Director do Macba demite-se depois da polémica com escultura de Juan Carlos sodomizado
Foi aberto um concurso internacional para a escolha do novo director do Museu de Arte Contemporânea de Barcelona.
A decisão foi tomada nesta segunda-feira numa reunião extraordinária que durou várias horas, convocada para tratar a crise que se abateu sobre o museu. Bartomeu Marí não quis expor a peça da artista austríaca Inés Doujak e do britânico John Barker, que no ano passado foi apresentada na Bienal de São Paulo, no Brasil, cancelando a exposição La bèstia i el sobirà, na qual 31 artistas se propõem desmontar as lógicas do poder.
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A decisão foi tomada nesta segunda-feira numa reunião extraordinária que durou várias horas, convocada para tratar a crise que se abateu sobre o museu. Bartomeu Marí não quis expor a peça da artista austríaca Inés Doujak e do britânico John Barker, que no ano passado foi apresentada na Bienal de São Paulo, no Brasil, cancelando a exposição La bèstia i el sobirà, na qual 31 artistas se propõem desmontar as lógicas do poder.
Rapidamente foi acusado de censura e de ceder a pressões internas. O então director alegou que Haute couture 04 Transport era “inapropriada e contrária à linha programática do museu”, cuja fundação tem a mulher de Juan Carlos, Sofía, como presidente honorária – um dos motivos para se ter falado de pressões por parte da Casa Real.
A escultura em causa mostra Juan Carlos nu e de joelhos sobre um amontoado de capacetes da elite SS Nazi. O antigo titular da coroa espanhola está a vomitar enquanto parece ser sodomizado por uma líder feminista boliviana que, por sua vez, é penetrada por um cão.
Nem a decisão de abrir a exposição, no passado sábado, valeu a Bartomeu Marí a redenção. Multiplicaram-se os pedidos de demissão do director, tanto vindos de profissionais das artes como de indivíduos, grupos e associações de outros sectores da sociedade. Os próprios trabalhadores do Macba emitiram um comunicado em que, para além da abertura da exposição, exigiam a revisão do modelo de direcção do museu. Marí pôs então o seu lugar à disposição, alegando ter actuado em função dos interesses do museu.
Uma nova etapa
Nesta segunda-feira, Jaume Siurana, vereador da Cultura da Câmara de Barcelona, falou aos jornalistas na qualidade de presidente e porta-voz da comissão que tutela o museu, revelando que além de a demissão de Bartomeu Marí ter sido aceite, os comissários da exposição, Valentí Roma, conservador do museu, e Paul Preciado, chefe de programas públicos, cessam também funções.
“O Macba decidiu abrir uma nova etapa na vida do museu para que, como entidade pública, assuma a responsabilidade de transmitir a arte contemporânea, de oferecer uma multiplicidade de visões e de gerar debates críticos sobre a arte e a cultura”, disse Jaume Siurana.
Bartomeu Marí continuará no museu, onde trabalha há 11 anos, sete dos quais como director, apenas até ao seu sucessor estar escolhido, através de concurso internacional. O vereador da Cultura lamentou ainda que a situação tenha chegado a este ponto e que não tenha sido possível um diálogo com o director agora demissionário, que decidiu abrir a exposição três dias após o previsto, já depois de a polémica ter ganho grandes proporções. “É evidente que isto não foi bem gerido, caso contrário não estaríamos todos aqui.”
Com a abertura de um concurso internacional para a direcção do Macba, a comissão que tutela o museu espera abrir uma nova etapa na instituição, depois de tantos anos com Marí como director.
La bestia y el soberano continuará aberta até 30 de Agosto, viajando depois para o Württembergischer Kunstverein de Estugarda, co-produtor da exposição com o Macba.