INESC TEC: há 30 anos a transformar conhecimento em valor económico
Haverá certamente outros, mas este é o modelo que podemos oferecer a todos quantos têm responsabilidades pelas políticas públicas de educação e ciência.
Entre os temas em aberto estão verdadeiros problemas mas também preconceitos enraizados no desconhecimento, todos objeto de debate quase sempre inconclusivo. As instituições de ensino superior fechadas sobre si próprias ou as empresas sem interesse na investigação, a carência ou excesso de recursos humanos altamente qualificados, o “emprego científico”, a inutilidade dos resultados de projetos de investigação que caem no “vale da morte” antes de chegar à economia e o (obviamente falso) dilema da investigação pura versus investigação aplicada, são exemplos recorrentes.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Entre os temas em aberto estão verdadeiros problemas mas também preconceitos enraizados no desconhecimento, todos objeto de debate quase sempre inconclusivo. As instituições de ensino superior fechadas sobre si próprias ou as empresas sem interesse na investigação, a carência ou excesso de recursos humanos altamente qualificados, o “emprego científico”, a inutilidade dos resultados de projetos de investigação que caem no “vale da morte” antes de chegar à economia e o (obviamente falso) dilema da investigação pura versus investigação aplicada, são exemplos recorrentes.
Os exemplos de sucesso da ciência portuguesa mostram que, apesar de tudo, houve quem conseguisse ultrapassar os constrangimentos e aproveitar o forte investimento estratégico que o país tem feito. Há cientistas, centros de I&D e empresas reconhecidos internacionalmente em muitas áreas e muitos outros que, de forma mais discreta mas não menos eficaz, têm oferecido ao país um contributo inestimável. Ao contrário do que acontecia em muitos países europeus, no Portugal dos anos 70 quase não existia sistema científico nem tecnologia nacional a gerar valor económico nas empresas. É importante, por isso, perceber o que mudou e como mudou. E, para lá das estatísticas que não contam tudo, é importante conhecer os protagonistas da mudança. Um deles foi, sem dúvida, o INESC que, nascido em Lisboa, se desenvolveu no norte do país alicerçando a sua atividade no tecido empresarial e criando no terreno soluções para muitos dos constrangimentos referidos.
Nascido do núcleo fundador do INESC no Porto, que faz agora 30 anos, o INESC Tecnologia e Ciência (INESC TEC) tem vindo a afirmar-se através de um modelo que privilegia a integração numa única instituição de atividades de investigação, desenvolvimento e transferência de tecnologia. O modelo de gestão integrada de uma cadeia de valor que transforma conhecimento em valor económico tem-lhe permitido ser um instrumento poderoso de articulação das universidades e politécnicos com o tecido empresarial e social ao qual prestam relevante serviço público.
Ao longo de três décadas, o INESC TEC levou a cabo milhares de projetos de investigação avaliada e referenciada internacionalmente, acolhendo centenas de doutoramentos e milhares de alunos de mestrado. Desenvolveu trabalho inovador para centenas de empresas portuguesas e estrangeiras e lançou empresas spin-off, atores globais com tecnologia portuguesa. Internacionalizou-se com um fortíssimo envolvimento em projetos de I&D europeus e lançou o INESC P&D Brasil, em parceria com universidades brasileiras de renome.
Os centros de I&D que formam o INESC TEC acolhem o trabalho de centenas de jovens investigadores em áreas de ponta da engenharia electrotécnica, física, ciência de computadores ou gestão, através de projetos multidisciplinares que endereçam grandes desafios societais, em domínios como energia, ambiente, produção industrial, saúde ou multimédia. E fazem-no em parceria com os beneficiários e lead-users do conhecimento produzido - empresas industriais e de serviços, administração pública, hospitais, etc. – para que o novo conhecimento daí resultante possa ter relevância social e impacto económico. É enorme o valor que decorre do facto dos investigadores terem sempre presente a preocupação em devolver à sociedade os resultados do seu investimento em ciência, seja através de financiamento público seja privado.
Como em muitos outros centros de I&D, são os professores universitários e do politécnico quem assume a condução das equipas, orienta os doutoramentos, escreve as propostas de projeto, interage com as empresas e apoia os jovens que constroem o seu negócio de base tecnológica. Como em tantos outros casos, o INESC TEC só existe e é capaz de levar a cabo com sucesso a sua missão de utilidade pública graças ao trabalho e à liderança dos docentes do ensino superior que nele contribuem para a missão das suas instituições.
Os muitos anos de trabalho lado a lado, partilhando ideais, cooperando intensamente, não permitiram que germinassem distinções artificiais entre investigadores de diferentes universidades, nem entre aqueles que abraçaram a carreira na universidade e os que, por múltiplas razões, escolheram o politécnico. No INESC TEC, os investigadores das universidades e dos politécnicos sempre trabalharam lado a lado, contribuindo igualmente para o sucesso da instituição. Foi certamente determinante ter-se desenvolvido uma cultura em que é o mérito o critério único de recrutamento e valorização, sem discriminação da origem ou nacionalidade. Aliás, sempre foi habitual acolher investigadores estrangeiros, muitos dos quais deixaram marca. Nem poderia ter sido de outra forma na ciência, uma atividade globalizada.
É este o testemunho de três décadas de uma instituição na qual pouco mais de duas centenas de docentes, da Universidade do Porto, do Instituto Politécnico do Porto, da Universidade do Minho e da UTAD, são actualmente capazes de gerar atividade e emprego científico para mais de 700 investigadores, cujo trabalho tem impacto nacional e internacional. Isso só é possível porque, tal como em outras instituições de interface, foi desenvolvido um novo modelo de gestão de ciência que alavanca a intervenção e acrescenta valor às actividades das instituições de ensino superior. Haverá certamente outros, mas este é o modelo que podemos oferecer a todos quantos têm responsabilidades pelas políticas públicas de educação e ciência, que hoje se sabe terem um impacto económico-social que vai muito para além do que se julgava.
Presidente do INESC TEC/Prof. Catedrático da Universidade do Porto