Os 12 alquimistas de Costa
Académicos e gestores. Governantes experimentados e altos-quadros da função pública. É a partir desta mistura que António Costa pretende preparar as suas propostas económicas para o programa eleitoral socialista.
Desde Novembro que se juntam todas as semanas, às vezes durante um dia inteiro, no Parlamento. A intenção é entregar ao líder do PS uma estimativa da evolução de um conjunto de variáveis económicas e avançar com hipóteses de intervenção na presente situação portuguesa. O compromisso é que essas hipóteses sejam entregues com uma justificação, um cálculo do seu custo e prazo de implementação. Resta saber o que vai resultar da junção deste grupo ecléctico de economistas.
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Desde Novembro que se juntam todas as semanas, às vezes durante um dia inteiro, no Parlamento. A intenção é entregar ao líder do PS uma estimativa da evolução de um conjunto de variáveis económicas e avançar com hipóteses de intervenção na presente situação portuguesa. O compromisso é que essas hipóteses sejam entregues com uma justificação, um cálculo do seu custo e prazo de implementação. Resta saber o que vai resultar da junção deste grupo ecléctico de economistas.
Mário Centeno
O assessor especial da Administração do Banco de Portugal é um economista sem ligações ao mundo político. Fez o seu percurso entre instituições públicas mas ninguém duvida do seu posicionamento mais liberal. Acumula as responsabilidades no banco central com o ensino no ISEG, e o seu currículo inclui a passagem pela Universidade de Harvard. É sobre o mercado do trabalho que Centeno tem avançado com propostas inovadoras. No ensaio “O Trabalho, uma visão de mercado” critica a “segmentação” que se verifica entre os que beneficiam da rigidez do Código do Trabalho e os que vivem sob a ameaça de uma forte flexibilidade. Defendeu a implementação de um contrato único mas simples e flexível, a criação de um seguro de desemprego com conta individual para cada trabalhador e associando a taxa de contribuição das empresas em função do número de trabalhadores que despedem.
Vieira da Silva
O ex-ministro é o pai da reforma que nem a direita se atreve a criticar. A revisão que coordenou, em 2006, à Segurança Social foi citada como de referência pela OCDE e FMI. A fórmula encontrada para o cálculo das pensões tem sido defendida como o garante da sustentabilidade do Sistema. A esse trunfo junta uma experiência governativa que poucos igualam. Foi ministro do Trabalho e ministro da Economia de Sócrates já depois de duas vezes secretário de Estado com Guterres. O desenrolar da tempestade perfeita que foi o triénio 2008/2011 – que viveu no epicentro do furacão – leva-o a assumir sempre posições muito prudentes na avaliação das políticas públicas que podem ser adoptadas. Não se verá nunca este deputado socialista a defender soluções radicais.
Fernando Rocha Andrade
Militante desde os 14 anos, este jurista é um homem da absoluta confiança de António Costa. Passou pela JS e desde cedo foi um dos jovens que o actual líder chamou a si. Foi adjunto do ainda autarca nos Assuntos Parlamentares e aí preparou e analisou todos os estudos que resultaram na proposta de reforma de sistema eleitoral que Costa propôs. Mais tarde foi sub-secretário de Estado da Administração Interna. O orçamento do ministério era um dos seus pelouros (além da gestão dos meios aéreos de combate aos incêndios que lhe valeu um relatório crítico do Tribunal de Constas). Nos anos que entremearam a sua actividade política dedicou-se às Finanças Públicas na Universidade de Coimbra. É aí que está actualmente. Apesar da sua proximidade à esquerda nos costumes, no debate que se trava no grupo deverá impor moderação nos ímpetos reformistas de outros conselheiros mais radicais.
Caldeira Cabral
A Universidade do Minho é vista como uma das que tem conseguido com maior sucesso levar a cabo a ligação com o tecido empresarial. É também por isso que este economista foi chamado por Costa. Foi sobre isso que discursou na Conferência da Gulbenkian, Afirmar Portugal. Aí reconheceu que os resultados económicos do investimento no ensino superior, na investigação e inovação tinham sido “insuficientes”, citando indicadores como patentes, percentagem produtos alta tecnologia, e aumento do emprego no sector da alta tecnologia. Defendeu por isso, o reforço das equipas de transferência de tecnologia e de apoio ao empreendedorismo nas universidades. Até porque esses resultados insuficientes resultavam do ponto de partida muito atrasado em Portugal. O seu discurso é moderado. Exemplo disso é o que tem dito sobre a reposição de salários e pensões. “Tem que ser feito com conta, peso e medida, e em paralelo com outras questões”, ou seja, tendo em conta o crescimento económico. As ligações ao PS já vêm de trás.
Elisa Ferreira
A eurodeputada socialista chega ao grupo dos 11 com a autoridade devida a uma veterana na já longa guerra contra as políticas de austeridade. Reconhecida internacionalmente na área económica à conta das suas propostas sobre a reestruturação da arquitectura do Euro viu tanto o comissário europeu do Mercado Interno, Michel Barnier, como o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, destacarem o seu “papel-chave” no acordo fechado sobre o mecanismo único de resolução bancária. Elisa Ferreira acrescenta também a sua experiência governativa. Foi ministra do Ambiente e, depois, do Planeamento de António Guterres.
