Marcelo critica Passos. É o terceiro antigo presidente do PSD a fazê-lo em quatro dias
São já três os antigos presidentes do PSD a criticar Passos por causa do caso das dívidas. E com palavras duras que vão contra a estratégia do partido de “matar” o tema.
No seu habitual espaço de comentário semanal na TVI, e depois de fazer o resumo de todo o caso, Marcelo considerou que Passos fez bem em pedir desculpa, mas salientou que as explicações foram “muito numerosas ao longo da semana, não obedecendo a uma lógica sequencial”.
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No seu habitual espaço de comentário semanal na TVI, e depois de fazer o resumo de todo o caso, Marcelo considerou que Passos fez bem em pedir desculpa, mas salientou que as explicações foram “muito numerosas ao longo da semana, não obedecendo a uma lógica sequencial”.
Para o também conselheiro de Estado, o caso está a ser empolado por o país estar já em período pré-eleitoral, mas acentuou que ele não deixa de ser um caso político que afecta o primeiro-ministro.
“Ele fez bem em acentuar o pedido de desculpa, no estilo dele. Mais valia de uma só vez ele ter dito: peço desculpa. E explicava, fiz aquilo sem saber, ignorei a lei, mas não dizia por distracção, nem por não ter dinheiro.”
Para Marcelo, Passos devia também ter admitido que fez “uma escolha que foi em 2012 não ter pago” e que foi uma má escolha. Devia ter também deixado claro que o seu comportamento foi “uma coisa negativa”.
Pior, para o comentador, foi Passos, nas jornadas parlamentares do PSD, ter feito uma “alusão a José Sócrates”. “Ele objectivamente disse ‘eu não sou como outros que enriqueceram, nas funções, tiveram quem os ajudasse de fora e tinham níveis de vida superiores’. É afastar-se de uma estratégia política do PSD de não misturar o caso judicial de José Sócrates com o debate político. É, no fundo, estar a pronunciar-se, sem se pronunciar, sobre uma questão em que há presunção de inocência.”
O esvaziamento do papel presidencial
Mas as palavras mais duras de Marcelo acabariam por ir para Cavaco Silva. Questionado sobre se Passos se devia demitir, o comentador afirmou: “O Presidente da República não esteve feliz, porque teve de reconhecer uma coisa que é sua responsabilidade. Quando ele diz que há este clima de cheiro pré-eleitoral, a principal responsabilidade no cheiro pré-eleitoral durante oito meses, dez meses, é do Presidente, que não quis marcar eleições mais cedo. Mal, e portanto, agora, não se pode queixar do clima que existe.”
Dissolver o Parlamento e demitir o primeiro-ministro nesta altura, acrescentou Marcelo, era “deitar petróleo sobre uma fogueira”.
“O Presidente devia ter prevenido isso e não o fez. Em rigor, não se devia ter pronunciado sobre este caso nesta fase”, salientou ainda o também conselheiro de Estado.
As palavras mais acutilantes para Cavaco estavam, contudo, guardadas para o final da sua intervenção na TVI. “Vejo com muita preocupação o esvaziamento do papel presidencial de 2013 até hoje e no ano que falta. Espero que ele tenha cuidado para não repetir muitas intervenções que acabam por esvaziar e o enfraquecer num momento muito sensível da vida portuguesa.”
Ferreira Leite e Mendes antes de Marcelo
A primeira dos antigos líderes sociais-democratas a vir publicamente deixar palavras negativas para Passos foi, porém, Manuela Ferreira Leite, na quinta-feira à noite, na TVI24, ainda antes de Cavaco Silva falar no caso.
A economista recusou a defesa avançada por alguns dirigentes do PSD de que a questão das dívidas era do foro pessoal de Passos, uma vez que na altura não ocupava cargos públicos. E acusou o primeiro-ministro de fazer o contrário do que exige aos outros.
“Não é um problema de natureza pessoal, porque em termos pessoais, diria, qualquer pessoa pode cometer erros. […] Acho que é um problema político porque vem da boca de alguém que impôs regras completamente diversas e que penalizou a opinião pública através de discursos contrários àquilo que é a sua acção”, salientou.
Sábado à noite, na SIC, foi a vez de Marques Mendes. E acabou ainda por ser mais duro que Ferreira Leite.
O também conselheiro de Estado começou por comentar a estratégia: "O que gostaria que o primeiro-ministro tivesse feito era que, na segunda ou na terça-feira, tivesse chamado a imprensa, feito uma comunicação, explicando que cometeu uma falha, que aconteceu num período difícil da sua vida, que já tinha resolvido a situação, e tivesse pedido desculpa aos portugueses. Quando se conhece a situação, corrige-se e depois pede-se desculpa. O forte dele não é a humildade. Não é a sua característica mais forte.”
Marques Mendes voltou depois atrás, ao discurso de Passos nas jornadas parlamentares do PSD, quando o primeiro-ministro, ainda que indirectamente e sem nunca o mencionar, trouxe à conversa a situação de José Sócrates. Mendes acusou Passos de “vitimização”. "Nunca vi um político experiente a fazer o que ele fez, a dialogar com Sócrates."
O antigo presidente laranja não tem dúvidas de que o primeiro-ministro “sai fragilizado” de toda esta situação.
Mas Mendes tinha também criticas para Cavaco por este ter associado os problemas de Passos à campanha eleitoral para as legislativas de Outubro. "Que ele não se intrometa eu percebo, mas eu preferia que o Presidente tivesse falado de outra forma. Não devia ter feito uma farpa no Governo nem na oposição. Preferia que dissesse que não se pronunciava em público."