Regresso a casa

Vijay Iyer regressa ao formato que melhor reverbera a sua música.

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Break Stuff: case-study da utilização do silêncio na música

Decorrido apenas um ano desde que Vijay Iyer trocou a ACT pela ECM, este é já o terceiro registo que assina na label de Manfred Eicher, dinâmica bem reveladora da com que desenvolve as suas explorações musicais. Pianista e compositor norte-americano de origem indiana, formado por Yale, professor em Harvard, titular do MacArthur Genius Grant em 2013, tornou-se rapidamente um dos mais influentes jazzmen da sua geração, explorando as ligações entre jazz, música erudita, música indiana e outros géneros como o hip-hop ou a electrónica, numa perspectiva que é simultaneamente analítica, quase científica ou matemática, e orgânica. Nesse sentido, Break Stuff, o terceiro registo do trio que mantêm há 11 anos com o contrabaixista Stephan Crump e com o baterista Marcus Gilmore, é o mais conseguido do grupo. E fá-lo pegando em música das mais diversas proveniências, transformando-a e construindo uma monumental sequência de temas onde ideias rítmicas complexas e multifacetadas são trocadas entre os músicos com agilidade e rigor, tornando-as quase “invisíveis”, subtilmente encabeçadas por melodias e harmonias simples e acessíveis. Por muito densa que se torne, a música nunca perde o groove ou uma surpreendente lógica interna. Uma lógica que leva Iyer a referir nas notas do disco: “uma pausa na música, um espaço de silêncio, continua a ser música – um espaço de tempo sobre o qual podemos agir”. Se este poderá ser “o conceito mais velho do mundo” no universo musical, a verdade é que Iyer leva a sua exploração mais longe do que a maioria dos seus pares, tornando Break Stuff num case-study da utilização do silêncio na música. Ao longo de cerca de 70 minutos, Iyer, Crump e Gilmore destilam um jazz ultra moderno, simultaneamente acessível e experimental, trabalhando temas originais – onde se inclui o extraordinário Hood, dedicado a uma figura do tecno de Detroit, Robert Hood  – e três standards de jazz - Work de Thelonious Monk, Countdown de John Coltrane e Blood Count, belíssima balada de Billy Strayhorn. Mas se estes três temas representam espiritualmente a tradição jazz, essa mesma tradição está presente em todas as composições de Iyer, da melhor forma, processada e cruzada com outros estilos musicais, dando origem a momentos únicos como os que se podem ouvir em Taking Flight ou Break Stuff. De cortar a respiração.

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Decorrido apenas um ano desde que Vijay Iyer trocou a ACT pela ECM, este é já o terceiro registo que assina na label de Manfred Eicher, dinâmica bem reveladora da com que desenvolve as suas explorações musicais. Pianista e compositor norte-americano de origem indiana, formado por Yale, professor em Harvard, titular do MacArthur Genius Grant em 2013, tornou-se rapidamente um dos mais influentes jazzmen da sua geração, explorando as ligações entre jazz, música erudita, música indiana e outros géneros como o hip-hop ou a electrónica, numa perspectiva que é simultaneamente analítica, quase científica ou matemática, e orgânica. Nesse sentido, Break Stuff, o terceiro registo do trio que mantêm há 11 anos com o contrabaixista Stephan Crump e com o baterista Marcus Gilmore, é o mais conseguido do grupo. E fá-lo pegando em música das mais diversas proveniências, transformando-a e construindo uma monumental sequência de temas onde ideias rítmicas complexas e multifacetadas são trocadas entre os músicos com agilidade e rigor, tornando-as quase “invisíveis”, subtilmente encabeçadas por melodias e harmonias simples e acessíveis. Por muito densa que se torne, a música nunca perde o groove ou uma surpreendente lógica interna. Uma lógica que leva Iyer a referir nas notas do disco: “uma pausa na música, um espaço de silêncio, continua a ser música – um espaço de tempo sobre o qual podemos agir”. Se este poderá ser “o conceito mais velho do mundo” no universo musical, a verdade é que Iyer leva a sua exploração mais longe do que a maioria dos seus pares, tornando Break Stuff num case-study da utilização do silêncio na música. Ao longo de cerca de 70 minutos, Iyer, Crump e Gilmore destilam um jazz ultra moderno, simultaneamente acessível e experimental, trabalhando temas originais – onde se inclui o extraordinário Hood, dedicado a uma figura do tecno de Detroit, Robert Hood  – e três standards de jazz - Work de Thelonious Monk, Countdown de John Coltrane e Blood Count, belíssima balada de Billy Strayhorn. Mas se estes três temas representam espiritualmente a tradição jazz, essa mesma tradição está presente em todas as composições de Iyer, da melhor forma, processada e cruzada com outros estilos musicais, dando origem a momentos únicos como os que se podem ouvir em Taking Flight ou Break Stuff. De cortar a respiração.