Europol preocupada com apps de mensagens mais seguras

Reforço da segurança após as revelações de Edward Snowden dificulta trabalho dos serviços secretos. Defensores da privacidade dizem que a culpa é dos programas de vigilância em larga escala.

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O mercado das aplicações mais seguras cresceu após as revelações de Edward Snowden Dado Ruvic/Reuters

O galês Rob Wainwright afirma que a dificuldade em descodificar essas comunicações "tornou-se no maior problema para a polícia e para as agências de serviços secretos que têm de lidar com as ameaças do terrorismo".

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O galês Rob Wainwright afirma que a dificuldade em descodificar essas comunicações "tornou-se no maior problema para a polícia e para as agências de serviços secretos que têm de lidar com as ameaças do terrorismo".

"A própria natureza do contraterrorismo mudou, deixando de ser um trabalho assente numa boa capacidade para monitorizar as comunicações", disse o director da Europol no programa 5 Live Investigates, da BBC Radio 5.

Vários responsáveis de agências de serviços secretos e outras organizações com responsabilidades no combate ao terrorismo, como a Europol, têm criticado o reforço da segurança nas comunicações na Internet, promovida por grupos de activistas mas também por gigantes da tecnologia como a Apple e o Google e por empresas mais pequenas, que lançam aplicações e programas para serem usados em telemóveis e computadores pessoais.

Apesar de já existirem há alguns anos – e de a encriptação de comunicações ser uma realidade com várias décadas –, a revelação dos programas de vigilância da Agência de Segurança Nacional norte-americana pelo antigo analista Edward Snowden, no Verão de 2013, veio alargar o mercado das aplicações seguras, e obrigou empresas como a Apple, o Google e a Microsoft a responderem às exigências de privacidade de muitos dos seus clientes.

Apesar de aplicações como o WhatsApp ou o Facebook Messenger estarem entre as mais usadas, existem outras mais seguras, fortalecidas com várias camadas de protecção – Chatsecure, Surespot ou Telegram são apenas alguns exemplos; a organização sem fins lucrativos Electronic Frontier Foundation tem um ranking que avalia o grau de segurança dessas aplicações.

Ferramenta essencial
Poder comunicar de forma mais segura é uma ferramenta essencial para jornalistas ou activistas dos direitos humanos em países com regimes particularmente repressivos e violentos, mas essas aplicações estão também a ser usadas por grupos terroristas para radicalizarem jovens um pouco por todo o mundo.

Numa primeira fase, grupos como o autoproclamado Estado Islâmico usam blogues, o Facebook ou o Twitter para transmitirem os seus ideais. Depois disso, quando a mensagem consegue passar e alguém manifesta vontade de falar com mais pormenor sobre possíveis viagens para a Síria, por exemplo, os responsáveis pelo recrutamento dão instruções aos potenciais jihadistas para instalarem aplicações mais seguras – que os serviços secretos têm mais dificuldade em descodificar.

O equilíbrio entre a privacidade e o acesso às comunicações no combate ao terrorismo é a solução defendida pela maioria dos especialistas, mas em termos técnicos essa solução não tem passado das boas intenções – os defensores do direito à privacidade culpam mesmo as próprias empresas de tecnologia e as agências de serviços secretos pela dificuldade em resolver ou minimizar esse problema.

"A questão é que nos últimos dez anos a Internet tem sido construída por empresas interessadas em garantir que as nossas vidas são um livro aberto. Os governos têm vindo a beneficiar disso, ao porem em prática programas de vigilância em massa", disse à BBC Gus Hosein, director da organização britânica Privacy International.

"Ao fim de anos de pressão, por causa das revelações de Edward Snowden, as empresas estão a acordar e a perceber que a função delas é criar uma Internet segura, e não um livro aberto."

Vigilância em massa
Os defensores da privacidade na Internet lembram que a encriptação é um pilar da economia actual, garantindo a segurança das actividades comerciais e das transacções bancárias, por exemplo. "A verdade é que teríamos de desligar a Internet tal como a conhecemos para que os serviços secretos pudessem ter tudo o que querem. Seria necessário desligar toda a segurança em termos de registos médicos, cartões de crédito, toda a nossa vida, para satisfazermos as necessidades dos serviços secretos", afirma Gus Hosein.

Para o director da Privacy International, "o que as agências de serviços secretos têm perdido nos últimos meses é a sua capacidade para levarem a cabo uma vigilância em massa, algo que nunca deveriam ter feito".

Mas o director da Europol avisa que o reforço da segurança na Internet "abre uma lacuna em termos de capacidades" por parte de quem investiga possíveis actos de terrorismo ou a radicalização de jovens, apesar de defender que a polícia e os serviços secretos não devem poder entrar nos servidores de empresas como o Facebook directamente – com ou sem o conhecimento dessas empresas.

"Temos de alcançar o equilíbrio certo que garanta os princípios fundamentais da privacidade, por isso as empresas de tecnologia e os legisladores têm muito trabalho pela frente", conclui Rob Wainwright.