Se Clinton foi afectada pelos emails, as sondagens não se queixam muito
Em meados de Fevereiro, a antiga secretária de Estado tinha o apoio de 60% do eleitorado democrata, um valor que desceu para os 45% nos últimos dias.
A um ano e meio das eleições presidenciais nos Estados Unidos, começam a multiplicar-se as notícias sobre as hipóteses de vitória dos principais candidatos a candidatos, mas é também por esta altura que sobem as hipóteses de erro nas análises às sondagens.
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A um ano e meio das eleições presidenciais nos Estados Unidos, começam a multiplicar-se as notícias sobre as hipóteses de vitória dos principais candidatos a candidatos, mas é também por esta altura que sobem as hipóteses de erro nas análises às sondagens.
A mais recente, realizada pela empresa Ipsos para a agência de notícias Reuters, indica que os eleitores afectos ao Partido Democrata não ficaram satisfeitos com a forma como Clinton lidou com o caso dos emails, que eclodiu nos primeiros dias de Março nas páginas do jornal The New York Times – em meados de Fevereiro, a antiga secretária de Estado tinha o apoio de 60% dessa fatia do eleitorado, um valor que desceu para os 45% nos últimos dias.
Mas vários analistas já alertaram para a forte possibilidade de os media estarem a confundir a árvore com a floresta – ou seja, uma coisa é o desagrado dos eleitores com um assunto que está a marcar a actualidade, e outra, bem diferente, é a possibilidade de esse assunto vir a ter consequências num acto eleitoral marcado para Novembro de 2016.
Apesar de a agência Reuters salientar a queda de Clinton no eleitorado do Partido Democrata entre meados de Fevereiro e meados de Março (para reflectir o período em que foi revelado o caso dos emails, em que Clinton é acusada pelo Partido Republicano de falta de transparência por não ter usado uma conta do Governo), a sondagem mostra também que esse apoio tem sofrido muitas variações ao longo dos últimos meses. Mais do que um caso em particular, a descida de Hillary Clinton tem sido provocada pelo facto de os seus números de aprovação serem anormalmente elevados quando abandonou o cargo de secretária de Estado, há dois anos.
"Os números de Clinton já não são o que eram. À medida que se aproximam as eleições primárias do Partido Republicano e, depois, o arranque para as eleições gerais, as diferenças entre Hillary Clinton e os candidatos republicanos vão diminuir. É simplesmente impossível que um candidato presidencial num clima tão polarizado como o que vivemos vença com uma vantagem de dois dígitos – e ainda menos com uma diferença de 15 pontos percentuais", escreve o jornalista do The Washington Post Chris Cillizza no blogue sobre política norte-americana The Fix.
Cillizza refere-se às sondagens que dão uma vantagem de 15 ou 16 pontos percentuais a Hillary Clinton num eventual embate contra o único candidato de renome que já oficializou a sua corrida à Casa Branca – o republicano Jeb Bush, filho do antigo Presidente George H. W. Bush e irmão do antigo Presidente George W. Bush.
Numa outra sondagem, realizada pela empresa ORC para a CNN, a estação de televisão norte-americana salienta que "as opiniões desfavoráveis sobre Hillary Clinton estão a subir" na sequência do caso dos emails. Mas a mesma notícia sublinha que esta tendência "poderá não prejudicar as suas hipóteses, se ela decidir candidatar-se à Casa Branca em 2016, já que 57% dos americanos dizem que se sentiriam orgulhosos em tê-la como Presidente".
Numa reacção à aparente confusão de números e de interpretações (enquanto o Los Angeles Times titulava "As questões sobre os e-mails prejudicaram Clinton? Sondagens recentes dizem que não prejudicaram muito", o Business Insider escrevia "Americanos acham que Hillary Clinton fez asneira com os seus emails"), Brendan Nyhan, analista político e professor na Universidade Dartmouth, escreveu um artigo no The New York Times com o título irónico "Como ser enganado por sondagens, versão emails de Hillary Clinton", chegando à mesma conclusão de Chris Cillizza no The Washington Post.
"Na verdade, estas comparações não distinguem entre os efeitos da controvérsia dos emails e o contínuo declínio dos números positivos da sra. Clinton à medida que ela regressa à imagem que tinha antes da sua passagem pela Secretaria de Estado: a de uma figura política intensamente polarizadora."