, presidente emérito do influente think tank Council on Foreign Relations, colocava Waltz, que morreu em 2013, aos 88 anos, ao mesmo nível de importância que Henry Kissinger, Samuel Huntington ou Zbigniew Brzezinski, outras figuras grandes da área das relações internacionais. Waltz expôs as suas ideias provocatórias sobre o Irão num artigo na revista Foreign Affairs (editada pela organização liderada por Gelb) em 2012, no qual defendeu que tem sido “o arsenal nuclear de Israel, e não o desejo do Irão por ter o seu próprio arsenal, que contribuiu para a actual crise” do Médio Oriente. “O poder, afinal de contas, precisa de ser equilibrado. O que é surpreendente, no caso de Israel, é que tenha levado tanto tempo a surgir uma potencial força de reequilíbrio.”
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Leslie Gelb, presidente emérito do influente think tank Council on Foreign Relations, colocava Waltz, que morreu em 2013, aos 88 anos, ao mesmo nível de importância que Henry Kissinger, Samuel Huntington ou Zbigniew Brzezinski, outras figuras grandes da área das relações internacionais. Waltz expôs as suas ideias provocatórias sobre o Irão num artigo na revista Foreign Affairs (editada pela organização liderada por Gelb) em 2012, no qual defendeu que tem sido “o arsenal nuclear de Israel, e não o desejo do Irão por ter o seu próprio arsenal, que contribuiu para a actual crise” do Médio Oriente. “O poder, afinal de contas, precisa de ser equilibrado. O que é surpreendente, no caso de Israel, é que tenha levado tanto tempo a surgir uma potencial força de reequilíbrio.”
Waltz defendia que o risco de um Irão nuclear tem sido “grosseiramente exagerado e que o debate tem sido distorcido por preocupações deslocadas e incompreensões fundamentais de como os Estado normalmente funcionam no sistema internacional”.
Teme-se que o Irão arme terroristas com bombas nucleares; que actue de forma mais agressiva com os seus vizinhos, incluindo Israel ou os países sunitas – como a Arábia Saudita, que pelo menos no último ano começou a considerar de forma mais séria a possibilidade de adquirir bombas nucleares ao Paquistão, cuja investigação tem ajudado a financiar, noticiaram vários media norte-americanos. “Mas, mesmo que esteja muito espalhada a ideia contrária, a política iraniana não é concebida por mullahs loucos, é antes por ayatollahs perfeitamente sãos que querem sobreviver, como quaisquer outros líderes”, escreveu o analista na Foreign Affairs.
O sistema actual de vigilância da proliferação nuclear, herdado dos anos 1950, após a II Guerra Mundial, quando os Estados Unidos usaram duas bombas atómicas sobre o Japão e verificaram o imenso poder destrutivo desta nova arma, baseia-se na presunção de que haveria uma corrida louca de todos os países para a obter. Num discurso de 1961, o então Presidente francês Charles de Gaulle dizia que um “grande Estado” que não tenha armas nucleares “não é senhor do seu destino”.
No entanto, se os vencedores da II Guerra – e a China – conseguiram desenvolver a bomba atómica, houve a preocupação de impedir que mais países chegassem a ela. Começaram as negociações, no âmbito das recém-criadas Nações Unidas, para a Agência Internacional de Energia Atómica (AEIA) e para o Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares (que só entrou em vigor em 1970).
A moeda de troca oferecida para que os países não investissem no desenvolvimento de armas nucleares foi a oferta de assistência – e de combustível – às nações que desejassem aposta na energia nuclear civil. Era esse o objectivo do programa norte-americano Atoms for Peace. Mas a exploração da energia atómica e a produção de bombas são entrelaçadas e interdependentes, concluiu logo em 1946 uma comissão com cientistas e responsáveis do projecto Manhattan – que construiu a bomba atómica americana – criada nos EUA para debater o futuro do nuclear. “Não há perspectivas de travar a guerra nuclear através de acordos internacionais para banir essas armas controlados apenas por um sistema de inspecções e policiamento”, disseram os cientistas.
Foi assim que o nuclear chegou ao Irão, no tempo do tempo do Xá, quando o país ainda se chamava Pérsia, de 1957 a 1979, embora a Alemanha e a União Soviética também tenham ajudado o país.
O Irão assinou o Tratado de Não Proliferação das Armas Nucleares, mas os investigadores da AEIA descobriram que tinha um programa de investigação que não revelava à comunidade internacional, violando assim as condições do tratado, e que tinha como objectivo a construção de bombas atómicas. Teerão sempre afirmou que o seu objectivo era apenas desenvolver as suas capacidades de produzir energia nuclear para aplicações civis. E fazem questão de produzir no Irão o combustível nuclear – o urânio enriquecido –, que é a parte mais difícil de todo o processo, e também uma das maiores preocupações da comunidade internacional.
A continuação da investigação tecnológica em áreas que possam estar relacionadas com o armamento é outra preocupação das potências ocidentais com armas atómicas, que não querem ouvir falar de mais proliferação atómica.
Ainda que, como dizia Kenneth Waltz, o Médio Oriente esteja a precisar de um contraponto para que a contenção nuclear funcione ali, tal como funcionou a nível global, com os Estados Unidos e a Rússia, durante a Guerra-Fria. “Se o Irão conseguir o nuclear, Israel e o Irão vão deter-se um ao outro, como as potências nucleares sempre fizeram”, defendia.