Madeira no ano zero do pós-jardinismo
Eleições de hoje podem resultar num parlamento mais plural. Fora da Quinta Vigia, Jardim vigiará.
Pela primeira vez em quatro décadas, os madeirenses vão escolher um novo parlamento regional sem a sombra tutelar de Alberto João Jardim nos boletins de voto. Até aqui, a força do PSD-Madeira confundia-se com o poder do seu auto-eternizado líder. Dizia-se que os madeirenses não votavam no partido, votavam em Jardim. Votavam num homem que, em discursos tonitruantes, lhes garantia vitórias contra o “Estado colonial” do continente, ao qual se atribuíam todas as culpas pelos erros externos e internos. Ao anunciar a sua retirada no PSD, Alberto João contava com a vitória de um seu seguidor, um “delfim” que lhe continuasse a obra e, em menor medida, o estilo. Não lhe saíram bem os cálculos. O vencedor foi Miguel Albuquerque, um dos seus críticos. E é este que, hoje, vai tentar provar nas urnas que o PSD-Madeira é mais do que um homem e também pode ser um partido. Dar-lhe-ão os madeirenses o benefício da dúvida? Seja como for, o afastamento da sombra tutelar de Jardim para uma segunda linha da ribalta política (ele sai da Quinta Vigia mas ninguém duvida que continuará de vigia) abriu portas a várias outras forças políticas, a novas alianças, a uma revisão de estratégias. É como se, pela primeira vez, se abrisse diante dos madeirenses um espectro partidário dissonante, pejado de contradições e divergências, boas intenções e demagogias, mas liberto da velha “escolha única”. No voto, e no que dele resultar, os madeirenses vão experimentar os efeitos de uma outra democracia. Sem tutores providenciais, mas com eleitos à escala dos eleitores, aos quais vai ser possível pedir contas sem que eles as reenderecem, em efeito de ricochete, a um outro poder mais além no Atlântico.
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Pela primeira vez em quatro décadas, os madeirenses vão escolher um novo parlamento regional sem a sombra tutelar de Alberto João Jardim nos boletins de voto. Até aqui, a força do PSD-Madeira confundia-se com o poder do seu auto-eternizado líder. Dizia-se que os madeirenses não votavam no partido, votavam em Jardim. Votavam num homem que, em discursos tonitruantes, lhes garantia vitórias contra o “Estado colonial” do continente, ao qual se atribuíam todas as culpas pelos erros externos e internos. Ao anunciar a sua retirada no PSD, Alberto João contava com a vitória de um seu seguidor, um “delfim” que lhe continuasse a obra e, em menor medida, o estilo. Não lhe saíram bem os cálculos. O vencedor foi Miguel Albuquerque, um dos seus críticos. E é este que, hoje, vai tentar provar nas urnas que o PSD-Madeira é mais do que um homem e também pode ser um partido. Dar-lhe-ão os madeirenses o benefício da dúvida? Seja como for, o afastamento da sombra tutelar de Jardim para uma segunda linha da ribalta política (ele sai da Quinta Vigia mas ninguém duvida que continuará de vigia) abriu portas a várias outras forças políticas, a novas alianças, a uma revisão de estratégias. É como se, pela primeira vez, se abrisse diante dos madeirenses um espectro partidário dissonante, pejado de contradições e divergências, boas intenções e demagogias, mas liberto da velha “escolha única”. No voto, e no que dele resultar, os madeirenses vão experimentar os efeitos de uma outra democracia. Sem tutores providenciais, mas com eleitos à escala dos eleitores, aos quais vai ser possível pedir contas sem que eles as reenderecem, em efeito de ricochete, a um outro poder mais além no Atlântico.
Neste jogo, as oposições apostam a desafios a solo ou em alianças, e desse modo vão também definir o seu futuro no curto prazo. Se o PSD, sem Jardim, recuperar algo do que entretanto perdeu em votações anteriores, a pulverização dos seus adversários há-de ser-lhe útil. Se, pelo contrário, a ausência de Jardim lhe trouxer ainda menos votantes, será na oposição que se urdirão alianças, de modo a clarificar qual deles poderá, a prazo, ser na verdade o “número dois” no alinhamento dos partidos (lugar que o PS quererá tirar ao CDS, que garantiu o “título” nas legislativas de 2011) e se algum dia, a partir desse posto, se constituirá em alternativa de governo. Para já, beneficiando ainda do “efeito Jardim” (da longa ascensão à súbita e calculada queda), é o PSD-M que parte em vantagem. Alberto João, prestes a partir para as suas habituais férias no Porto Santo, tem na manga várias cartas para o futuro: a Fundação Social Democrata, de que é presidente: o movimento FAMA (“Fórum para a Autonomia da Madeira”), que em última instância poderá vir a transformar-se em partido (mediante a evolução do PSD-M, certamente). Porém, daqui até ao dia da posse do novo governo, projectada para 25 de Abril próximo, é ele ainda o presidente em exercício. E vai continuar, até lá, em “despedida”. Depois, começa o ano zero do pós-jardinismo. Que será decidido hoje.