Flexitarianismo: é como ser vegetariano em “part-time”
O flexitarianismo traduz um estilo de vida vegetariano em “part-time” e consiste na redução do consumo de carne e peixe, alimentos guardados para ocasiões sociais
Flexitarianismo: “vegetariano” e “flexível” num só conceito. Os adeptos deste regime privilegiam a ingestão de alimentos vegetais, relegando a carne e o peixe para ocasiões tidas como “especiais”. Também conhecida como “semi-vegetarianismo” ou “reducitarianismo” — da perspectiva do consumo de alimentos de origem animal —, esta tendência é assumida pelos seus praticantes por vários motivos.
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Flexitarianismo: “vegetariano” e “flexível” num só conceito. Os adeptos deste regime privilegiam a ingestão de alimentos vegetais, relegando a carne e o peixe para ocasiões tidas como “especiais”. Também conhecida como “semi-vegetarianismo” ou “reducitarianismo” — da perspectiva do consumo de alimentos de origem animal —, esta tendência é assumida pelos seus praticantes por vários motivos.
Mário e Brígida — 30 e 29 anos, respectivamente — dizem que “não foi uma opção consciente” e que tudo começou quando saíram de casa dos pais. Cozinhar para amigos vegetarianos foi um desafio que cedo superaram: “Procurávamos inovar, o que fez com que contactássemos com diferentes opções dentro do vegetarianismo”, contam. A longo prazo, repararam que era mais prático não incorporar carne nem peixe nas comidas que preparavam, pela planificação que exigiam e para a qual não tinham tempo. Aos poucos, estes itens foram cedendo o lugar no frigorífico de Mário e Brígida para outros, de origem vegetal.
O casal tem bastantes cuidados no que toca aos produtos que compra, mesmo os que dizem respeito à “comida vegetariana”: optam por legumes frescos de consumidores nacionais (preferencialmente locais) e excluem completamente substâncias processadas, como patés, soja, seitan e outros substitutos da carne. O motivo que justifica este critério prende-se com o facto de se tratarem de produtos de cultura intensiva, “prejudiciais ao funcionamento dos ecossistemas”. Estas regras aplicam-se também na escolha de produtos derivados dos animais — queijo, leite, ovos, mel —, que também procuram que sejam “o mais respeitadores possível”.
"Frigorífico tornou-se mais colorido”
O casal definiu directivas claras: em casa não há lugar para a carne nem para o peixe, o que não acontece fora das quatro paredes. Consideram que “o valor cultural e social da gastronomia deve ser preservado” e que, por essa razão, não podem descartar a carne e o peixe por completo. Paralelamente, acreditam que “a redução do consumo deste conjunto de alimentos é essencial para a nossa saúde e para a sustentabilidade do planeta”. O vegetarianismo a “full-time” está, assim, fora de questão, “pelo menos por enquanto”.
Sete anos depois, os resultados são evidentes: a alimentação ficou mais económica e prática. “O nosso frigorífico tornou-se mais colorido”, revela o casal, que agora se sente um bem-estar generalizado. Acreditam que o flexitarianismo se está a tornar uma tendência, “embora pareça que não há uma razão única para que as pessoas tenham vindo a aderir”. Seja pelo desejo de um planeta melhor, por questões de saúde pessoal ou apenas porque sim, a verdade é que cada vez há uma maior massa de indivíduos a afastar-se do consumo da carne e do peixe. Actualmente, Mário e Brígida gerem, ainda, uma página de Facebook destinada à comunidade flexitariana, que visa disseminar este conceito.
Impacto na saúde
Para os que se tornaram flexitarianos com o intuito de melhorar a sua condição nutricional, as notícias são boas. Lea Caniço, nutricionista especializada em medicina natural, confessou ao JPN as vantagens associadas à prossecução de uma dieta vegetariana e as técnicas de compensação a adoptar.
As principais deficiências encontradas num regime alimentar vegetariano relacionam-se com o fraco consumo de vitamina B12 — existente apenas em alimentos de origem animal — e do ómega 3, muito associado aos peixes “gordos”. Os modos de colmatar estas carências são simples: os vegetarianos devem alternar “o mais possível as fontes proteicas de origem animal – os lácteos, sobretudo os queijos e os ovos – pelas proteínas de origem vegetal, como as leguminosas (feijão, grão, lentilhas), os frutos oleagionosos (nozes, amêndoas, avelãs), as sementes (sésamo, girassol, abóbora) e os cereais não refinados (flocos de aveia, arroz semi-integral, massa integral), por serem mais ricos em aminoácidos e outros nutrientes”.
A receita para obter uma boa proporção de proteínas, hidratos de carbono e gorduras a partir de um prato vegetariano (e não ovo-lacto-vegetariano) é simples: “Necessitamos de combinar dois terços de cereais (idealmente não refinados) com um terço de leguminosas, oleaginosas ou produtos à base de soja (como o tofu ou o tempeh) e ainda legumes”, independentemente do seu tipo de confecção.
Lea ressalva ainda o facto de que cada dieta se deve adequar à realidade de quem a pratica, isto é, às suas tolerâncias e limitações em termos de saúde. O acompanhamento por um profissional de nutrição especializado na dieta vegetariana ou “semi-vegetariana” é, neste sentido, nunca algo dispensável.