Faltam estratégias para combater abandono no ensino superior, diz rede europeia

Portugal é apontado pela Eurydice como um dos países onde universidades com estratégias de combate ao insucesso não recebem mais por isso.

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"Há poucos países com estratégias claras e objectivos quantificáveis para atacar o problema" do abandono e insucesso no superior Daniel Rocha

“Apesar dos níveis de abandono no ensino superior serem inaceitáveis em muitos casos, há poucos exemplos de países com estratégias claras e objectivos quantificáveis para atacar o problema”, prossegue o relatório Modernização do Ensino Superior na Europa: acesso, retenção e empregabilidade.

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“Apesar dos níveis de abandono no ensino superior serem inaceitáveis em muitos casos, há poucos exemplos de países com estratégias claras e objectivos quantificáveis para atacar o problema”, prossegue o relatório Modernização do Ensino Superior na Europa: acesso, retenção e empregabilidade.

Mais: os países não procuram sequer analisar os percursos dos estudantes depois de abandonarem o ensino superior, de modo a perceber as razões do abandono. Estima-se que em média, no espaço europeu, um em cada três estudantes que inicia um programa de estudos superiores não o termina — o que é considerado “um desperdício do ponto de vista humano e financeiro”.

Dados recentemente divulgados pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciências do Ministério da Educação e Ciência (MEC) mostram que 11,8% dos alunos portugueses que se matricularam pela primeira vez em 2011 numa licenciatura no ensino universitário público já não frequentavam em 2012 o ensino superior — no politécnico, a taxa era de 12,6%.

Contactado pelo PÚBLICO, sobre a falta de apoio ao combate ao abandono, relatado pela rede Eurydice, o MEC fez saber que tem feito “um esforço para aumentar as bolsas de estudo”, de 58.818, em 2012/2013, para 60.190, em 2014/15 (números provisórios). E que para lidar especificamente com o problema do abandono, lançou no ano passado o programa Retomar. Objectivo: fazer com que jovens que tenham estado inscritos no superior e desistido voltem às universidades e institutos politécnicos. Para isso, o Estado dá-lhes 1200 euros anuais. E a instituição onde ingressam recebe, por seu lado, um “apoio à graduação” de 300 euros, para desenvolver um acompanhamento mais próximo — disponibilizando um tutor, por exemplo. Houve menos de 500 candidaturas à primeira leva destas bolsas.

Um dos objectivos da estratégia EUROPA 2020 para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo é que 40% da população entre os 30 e os 34 anos tenha formação superior ou equivalente em 2020. Atingir esse objectivo não é apenas uma questão de números, diz o relatório da rede Eurydice. Passa pela “composição social da população que frequenta o ensino superior”. Portugal também aparece representado como sendo um dos países onde não há estratégias e metas focadas em grupos específicos da população e como um dos que não consegue fornecer informações sobre a evolução na última década da composição social do universo dos seus alunos — alunos de meios socioeconómicos desfavorecidos, deficientes, adultos, migrantes...

O documento refere exemplos onde acontece de modo diferente, caso da Irlanda, que conseguiu triplicar entre 2004 e 2012 o número de pessoas com deficiência a frequentar o ensino superior (passaram de 2% do universo de alunos para 6%); da Escócia, onde a proporção de alunos de meios socioeconómicos desfavorecidos passou de 14,2% para 15,1% entre 2003 e 2011; ou da Lituânia, que estabeleceu como meta fazer subir a participação de mulheres em cursos de ciências e matemática.

A rede Eurydice nota que seria “razoável esperar que os governos nacionais recompensassem as instituições de ensino superior que conseguissem recrutar e manter estudantes de grupos sub-representados”, mas que não é essa a regra. Só acontece na Irlanda e no Reino Unido.

A Eurydice deixa ainda uma recomendação: diversificar os sistemas de acesso ao ensino superior é importante para atingir os objectivos de aumentar o número de estudantes e diversificar os que conseguem chegar ao superior. Portugal é referido pela positiva: é um dos países onde existem diversas vias de acesso (caso do concurso de acesso específico para maiores de 23 anos).