Já acabou?

À saída, há quem se questione se a exposição acabou. Dan, 20 e poucos anos, não tem a certeza se percebeu

Foto
Black Lake é um projecto vídeo-catarse que Björk criou depois de terminada a sua relação com o artista Matthew Barney DR

O curador do museu, Klaus Biesenbach, assina a exposição que pretende ser um olhar sobre 20 anos de projectos inovadores, juntando som, vídeo, instrumentos, objectos e figurinos. A expectativa era imensa - mesmo depois das críticas devastadoras que começaram a ser publicadas antes da abertura de Björk ao público e que referiam uma “exposição sem ambição” que faria os nova-iorquinos sairem do MoMA a sentir vergonha pelo museu.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O curador do museu, Klaus Biesenbach, assina a exposição que pretende ser um olhar sobre 20 anos de projectos inovadores, juntando som, vídeo, instrumentos, objectos e figurinos. A expectativa era imensa - mesmo depois das críticas devastadoras que começaram a ser publicadas antes da abertura de Björk ao público e que referiam uma “exposição sem ambição” que faria os nova-iorquinos sairem do MoMA a sentir vergonha pelo museu.

No domingo, apenas duas horas depois de ter aberto, o museu já tinha esgotado os bilhetes diários que garantem acesso ao terceiro andar da exposição. É aí que se encontra Songlines, considerada a parte central da retrospectiva, onde os visitantes recebem um headset que lhes permite ouvir uma narrativa biográfica, enquanto passam por objectos “björkianos”, desde cadernos com letras das músicas, fechados em vitrines, até aos figurinos, passando pelos robots de Chris Cunningham usados em All is Full of Love. É aqui que encontramos as pequenas Björks vestidas com o Bell Dress desenhado por Alexander McQueen e com o Swan Dress assinado por Marjan Pejoski.

Cada sala desta galeria representa um dos sete álbuns que antecedem Vulnicura (2015) e, à medida que avançamos, sinais são enviados por Bluetooth, fazendo com que uma nova música comece. A mesma voz que antes nos disse que devíamos demorar 40 minutos nesta viagem vai.nos dizendo, em tom de meditação, para olharmos à nossa volta, para nos focarmos, como se nos pedisse para ficarmos. A história, escrita por Sjón, frequente colaborador de Björk, e lida pela actriz islandesa Margrét Vilhjálmsdóttir, fala-nos de uma criança nas montanhas da Islândia, guia-nos pela mente avant-garde de uma visionária, apresentando de forma infantil os reinos de Björk. Quarenta minutos parecem uma eternidade. Durante o dia deverão passar por ali 800 visitantes.

Foto
BRENDAN MCDERMID/REUTERS
Foto
TIMOTHY A. CLARY/AFP

No segundo andar, onde se encontra a outra parte de Björk, passaram 2000 pessoas no primeiro dia. Viram os dois espaços construídos para a exposição: um dedicado à instalação encomendada pelo MoMA - Black Lake - que acabou por ser incluído em Vulnicura; e Cinema, sala onde é projectada uma sequência de vídeos, desde Debut (1993) até Biophilia (2011). Para entrar em Black Lake espera-se, espera-se encostado a uma parede. Visível, para quem decide olhar para cima, está Björk em It’s Oh So Quiet (1995). Uma Björk muda, que talvez passe despercebida entre conversas e jornais. Na parede, uma lista das capas dos álbuns. Os discos estão à venda na loja do museu.

Um dos funcionários pede que nos apertemos mais na fila - “temos muita gente a passar por aqui hoje” - e é isso que acabará por acontecer, as pessoas passarão por ali, até Junho. Finalmentem umas dezenas entram para a sala, faltam três minutos para o vídeo começar. Black Lake é um projecto vídeo-catarse que Björk criou depois de terminada a sua relação com o artista Matthew Barney. O arquitecto David Benjamim desenhou a sala que é preenchida por 43 colunas e 6 subwoofers - é como se cada centímetro correspondesse a um segundo de música, numa experiência que se revela avassaladora. As paredes pretas e a temperatura desconfortavelmente quente ajudam a fazer sentir este espaço como continuação da caverna na Islândia onde vemos Björk. O vídeo de dez minutos, realizado por Andrew Thomas Huang (que já tinha colaborado com Björk na criação de Mutual Core para o Los Angeles’ Museum Of Contemporary Art) mostra-nos primeiro uma Björk devastada - “Did I love you too much/ devotion bent me broken” - entre explosões de lava, a dar murros no coração, para depois renascer, rodopiar - “I am a glowing shiny rocket”. Alguém adormeceu sentado em cima de um subwoofer do outro lado da sala. À saída, há quem se questione se a exposição acabou. Dan, 20 e poucos anos, não tem a certeza se percebeu, mas também não é fã do trabalho de Björk. Já a rapariga que o segue contesta que “o vídeo é magnífico” e que vai ver a performer dia  14 no Carnegie Hall.

Foto
TIMOTHY A. CLARY/AFP

Os fãs são os que entram e ficam na sala que se segue - Cinema - onde se pode ver a tal sequência de 32 vídeos em loop, mas que também não oferece mais do que isso: vídeos, sem qualquer edição. Há quem não fique um minuto, mas também há quem consiga um lugar nas almofadas vermelhas distribuídas pela sala e fique as duas horas, aproveitando a projecção em grande ecrã. À saída desta sala - e sem acesso a Songlines -, as pessoas questionam-se e questionam se a exposição se limita ao que acabaram de ver. Não, há ainda instrumentos espalhados pelo lobby. Quatro instrumentos que a compositora usou durante a sua criação Biophilia. Durante o dia tocam, alternadamente, partes desse álbum. O som da tesla coil ecoa ao final da tarde - alguém comenta o “ruído estridente” que não sabe de onde vem. Também escondido perto de umas escadas rolantes passa um outro vídeo de Biophilia: Björk é algo que se vê entre as outras exposições patentes no MoMA.