Nigéria tem mais um dia para escolher o próximo Presidente
Votação foi adiada para domingo em algumas zonas do país devido a problemas técnicos. No Nordeste, os islamistas do Boko Haram mataram pelo menos 14 pessoas.
Muitos dos mais de 65 milhões de eleitores nigerianos não conseguiram ver confirmada a sua identidade em várias assembleias de voto – um passo essencial para que possam escolher os seus candidatos.
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Muitos dos mais de 65 milhões de eleitores nigerianos não conseguiram ver confirmada a sua identidade em várias assembleias de voto – um passo essencial para que possam escolher os seus candidatos.
Este ano, pela primeira vez, os eleitores receberam antecipadamente um cartão com os seus dados biométricos (como a altura, a fotografia e a impressão digital), mas isso era apenas um dos requisitos para poderem votar.
Depois de esperarem horas em filas separadas – homens para um lado e mulheres para o outro; os mais idosos antes de todos –, os eleitores tiveram de apresentar o cartão e deixar uma impressão digital numa máquina portátil, que confirmava as suas identidades.
Cumpridas essas duas formalidades da parte da manhã, os eleitores voltaram às respectivas mesas de voto após o almoço, para poderem, finalmente, votar nos seus candidatos preferidos.
Mas este novo sistema de votação acabou por dar problemas um pouco por todo o país, e levou a Comissão Nacional de Eleições a estender o acto eleitoral até domingo.
"Nas assembleias de voto em que a acreditação foi suspensa, foram tomadas medidas para garantir que os eleitores possam votar amanhã [domingo], em cumprimento das orientações em vigor", disse aos jornalistas o porta-voz da comissão nigeriana, Chris Yimoga.
O responsável garantiu que não houve problemas na maioria dos locais de voto, mas até o actual Presidente foi vítima das falhas do sistema. Apesar de ter conseguido obter a acreditação para votar, Goodluck Jonathan teve de repetir a impressão digital durante 50 minutos, segundo o correspondente da BBC na capital, Abuja.
Ataques do Boko Haram
Como já se esperava, houve episódios de violência no Nordeste do país, na região ainda controlada pelo Boko Haram. Pelo menos 14 pessoas foram mortas em três ataques de militantes do grupo jihadista, incluindo um político da oposição.
Apesar das ameaças, milhares de nigerianos do Norte do país, de maioria muçulmana, não abdicaram do direito ao voto. Em Maiduguri, a capital do estado de Borno, palco de dezenas de ataques e atentados suicidas nos últimos dois anos, as forças de segurança fizeram notar a sua presença e tranquilizaram muitos eleitores.
"Não tenho medo da violência. Tal como a maioria das pessoas, decidi apostar numa mudança na governação, e isso só é possível através do meu voto", disse à agência Reuters Kaulala Abbas, de 27 anos.
Nesta zona do país, onde a barbárie do Boko Haram fez pelo menos 13.000 mortos e 1,5 milhões de deslocados desde 2009, muitos nigerianos viram-se impedidos de votar por terem fugido para outros estados – a lei nigeriana obriga os eleitores a votar nos estados em que residem.
Mas alguns dos que fugiram aos massacres dos islamistas (os que continuam a viver nos seus estados, mas em campos de refugiados) puderam votar, graças a uma alteração à lei aprovada no início do ano.
Roda Umar, habitante de Gwoza, uma cidade reconquistada na sexta-feira pelo Exército nigeriano, é uma das muitas pessoas que quer ver o actual Presidente pelas costas. "Já sofremos muito, fugimos das nossas casas depois de muitos ataques. Não podemos ficar sentados no campo [de refugiados] à espera que as coisas melhorem. As coisas só podem melhorar se eu votar contra este Governo", disse Roda Umar.
Concorrem à Presidência da Nigéria 14 candidatos, mas só dois têm hipóteses de ganhar – o Presidente em exercício, o cristão Goodluck Jonathan, e o muçulmano Muhammadu Buhari, um antigo militar que liderou um país durante um ano e meio na primeira metade da década de 1980.
O Partido Popular Democrático, do Presidente Goodluck Jonathan, pode perder as eleições pela primeira vez desde 1999, ano que marcou o fim de décadas de juntas militares e sucessivos golpes de Estado. Apesar de contar com o apoio da maioria cristã no Sul do país, Jonathan passou a ser visto pelos muçulmanos do Norte como uma figura fraca e impotente para travar os massacres dos islamistas, que são temidos e desprezados pela esmagadora maioria dos nigerianos, sejam cristãos ou muçulmanos.
O seu principal adversário, Muhammadu Buhari, conseguiu unir vários partidos da oposição e é visto por muitos como um líder forte e íntegro – com força para esmagar os islamistas e honestidade para varrer a corrupção. Contra ele tem o seu passado como líder do país durante 18 meses, entre finais de 1983 e Agosto de 1985. Durante esse tempo, lançou a sua Guerra Contra a Indisciplina, com polícias a chicotear pessoas que não respeitavam filas e funcionários que chegavam tarde ao trabalho a serem obrigados a fazer agachamentos em frente aos colegas.