Helen Mirren volta a ser Isabel II
Escrita pelo argumentista de A Rainha, Peter Morgan, a peça The Audience, que dramatiza os encontros entre a a soberana e sucessivos primeiros-ministros, estreia-se este domingo na Broadway, após ter feito sucesso em Londres
A peça, que está a fazer sucesso em Londres e irá estrear-se este domingo na Broadway, em Nova Iorque, foi escrita por Peter Morgan, que assim volta a colaborar com Mirren num projecto que envolve Isabel II. Se o filme de Frears se centrava no período em que a família real britânica teve de lidar com a morte de Diana, princesa de Gales, The Audience aborda todo o seu reinado através dos célebres encontros das terças-feiras à tarde entre a rainha e o chefe do Governo.
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A peça, que está a fazer sucesso em Londres e irá estrear-se este domingo na Broadway, em Nova Iorque, foi escrita por Peter Morgan, que assim volta a colaborar com Mirren num projecto que envolve Isabel II. Se o filme de Frears se centrava no período em que a família real britânica teve de lidar com a morte de Diana, princesa de Gales, The Audience aborda todo o seu reinado através dos célebres encontros das terças-feiras à tarde entre a rainha e o chefe do Governo.
Autor de vários argumentos para filmes históricos, Peter Morgan estreara-se como dramaturgo com a peça Frost/Nixon, depois adaptada ao cinema no filme homónimo de Ron Howard.
The Audience começa com um funcionário superior da rainha, o equerry (estribeiro-mor, originalmente responsável pelas cavalariças reais), que explica à assistência: “Todas as terças-feiras, aproximadamente às 18h30, a rainha do Reino Unido tem um encontro privado com o seu primeiro-ministro”. E acrescenta: “Não é uma obrigação, não está previsto na Constituição, é uma cortesia do primeiro-ministro para pôr Sua Majestade ao corrente” dos assuntos de Estado.
A peça prossegue depois com uma versão ficcionada dos diálogos que Isabel II manteve com nove dos doze primeiros-ministros que conheceu desde 1952, quando sucedeu no trono ao seu pai, Jorge VI, num período em que Winston Churchill chefiava o Governo. O homem que liderou o Reino Unido durante a II Guerra Mundial foi o primeiro de uma longa lista de chefes de Governo que despacharam com Isabel II. Contando apenas uma vez Harold Wilson, que ocupou o cargo em dois momentos distintos, Margaret Thatcher foi a oitava, Tony Blair o décimo, e o primeiro-ministro actual, David Cameron, é o 12.º.
Peter Morgan fez investigação histórica para escrever esta peça, mas o teor das conversas com a rainha teria sempre de ser especulativo, já que os diálogos foram sempre entendidos como confidenciais por ambas as partes, e nenhum dos intervenientes tomava quaisquer notas durante as reuniões.
“Este pacto de confiança e silêncio entre o primeiro-ministro e a soberana é mesmo respeitado”, garante Morgan, acrescentando ser voz corrente que a maior parte dos chefes de Governo nem sequer com os respectivos cônjuges falavam das conversas de terça-feira com Isabel II.
Helen Mirren, a quem foi concedido em 2003 o título honorífico de Dama do Império Britânico, encontrou a rainha em diversas ocasiões formais, mas diz que para este papel tentou concentrar-se em imagens de arquivo que mostram a filha de Jorge VI antes de subir ao trono. “Quis perceber que pessoa ela era antes de aquele manto lhe tombar nos ombros”, explica a actriz.
O director da peça, Stephen Daldry, diz que a rainha é um “modelo de decoro” e considera-a “a mais invisível figura pública feminina do mundo”. Uma reserva que, observa, é mesmo legalmente imposta, já que a soberana está constitucionalmente de sequer sugerir publicamente políticas aos seus primeiros-ministros.
Consta que Isabel II não apreciava Thatcher e que se terá irritado bastante por esta se ter recusado a aplicar sanções ao então governo segregacionista da África do Sul. Um episódio que Morgan recupera na peça, onde a rainha diz à chefe de Governo conservadora: “Considerando o reduzido impacto que teria na nossa política quotidiana, e o quão importante é para mim, não me poderia ter apoiado pelo menos desta vez?”.
Isabel II ainda não foi ver a peça, mas muita gente do seu círculo mais próximo já o fez e, segundo Helen Mirren, têm gostado e confirmam que a rainha “é mesmo assim”. The Audience vai ficar em cena na Broadway até Junho, poucos meses antes de Isabel II, se ainda for viva, bater o recorde estabelecido pela sua trisavó, a rainha Vitória, que reinou durante 63 anos e 216 dias.