Michael Graves (1934-2015): o arquitecto fora de moda
Com a construção das torres Portland no início dos anos 80, Michael Graves norte-americano emergiu como a figura mais proeminente de uma arquitectura pós-modernista.
Graves representava, como poucos, o pós-modernismo em arquitectura. Quando o movimento estava no auge, nos primeiros anos da década de 1980, foi muito publicado e celebrado. No final da década, com o esmorecer da onda, foi praticamente anulado. Mas continuou sem hesitações a via comercial e populista que escolheu nesses anos. Desenhou mais de 2000 objectos de uso quotidiano.
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Graves representava, como poucos, o pós-modernismo em arquitectura. Quando o movimento estava no auge, nos primeiros anos da década de 1980, foi muito publicado e celebrado. No final da década, com o esmorecer da onda, foi praticamente anulado. Mas continuou sem hesitações a via comercial e populista que escolheu nesses anos. Desenhou mais de 2000 objectos de uso quotidiano.
Michael Graves tinha já inscrito o seu nome na história da arquitectura como parte dos New York Five, um grupo apresentado por Kenneth Frampton no MoMA, em 1969. Com Peter Eisenman, Richard Meier, Charles Gwathmey e John Hedjuk, propunham uma rescrita da vanguarda moderna, em casas experimentais mas fora do quadro ideológico europeu. Eram os “whites”, por referência às obras de Le Corbusier nos anos 1920.
Com a construção das torres Portland (Oregon, 1980) e Humana (Kentucky, 1982), Graves emergiu como a figura mais proeminente de uma arquitectura pós-modernista. O projecto de Portland criou polémica desde a fase do concurso. Os laços ornamentais e uma escultura sobre a entrada (Portlandia), serão reinstalados por pressão popular. O entendimento da arquitectura como arte pública ganha fundamento. E Charles Jencks, o principal mentor do movimento, escreve que o Portland “é o primeiro monumento do pós-modernismo”.
A Time já tinha feito capa com Philip Johnson, que também virou pós-modernista por essa altura, escrevendo: “U.S. Architects. Doing Their Own Thing”. O pós-modernismo de Graves é talvez o primeiro estilo de uma arquitectura americana.
O projecto popular e inclusivo e a afabilidade pessoal de Graves terão paradoxalmente pouco tempo de antena. Os inúmeros objectos de design que concebeu, entre os quais a famosa chaleira Alessi, revelam maior durabilidade. Entre o design e a arquitectura de Graves há uma troca evidente de pressupostos, no gosto pelo decorativo e no recurso à produção em série. É a dimensão do quotidiano que interessa, em qualquer dos casos. E a comunicação, ao modo americano de falar ao coração do “homem da rua”.
A influência de Michael Graves é evidente em Portugal através do trabalho dos New York Five, cujos livros publicados em Itália e Espanha são avidamente consumidos pelos arquitectos formados entre a segunda metade dos anos 1970 e o início dos anos 1980. E depois, já na sua configuração pós-modernista, através de Tomás Taveira, cujas obras, nomeadamente as Amoreiras, são muito atentas ao arquitecto americano. Com Augusto Brandão, Taveira traz Graves à Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa para um seminário, em 1983, que ficará célebre.
Os projectos de Graves para a Walt Disney, na Flórida, no final dos anos 1980, são um ponto culminar desta história. Até o militante Jencks acha o encontro excessivo e defende que a Disney deu o “beijo de morte” ao pós-modernismo.
Não parece que Michael Graves se tenha preocupado com isso. Em 2003, ficou paralisado em resultado de uma infecção na espinha dorsal, e passou a usar essa experiência nos projectos de espaços hospitalares. Usando muitas cores; continuando fora de moda.
Crítico de arquitectura