Espanha debate a censura a olhar para um rei sodomizado
Director do Macba volta atrás e autoriza exposição com escultura que mostra Juan Carlos numa cena sexual e escatológica.
Intitulada Haute couture 04 Transport, a escultura, que no ano passado foi apresentada na Bienal de São Paulo, no Brasil, mostra Juan Carlos nu e de joelhos sobre um amontoado de capacetes da elite SS Nazi. O antigo titular da coroa espanhola está a vomitar enquanto parece ser sodomizado por uma líder feminista boliviana que, por sua vez, é penetrada por um cão.
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Intitulada Haute couture 04 Transport, a escultura, que no ano passado foi apresentada na Bienal de São Paulo, no Brasil, mostra Juan Carlos nu e de joelhos sobre um amontoado de capacetes da elite SS Nazi. O antigo titular da coroa espanhola está a vomitar enquanto parece ser sodomizado por uma líder feminista boliviana que, por sua vez, é penetrada por um cão.
Marí considerou que a peça era “inapropriada e contrária à linha programática do museu”, cuja fundação tem a mulher de Juan Carlos, Sofía, como presidente honorária. Um dos motivos pelos quais rapidamente se falou de pressões — da parte da Casa Real — e Marí se viu acusado de censura, com os pedidos pela sua demissão a multiplicarem-se, tanto vindos de profissionais das artes como de indivíduos, grupos e associações de outros sectores da sociedade. Os próprios trabalhadores do Macba emitiram um comunicado em que, para além da abertura da exposição, exigiram a revisão do modelo de direcção do museu.
“Tudo não passa de um sintoma da situação que o Macba arrasta desde há seis anos e que deixa a instituição numa posição de fragilidade e incerteza”, diz o comunicado, citado pelo El País. “Pedimos a demissão do director por ceder a pressões caprichosas e interesses privados. Pedimos que a nova direcção possa garantir o respeito pela liberdade de expressão e a integridade democrática da instituição, defendendo a arte e os artistas”, lê-se num outro documento, tornado público por alguns dos artistas com trabalhos na exposição e que ponderam agora tomar acções legais por alegados prejuízos pelas alterações nas datas da exposição.
Por entre o crescendo da polémica, Marí fez saber que punha o seu cargo à disposição. Explicou ter considerado “muito frustrante” uma decisão que, em 25 anos de percurso, tomara pela primeira vez, acreditando estar a defender o melhor interesse do museu. “O Macba trabalha sempre com uma grande liberdade e responsabilidade e tem uma filosofia muito aberta”, referiu Marí, sublinhando, contudo, que “há mensagens que não se devem veicular a partir do museu”.
O El País recorda que, em Novembro, na qualidade de presidente do Comité Internacional para os Museu e Colecções de Arte Moderna, um órgão que reúne 380 directores e conservadores de alguns dos mais importantes museus de 63 países do mundo, este mesmo profissional assinou um documento em defesa de Manuel Borja-Villel. O director do Reina Sofia estava então no centro de uma polémica devida à exibição de uma caixa de fósforos com a inscrição “A única igreja que ilumina é a que arde”, obra do colectivo feminista argentino Mulheres Públicas. O documento assinado por Marí dizia que “as instituições artísticas são pela liberdade, o respeito e o debate, nunca para a repressão, a violência e a censura”, expressando ainda “profunda preocupação com a tentativa de censura e as acções contra a liberdade artística”.
Este sábado, o site do museu na Internet continuava a atribuir à mostra as datas de 19 de Março a 30 de Agosto, quando se supõe que a exposição viaje para o Württembergischer Kunstverein de Estugarda, co-produtor da exposição com o Macba.