Paulo Trigo Pereira
Nos últimos anos, este economista tem assumido visibilidade devido à frontalidade com que debate as contas públicas. É um defensor do rigor e controlo mas com declarações cada vez mais críticas à forma como o actual Governo cortou na despesa. O debate que pretende fazer centra no “peso do Estado na Economia”. Na Conferência Afirmar Portugal, realizado em Outubro do ano passado, colocou a tónica no realismo e apontou a meta de 45% desse peso até 2020, estando actualmente no 44 por cento e ficando assim longe dos 40 por cento pretendidos pelo actual Governo. Invocando sempre a inconstitucionalidade que representaria uma redução desse nível. Mas com também avisos sobre os riscos que pairam sobre as contas públicas. Por isso defende taxativamente que os salários na função pública e pensões “não podem crescer até 2019 mais do que a taxa de crescimento do PIB nominal” e que não haverá “margem para reduzir o nível de fiscalidade até 2018/2019”. É professor catedrático no ISEG e tem no seu currículo a elaboração de relatórios técnico para o Governo de José Sócrates.
Francisca Guedes de Oliveira
O que falta em visibilidade mediática a esta professora de Economia Pública da Universidade Católica do Porto sobra-lhe em frontalidade. Em 2013 publicou, em co-autoria, uma comunicação sobre o “Regate de Portugal e a Crise da UE” onde defendia, no limite da Europa não aceitar as pretensões portuguesas, o “fim do Euro e/ou saída do país” ou o “fim da UE e/ou saída do país”, em ambos os cenários “forma controlada”. Isto na eventualidade de fracassar um processo de negociação que abarcasse o memorando, a renegociação dívida soberana portuguesa ou a regulação dos mercados financeiros. As propostas por si apresentadas não se limitam às questões económicas. O “aprofundamento democrático” que propõe para a Europa implica a eleição directa de um Governo da União, a transformação do Conselho num Senado e do PE numa câmara baixa. A sua ligação à política já vem de trás. Foi mandatária para a Juventude de Jorge Sampaio em 2009.
Sérgio Ávila
A razão da presença de Ávila no grupo explica-se com o seu cargo vice-presidente e secretário das Finanças nos Açores. Foi o único dos três governos de Portugal (entre o nacional e os dois regionais) que não foi à falência durante estes anos de crise. E os números são relevantes: Défice à volta do 1% e dívida nos 20%. Já por mais de uma vez António Costa elogiou a exemplaridade financeira do Governo dos Açores. A inclusão de Ávila serve para mostrar que é possível um governo socialista capaz de gerir responsavelmente as contas públicas. É visto como rigoroso e imaginativo na procura de fundos para políticas sociais. Antes da sua entrada no executivo foi director regional da Segurança Social. Corresponde também ao peso de Carlos César na actual direcção socialista. Em termos políticos, não se antecipa que dele surjam posições mais radicais em termos de despesa pública.
João Leão
Foi até há pouco, director-geral do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério de Economia. Tem um doutoramento feito no MIT. Não sendo militante é apontado, no entanto, como um sólido economista com maior uma inclinação para a esquerda. É reconhecido o seu conhecimento na área da informação estatística e a sua experiência na direcção da administração pública. Na Conferência Gulbenkian Afirmar o Futuro, falou de Investimento, Financiamento e Competitividade. De forma implícita, a sua intervenção revelou-se como uma crítica ao actual Governo na área das exportações. Sustentou com dados económicos como os últimos anos colocavam em causa a “sustentabilidade futura do crescimento das exportações”. Assinalou a quebra no investimento, que revelou ser superior no sector das exportações. Além da necessidade de “atrair investimento directo estrangeiro”, defendeu o fomento de pólos ou clusters (uma ideia cara a José Sócrates e Manuel Pinho), considerou imperativo melhorar financiamento das empresas e propôs um “período excepcional de 5 anos” de crédito fiscal ao investimento para o sector transaccionável.
João Galamba
Em seis anos subiu de deputado independente a dirigente nacional do PS. A ascensão tem muito que ver com a combatividade revelada no hemiciclo parlamentar, palco conseguido depois de um convite de José Sócrates quando já brilhava na blogosfera. Às raízes familiares de esquerda juntou-se a formação em Economia na liberal London School of Economics. Os anos parlamentares não temperaram a veia belicosa. E continua sem abdicar das suas convicções que o colocam mais à esquerda no PS. Em Dezembro de 2014 continuava a defender que “toda e qualquer alteração às condições do pagamento da dívida aos credores - sejam juros, sejam prazos, sejam montantes - é tudo haircut". E insistia na ideia de que era possível "violar algum do espírito" do Tratado Orçamental sem incumprir a letra. Ainda assim, desde que subiu ao secretariando vai doseando com maior diplomacia as suas posições. Afinal – como já reconhecia numa entrevista em 2010 – “é fácil ser idealista nos blogues”.
João Nuno Mendes
Depois de anos afastado da actividade política, foi eleito para Comissão Politica do PS no seguimento da vitória interna de Costa. Foi secretário de Estado do Planeamento quando Elisa Ferreira estava no Governo de António Guterres. Aí teve a seu cargo a negociação e implementação do 3º Quadro Comunitário de Apoio em Portugal. Depois mergulhou a fundo no mundo empresarial. Entre 2007 e 2011 foi director de Inovação, Desenvolvimento de Negócios e Sustentabilidade do Grupo Galp Energia, onde permanece, já depois de ter passado pelo Grupo Amorim onde teve o cargo de Chief Financial Officer. É um genuíno “yuppie” que acrescenta ao grupo uma perspectiva menos académica e mais centrada na realidade dos negócios, com um enfoque no conhecimento das estratégias empresariais, no apoio ao investimento e nas dificuldades que estas enfrentam na atracção do investimento estrangeiro.
Vítor Escária
Actualmente é professor do ISEG mas é incontornável o seu papel de assessor no gabinete do primeiro-ministro José Sócrates. Foi um dos homens que acompanharam mais de perto o memorando de entendimento assinado em 2011. A sua actividade está muito ligada aos fundos estruturais. Após a saída do Governo dedicou-se à assessoria e consultoria sobre a concepção e desenvolvimento dos fundos, na óptica da sua intercepção com o investimento público e privado.