John Kerry reconhece que será preciso negociar com Assad
EUA atenuam discurso sobre o Presidente sírio: é preciso negociar, disse secretário de Estado, e pela primeira vez, não exigiu que o Presidente sírio abandone o poder.
Numa entrevista ao canal norte-americano CBS transmitida neste domingo, John Kerry afirmou que os EUA estão dispostos a aumentar a pressão sobre o regime sírio para que se inicie um processo de negociações com a oposição. Mas, ao contrário do que tem sido o discurso dos EUA sobre o conflito, John Kerry deixou de lado a exigência de uma transição política que afaste Assad por completo.
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Numa entrevista ao canal norte-americano CBS transmitida neste domingo, John Kerry afirmou que os EUA estão dispostos a aumentar a pressão sobre o regime sírio para que se inicie um processo de negociações com a oposição. Mas, ao contrário do que tem sido o discurso dos EUA sobre o conflito, John Kerry deixou de lado a exigência de uma transição política que afaste Assad por completo.
“No fim, teremos de negociar”, disse o secretário de Estado. Kerry afirmou também que estas negociações deveriam acontecer no contexto do primeiro encontro de Genebra. “Estivemos sempre dispostos a negociar no contexto do processo de Genebra I.”
Isto parece indicar alguma abertura dos EUA à permanência de Assad. A primeira das duas rondas de Genebra para a negociação de paz na Síria, em 2012, apontava para a formação de um Governo de transição, a ser determinado pelas forças envolvidas no conflito. Ou seja, apesar de as primeiras reuniões na cidade suíça não contemplarem a continuidade de Assad, também não exigiam que este deixasse o governo.
A longevidade do conflito sírio e a entrada em cena do autoproclamado Estado Islâmico são vistos como dois factores que podem ter pesado na decisão dos EUA em atenuar o discurso contra Assad. Jonathan Marcus, o correspondente diplomático da BBC, argumenta que o afastamento de Assad poderia dar força ao grupo jihadista. “O surgimento de um novo actor na Síria— a organização do Estado Islâmico — leva muitos especialistas a acreditar que, se Assad fosse afastado, o maior beneficiário seriam os jihadistas”.
Kerry não avançou que forma assumiria uma pressão adicional capaz de levar o Governo de Damasco a negociard de forma séria. Disse, contudo, que esse processo já se iniciou, e que conta agora com a ajuda da comunidade internacional. “Estou convencido que, com o esforço dos nossos aliados e outros, haverá uma pressão acrescida sobre Assad”, afirmou.
Bombas de cloro
Passaram-se quatro anos desde o início do conflito na Síria, em 2011, e não parecem existir ainda soluções políticas para um cessar-fogo. O ano de 2014 foi até ao momento o mais mortífero, devido, em parte, aos confrontos que envolvem o Estado Islâmico.
Existem agora indícios de que o grupo jihadista pode estar a usar armas químicas, especificamente gás de cloro – uma acusação que já foi feita ao exército de Assad. As autoridades da região semi-autónoma curda do Norte do Iraque anunciaram que o químico foi usado num ataque suicida do grupo jihadista, em Janeiro.
De acordo com a Reuters, que cita uma declaração das forças curdas, foram enviadas para análise amostras de solo e da roupa do homem que conduzia o carro armadilhado e que tentou, sem sucesso, atingir combatentes peshmerga na auto-estrada entre Mossul e a fronteira síria. As análises, alegadamente feitas num laboratório certificado pela União Europeia, revelaram uma elevada concentração de cloro, “o que sugere que o químico tenha sido adoptado como arma”.
Apesar de estas análises não terem sido ainda confirmadas por uma fonte independente, avança a Reuters, Washington já respondeu, afirmando que a utilização de armas químicas pode ser um indício de que os ataques aéreos da coligação liderada pelos EUA estão a levar os jihadistas a um “crescente desespero”.