Ayatollah Ali Khamenei refreia optimismo quanto ao acordo nuclear
Discurso exaltado do Supremo Líder do Irão contra os Estados Unidos levanta dúvidas quanto ao desfecho do processo negocial em curso na Suíça.
As palavras de Khamenei, num discurso marcado pela desconfiança e animosidade contra os Estados Unidos, não podiam contrastar mais com as declarações optimistas do Presidente iraniano, do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e vários outros participantes nas negociações – que acreditam que estão muito perto de encontrar um compromisso que permita reduzir em cerca de 40% a actividade nuclear do Irão, e garantir a supervisão das suas instalações.
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As palavras de Khamenei, num discurso marcado pela desconfiança e animosidade contra os Estados Unidos, não podiam contrastar mais com as declarações optimistas do Presidente iraniano, do secretário de Estado norte-americano, John Kerry, e vários outros participantes nas negociações – que acreditam que estão muito perto de encontrar um compromisso que permita reduzir em cerca de 40% a actividade nuclear do Irão, e garantir a supervisão das suas instalações.
Antes de voar de Lausanne para Londres, para um reunião com os seus homólogos britânico, francês e alemão, John Kerry deu conta dos “progressos genuínos” da semana passada, apesar de ainda permanecerem “diferenças importantes” a ultrapassar antes da finalização do acordo. “Ainda não chegamos à linha da meta, mas todos sabemos que esta é uma oportunidade que não podemos desperdiçar. Temos decisões difíceis pela frente, que vão testar a nossa vontade política”, declarou.
Tendo em conta que é o Supremo Líder que detém a última palavra sobre todas as matérias do Estado, incluindo o acordo que está a ser negociado há 16 meses, as dúvidas ontem expressas pelo Ayatollah relativamente à postura norte-americana vieram refrear o optimismo quanto ao desfecho do processo. Com a audiência a gritar “Morte à América”, Khamenei prometeu não ceder à “intimidação” e às “imposições” dos Estados Unidos para ceder nas negociações. “Eles levantam a questão da bomba atómica, quando sabem perfeitamente que nós não queremos armas nucleares. Mas usam essa desculpa para nos pressionar, para pôr o povo contra o sistema”, criticou.
Khamenei reagia a uma mensagem do Presidente dos EUA, Barack Obama, endereçada aos líderes e à população iraniana. A pretexto do feriado de Nowruz, que assinala o ano novo, o líder norte-americano falou na oportunidade histórica que permitiria lançar uma nova era no relacionamento entre os dois países. Ao mesmo tempo, Obama advertia para as consequências do falhanço – palavras que o Ayatollah classificou como bullying contra o Irão.
Teerão sempre negou que as suas actividades nucleares sirvam para a construção de armamento, insistindo que a sua tecnologia se destina à produção de energia ou à investigação médica. Mas na impossibilidade de verificação, a comunidade internacional decidiu penalizar o regime. No fim de 2013, a braços com uma profunda crise económica, resultado da intensificação das sanções aplicadas em punição pelo desenvolvimento do controverso programa nuclear, a república islâmica dispôs-se a negociar com o chamado grupo 5+1 (EUA, Rússia, China, Reino Unido, França + Alemanha) uma solução política, aceitando a supervisão internacional em troca do levantamento das restrições económicas.
Nas suas declarações à agência estatal iraniana IRNA, o Presidente Hassan Rouhani disse que nenhuma das matérias que ainda dividem as partes pode ser considerada “irresolúvel”. O compromisso é “concretizável”, estimou, embora “o último passo seja o mais difícil”. Antes do encontro com John Kerry em Londres, o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, sublinhava que a assinatura de “um acordo robusto é do interesse de todos, sobretudo do Irão. Se não, o que temos é a proliferação”.