Medicamento para a hepatite C associado a morte de doente nos EUA
Óbito foi registado em doente que tomava um fármaco para a arritmia. Regulador do medicamento nos Estados Unidos passou agora a recomendar que os dois tratamentos não sejam feitos em conjunto.
A informação, que consta do site do organismo que regula o sector do medicamento nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), aplica-se tanto ao sofosbuvir da Gilead como ao medicamento da mesma farmacêutica que chegou depois e que junta o sofosbuvir com uma outra substância, o ledipasvir. Ambos ficaram conhecidos pela polémica que geraram em todo o mundo devido ao preço elevado por tratamento, mas trouxeram a contrapartida de maior segurança e eficácia do que as alternativas que existiam até ao final de 2013, com muitos efeitos secundários e hipóteses de cura modestas.
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A informação, que consta do site do organismo que regula o sector do medicamento nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), aplica-se tanto ao sofosbuvir da Gilead como ao medicamento da mesma farmacêutica que chegou depois e que junta o sofosbuvir com uma outra substância, o ledipasvir. Ambos ficaram conhecidos pela polémica que geraram em todo o mundo devido ao preço elevado por tratamento, mas trouxeram a contrapartida de maior segurança e eficácia do que as alternativas que existiam até ao final de 2013, com muitos efeitos secundários e hipóteses de cura modestas.
Agora, a FDA emitiu um alerta em que explica que os doentes que estiverem a tomar amiodarona, um antiarrítmico utilizado para equilibrar as pessoas cujo coração bate de forma irregular, não devem ser tratados com os fármacos inovadores para a infecção causada pelo vírus da hepatite C. A conjugação dos inovadores com os medicamentos para a arritmia provocou nove casos de bradicardia, isto é, de diminuição do ritmo cardíaco que obrigaram à colocação de pelo menos três pacemakers nos doentes. Numa das situações foi mesmo registado um óbito e o alerta terá sido dado pela própria Gilead, refere a agência Bloomberg.
As pessoas que tomem outros medicamentos conhecidos como betabloqueantes, utilizados geralmente na hipertensão, também têm riscos acrescidos. “A bradicardia ocorreu de forma geral em poucas horas ou dias, mas em alguns casos observou-se até duas semanas depois de se ter iniciado o tratamento para a hepatite C”, acrescenta a FDA. O tratamento para a hepatite C demora entre oito a 12 semanas, mas pode prolongar-se até 24 semanas. Caso o médico defenda que o benefício de continuar com o tratamento é maior do que o risco, a FDA recomenda uma monitorização muito apertada dos doentes e até mesmo o internamento.
O PÚBLICO pediu mais esclarecimentos à Autoridade Nacional do Medicamento, mas não obteve resposta. Já a Gilead em Portugal garantiu que "as normais actividades de farmacovigilância decorrem em colaboração com as agências reguladoras e com a comunidade médica, com a regularidade prevista" e que a "monitorização tem por base a utilização destes medicamentos na prática clínica", reforçando que 200 mil pessoas já os receberam em todo o mundo, mais de 1000 em Portugal.
No caso de Portugal as negociações para estes novos fármacos demoraram mais de um ano e o acordo para o país conseguir tratar todos os doentes a um preço que o Serviço Nacional de Saúde conseguisse pagar acabou por só chegar em Fevereiro, numa altura que ficou marcada pela morte de uma mulher que aguardava pelo medicamento e por um apelo de um doente feito directamente ao ministro da Saúde na Assembleia da República, durante uma comissão parlamentar de saúde.
Os últimos dados do Infarmed, do início de Março, apontam para que as novas terapêuticas já tenham chegado a mais de 1400 doentes, num ritmo que tem vindo a crescer diariamente. Nessa altura, o coordenador da subespecialidade de hepatologia da Ordem dos Médicos alertava ao PÚBLICO que a hepatite C precisa de um plano nacional como existe para o VIH/sida, para poder dar melhor acompanhamento aos doentes. Rui Tato Marinho justificava que em 10% dos casos há efeitos secundários que é preciso seguir de perto. “Não basta meter gente nos aviões, é preciso pilotos para os pilotar”, ilustrava.
Ao contrário de outros países, Portugal assumiu o compromisso de tratar todos os doentes com hepatite C no período de três anos, sendo que em troca só paga por aqueles que ficarem efectivamente curados, já que os medicamentos prometem ser eficazes em mais de 95% dos casos. Nos hospitais públicos estão registados cerca de 13 mil doentes com esta doença que afecta o fígado e que evoluiu para casos de cirrose, cancro e falência hepática.