No country for old women
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Foram-nos relatados novos perfis de vulnerabilidade associados à idade e apercebemo-nos da particular discriminação de género associada à discriminação em função da idade. Aceito os fundamentos antropológicos e bio-psico-afectivo-emocionais da diferença entre o homem e a mulher e da sua complementaridade, pelo que utilizo aqui a designação de “género” para indicar os elementos socio-culturais de diferenciação, ou seja, daqueles aspetos com origem cultural, histórica, geográfica ou social, relativos à distribuição de tarefas e de papéis, muitas vezes inerentes às estruturas de poder, e que influem na situação das mulheres, explicando a desigualdade e as injustiças.
A esperança média de vida passou de 68,5-65,3 para os homens e 71,5 para as mulheres em 1972 para 80 anos — 76,9 para os homens e 82,8 para as mulheres — em 2012. Igualmente relevante é o indicador “esperança média de vida saudável”, que é de 60,7 anos para os homens e de 58,7 anos para as mulheres. O cruzamento destes dois dados aponta para um período de vida expectavelmente “não saudável” de 11 anos para os homens e de 22 anos para as mulheres. Saliente-se ainda que é também nas mulheres que se verificam indicadores de saúde mais graves. A partir de determinada faixa etária, a situação de vulnerabilidade das mulheres agudiza-se. Em primeiro lugar, porque o número de mulheres idosas é superior ao dos homens; depois, pela realidade inegável da feminização da pobreza; mas a revelação mais extraordinária foi a da persistência de representações sociais em que as mulheres são as principais cuidadoras, portanto... devem cuidar de si próprias.
A verdade é que as mulheres continuam a ser as principais cuidadoras... É trágico saber que, depois de terem cuidado dos filhos, dos pais, do cônjuge, dos sogros, dos irmãos, dos netos e, às vezes, dos bisnetos, neste país ainda se espera que cada mulher acabe os seus dias a cuidar de si própria...