As mulheres mais poderosas da Coreia do Norte
A mulher gosta de roupas ocidentais, a irmã prefere um traje discreto. Ambas poderão vir a lutar pelo poder.
Uma exibe a sua mala Christian Dior e gosta de roupas ocidentais. A outra anda sempre com um bloquinho de notas e veste-se com fatos escuros. Estes dois opostos da moda são as mulheres mais influentes na Coreia do Norte.
A mulher de Kim Jong-un, Ri Sol-ju, e a sua irmã mais nova, Kim Yo-jong, são por enquanto aliadas no apoio a um dos líderes mais obscuros do mundo. Mas a extensa influência que exercem torna-as potenciais rivais num regime onde os laços de família não são suficientemente fortes para garantir protecção contra a tendência de Kim para as purgas.
Estas mulheres de Pyongyang permitem uma espreitadela para dentro de um regime opaco que, enquanto tenta alimentar o seu povo, é capaz de manter 1,2 milhões de homens no Exército e ameaçar os vizinhos com a destruição nuclear. Ri comanda um regimento de seguidoras entre as mulheres da elite norte-coreana, enquanto Kim Yo-jong detém agora uma alta posição dentro do Partido dos Trabalhadores e é conselheira do irmão.
“É inevitável que haja desconforto numa relação deste tipo”, comenta por telefone Kang Myong-do, genro do antigo primeiro-ministro norte-coreano Kang Song-san. “A mulher não gostará que o marido se aproxime demasiado da irmã; a irmã não gostará que o irmão se aproxime demais da mulher.”
A irmã tentará afastar Ri se a primeira-dama — uma vulgar plebeia comparada com Kim Yo-jong — procurar poder político para além da tarefa de adornar a imagem pública do marido, adianta Kang, que agora ensina estudos norte-coreanos na Universidade de Kyungmin, perto de Seul.
Kim Yo-jong escolheu ficar na sombra do irmão nos eventos públicos, enquanto Ri aparece de braço dado com Kim Jong-un. Numa fotografia publicada a 21 de Janeiro pelo diário estatal Rodong Sinmun, Kim Yo-jong esconde-se atrás do irmão, misturada numa comitiva, enquanto ele discursa numa fábrica de sapatos. Ainda assim, ela “tem muito controlo sobre quem acede ao irmão, o que lhe dizem, que documentos lhe entregam — resumindo, é uma combinação de porteiro e polícia de trânsito”, comenta Michael Madden, editor do blogue North Korea Leadership Watch.
Juntou-se ao irmão na entrega de prémios a militares numa competição da Força Aérea em Maio, o que sugere que é ela quem comanda o Departamento de Organização e Orientação do partido, que trata de tudo, desde promoções a purgas, escreve num email Cheong Seong-chang, analista sénior o Instituto Sejong, perto de Seul.
A irmã de Kim ficou ausente dos olhares públicos até ser identificada em imagens da televisão estatal no funeral do pai, em fato escuro de luto. Numas filmagens de menos de um ano depois, montava um cavalo branco ao lado da tia, Kim Kyong-hui — que não voltou a ser vista em público desde que o marido, Jang Song-thaek, que chegou a ser considerado o mentor do líder norte-coreano, foi mandado executar pelo sobrinho, em Dezembro de 2013, depois de acusações de fraude e de criar divisões internas.
Kim Yo-jong começou a aparecer mais em público depois da purga. E a Korean Central News Agency, a agência estatal de notícias, referiu-se a ela em Novembro passado como vice-directora do partido — a primeira vez que foi citada com um título formal.
A purga de Jang também pode ter fortalecido a influência de Ri junto da elite norte-coreana que deseja evitar um destino semelhante. No ano passado, Kim Jong-un mandou matar outros 50 responsáveis com base em acusações que iam de desvio de dinheiro ao crime de ter assistido a telenovelas sul-coreanas, afirmou o deputado da Coreia do Sul Shin Kyung-min em Outubro, depois de ter participado numa reunião dos Serviços Secretos.
Há relatos de mulheres da elite norte-coreana terem usado as suas ligações com Ri para “limitar o número de responsáveis demitidos dos cargos devido à purga de Jang”, afirmou Madden.
“Aquilo a que precisamos de estar atentos é se Ri Sol-ju se torna a abelha rainha entre as mulheres ou se esse papel é assumido por Yo-jong”, escreve num email. “São uma corte discreta mas influente na elite da Coreia do Norte.”
Em público, Ri garante um lado mais brando do Líder Supremo e tem sido uma presença regular na propaganda do país. Em 2005, viajou até à Coreia do Sul como membro de uma claque das equipas norte-coreanas numa competição de atletismo. Sete anos mais tarde, foi anunciada como mulher de Kim quando apareceu com ele num parque de diversões, em Julho de 2012.
Ainda assim, sabe-se tão pouco da sua relação que foi preciso a estrela do basquetebol americano Dennis Rodman revelar que o casal tem uma criança, depois de ter ido jogar a Pyongyang, em 2013. Rodman afirmou ao jornal The Guardian que segurou na mão da filha de Kim, Ju-ae, e que ele é “um bom pai e tem uma família linda”.
Citando conversas de pessoas que já estiveram numa sala com ambas as mulheres ao mesmo tempo, Madden adianta que elas parecem amáveis uma com a outra, mas sentam-se em lados opostos — Ri com o marido e Kim com altos quadros do partido.
Kim é filha da mesma bailarina nipo-coreana, Ko Yong-hui, que Kim Jong-un. Em Fevereiro de 2011, a emissora sul-coreana KBS mostrou imagens que identificou como sendo Kim Yo-jong e outro irmão, Kim Jong-chol, a divertirem-se num concerto de Eric Clapton em Singapura.
A agência Yonhap disse a 2 de Janeiro que ela se casou com um dos filhos do secretário do partido, Choe Ryong-hae, citando duas pessoas na China que não identificou e uma foto dela com uma aliança. Dias depois, o jornal Dong-A Ilbo negava a notícia.
Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post/Bloomberg