Nova desilusão nos ratings: Fitch mantém Portugal no nível “lixo”
Expectativa de subida da nota dada a Portugal não se confirmou porque a Fitch está mais pessimista em relação ao potencial de crescimento da economia.
Existia a expectativa que a Fitch se tornasse esta sexta-feira na primeira das três maiores agências de rating internacionais a fazer regressar Portugal ao nível “investimento”, que é conseguido a partir de um rating BBB-, saindo do nível “lixo” em que o país caiu durante a crise da dívida soberana.
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Existia a expectativa que a Fitch se tornasse esta sexta-feira na primeira das três maiores agências de rating internacionais a fazer regressar Portugal ao nível “investimento”, que é conseguido a partir de um rating BBB-, saindo do nível “lixo” em que o país caiu durante a crise da dívida soberana.
Havia alguns motivos para optimismo. Afinal de contas, a Fitch tinha colocado há já um ano o rating português sob uma perspectiva “positiva”, a forma que as agências têm de anunciar que uma subida da classificação durante os próximos meses é possível.
No entanto, a perspectiva “positiva” não se transformou desta vez numa subida de rating efectiva. No comunicado publicado esta sexta-feira à noite, a Fitch explica porquê.
Em primeiro lugar, a agência diz que “os objectivos do Governo para a redução do défice orçamental estão em risco". Não acredita que Portugal consiga confirmar este ano o défice de 2,7% prometido pelo Executivo, nem sequer que este fique abaixo dos 3%, colocando o país fora do procedimento por défice excessivo. A previsão da Fitch é de um défice de 3,1%, o que é considerado mais grave porque é o resultado de “uma pausa na consolidação do défice estrutural”, isto é, do verdadeiro esforço do Governo para equilibrar as contas públicas.
Depois, a agência assinala que “os progressos no reequilíbrio da economia foram mais lentos do que o esperado quando a perspectiva foi revista para ‘positiva’ em Abril de 2014”. Apesar de reconhecer que foram feitas reformas estruturais em áreas como o mercado laboral, a Fitch diz que o crescimento da economia ainda vai ser muito limitado pelo elevado nível de endividamento do sector privado e pelos baixos níveis de competitividade.
É por isso que, apesar de prever uma variação do PIB de 1,5% no decorrer deste ano, a agência reduziu agora a sua estimativa para o crescimento potencial da economia portuguesa de 1,5% para 1,25%. Uma das causas por trás deste maior pessimismo é o facto de “o investimento se manter demasiado baixo para sustentar o stock de capital”, um aviso que também foi feito recentemente pelo FMI no rescaldo da sua última missão em Portugal.
Estes dois factores — défice possivelmente acima das previsões do Governo e crescimento potencial mais reduzido — fazem com que a Fitch esteja menos optimista em relação à trajectória da dívida pública portuguesa, que vê apenas a começar a reduzir-se este ano e apenas graças à redução dos depósitos acumulados entretanto pelo Tesouro.
A evolução do peso da dívida pública no PIB é fundamental para uma agência de rating, já que o objectivo destas ao dar uma classificação a um Estado é o de indicar qual a verdadeira capacidade deste para pagar a sua dívida no futuro.
A boa notícia deste relatório da Fitch é a de que, além de manter o rating, a agência manteve também a perspectiva “positiva”. Isto é, a promessa de uma possível subida da nota nos próximos meses continua a estar presente.
O cumprimento da meta do défice em 2014, a confirmação de um acesso mais fácil e barato ao financiamento nos mercados e o facto de “nenhum partido anti-euro ou populista ter atraído um apoio significativo nas sondagens” são os motivos dados pela agência para continuar a colocar a hipótese de melhoria do rating português.