Estigma sobre a qualidade dificulta emprego dos diplomados dos politécnicos

Taxa de desemprego entre os diplomados pelos institutos politécnicos é mais elevada do que entre os licenciados saídos das universidades.

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Encerramento de cursos concentra-se sobretudo nos institutos politécnicos JOSé CARLOS COELHO

“As formações dos politécnicos são menos bem aceites pelo mercado de emprego”, considera o professor do Instituto Politécnico de Coimbra Joaquim Sande Silva, que nos últimos anos tem publicado vários artigos sobre este subsistema. Na sua opinião, essa desconfiança das empresas explica-se pelo “estigma” que pesa sobre a qualidade da formação dos politécnicos.

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“As formações dos politécnicos são menos bem aceites pelo mercado de emprego”, considera o professor do Instituto Politécnico de Coimbra Joaquim Sande Silva, que nos últimos anos tem publicado vários artigos sobre este subsistema. Na sua opinião, essa desconfiança das empresas explica-se pelo “estigma” que pesa sobre a qualidade da formação dos politécnicos.

Os cursos politécnicos parecem ser vistos como uma espécie de “segunda divisão” do ensino superior, não só pelas famílias e pelos alunos, na hora de escolher os cursos a que se candidatam, como pelas empresas no momento de contratar. O investigador do Observatório de Políticas de Educação e Formação Paulo Peixoto concorda com esta ideia: “Isso é muito nítido e é um sentimento generalizado que atinge até os professores”. “Essa subalternidade torna-se muito evidente e tem consequências”, acrescenta.

Os dados oficiais mostram que o desemprego tem atingido com maior frequência os estudantes formados em institutos politécnicos do que os das universidades. Tendo em conta os números de licenciados inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), o total diplomados nos politécnicos é menor (19.280) que o das universidades (27.690). Todavia, o rácio face ao total de diplomados em cada subsistema de ensino coloca os politécnicos em desvantagem.

O número de pessoas formadas pelos politécnicos que estão no desemprego corresponde a 5,2% do total de diplomados neste subsistema nos últimos 20 anos (é este o critério temporal que é usado pelas estatísticas oficiais do Ministério da Educação e Ciência). No caso do subsistema universitário, a taxa é 0,6 pontos percentuais mais baixa. Se a comparação for feita tendo em conta o último número de diplomados conhecido (relativo ao ano lectivo 2012/2013), a comparação é ainda mais desvantajosa para os institutos politécnicos (80% contra 64%).

São também de institutos superiores politécnicos, oito dos dez cursos superiores com taxas de desemprego mais altas, numa lista que é liderada pelas licenciaturas em Gerontologia Social do Instituto Politécnico de Coimbra (45,4% dos seus diplomados inscritos no IEFP), Engenharia de Sistemas de Energias Renováveis do Politécnico de Viana do Castelo (38%) e Vídeo e Cinema Documental, do Politécnico de Tomar (34,4%).

Paulo Peixoto aponta uma outra explicação para o fenómeno: “O nosso tecido empresarial não é exigente nem em termos de quantidade nem de qualidade da mão-de-obra”. Por isso, acredita este investigador, “o ensino profissional responde às necessidades de qualificação” da economia nacional. A opinião do presidente do Conselho Nacional de Educação, David Justino, vai no mesmo sentido. “O ensino profissional está orientado para preparar os seus alunos para o mercado de trabalho”, afirma, explicando pelo mesmo motivo o desinteresse dos estudantes da oferta vocacional em prosseguir estudos superiores.

Já Joaquim Sande Silva aponta para uma outra realidade que é necessário ter em conta quando se olha para os números dos desempregos entre os diplomados do sector politécnico: A maioria dos institutos superiores está situada em cidades do interior do país, onde a economia é mais frágil e a dificuldade de encontrar um trabalho é mais acentuada.