Noite do Porto policiada para prevenir vandalismo e criminalidade

Bares estão confiantes de que medida ajude a aumentar o sentimento de segurança na noite portuense e possa travar criminalidade.

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“Com o policiamento, pode ser que alguns estabelecimentos cumpram os horários”, diz um funcionário Fernando Veludo/NFactos

Neste primeiro dia da medida experimental, os oito polícias começaram o patrulhamento à 1h, mas, antes disso, o PÚBLICO já estava no terreno para sentir ouvir os principais beneficiários da medida: empresários, moradores e cidadãos.

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Neste primeiro dia da medida experimental, os oito polícias começaram o patrulhamento à 1h, mas, antes disso, o PÚBLICO já estava no terreno para sentir ouvir os principais beneficiários da medida: empresários, moradores e cidadãos.

“O importante aqui é a prevenção. Evitar o vandalismo e contribuir para o descanso de alguns moradores”, explica o presidente da União de Freguesias do Centro Histórico, responsável pela implementação do policiamento remunerado, após reuniões com vários empresários da zona. A ideia não vem de hoje. A associação de bares e restaurantes do centro histórico já tinha feito algumas experiências, mas, desta vez, a iniciativa parte da união de freguesias e pretende ser “mais global”.

António Fonseca realça o “espírito social dos empresários em contribuir para evitar o vandalismo”. “Se não contribuírem, serão eles os penalizados no futuro, porque podem perder clientes”, salienta o responsável, numa conversa na Praça Filipa de Lencastre. “A noite do Porto recomenda-se e não queremos que se quebre o encanto desta zona”, destaca o autarca.

Cerca de 30 bares contribuíram para o serviço e vão pagar perto de 140 euros por mês cada para assegurar o policiamento da PSP, que neste fim-de-semana decorreu até às 5h. O serviço dos agentes gratificados tem um custo total de quatro mil euros mensais e António Fonseca enfatiza que, se mais bares aderissem, o valor que cada um teria de pagar “seria mais residual”, ajudando a assegurar a continuidade do projecto.

Da Praça Filipa de Lencastre para a Rua da Fábrica, entramos no restaurante Estrela d’Ouro, cheio de jovens que terminam de jantar e se aglomeram à porta para fumar. Ao balcão do restaurante, Manuel Martins, um dos gerentes, conta-nos que decidiu aderir à proposta da junta de freguesia por “ser necessário haver policiamento nas ruas”, que recebem cada vez mais pessoas e cujo ambiente “tem vindo a degradar-se”.

“O próprio Governo deveria ter esta preocupação. Não havendo, decidimos assegurar [o policiamento] para que o movimento se mantenha de uma forma saudável”, frisa o empresário. “Se um dia acontece aqui um problema grave, somos nós que o vamos sentir na pele”, diz Manuel Martins, recordando uma noite em que teve de “fazer um curativo” a uma turista que tinha sido atingida por uma garrafa.

Um problema de isolamento
Morador no terceiro andar do prédio do restaurante, Manuel Martins assegura que são os actos de vandalismo, “distúrbios, montras e caixotes de lixo partidos” que “mais incomodam os moradores”. O barulho feito na rua não passa despercebido a quem ali vive, principalmente por se tratar “de prédios antigos”. “Mais cedo ou mais tarde, vou ter de fazer obras de isolamento acústico na minha casa”, garante o empresário.

Até lá, espera que o policiamento durante o fim-de-semana, nas noites de sexta e sábado, contribua para o aumento do bem-estar não só dos clientes dos bares e restaurantes mas também dos moradores. E os turistas? Para tentar responder a esta questão, seguimos para a Rua Galeria de Paris e entramos na Pensão Cristal. 

“O movimento da rua não nos afecta muito e os nossos clientes queixam-se mais do barulho da música das discotecas”, explica Nuno Santos. “Com o policiamento, pode ser que alguns estabelecimentos cumpram os horários das licenças e fechem mais cedo”, realça o funcionário da pensão. Por outro lado, Nuno Santos não acredita que a presença da polícia vá atenuar outras situações. “Até pode ter o efeito contrário e incitar a alguns desacatos, porque existem pessoas que se sentem incomodadas com a autoridade”, refere.

Quando deixámos o ambiente fechado da Pensão Cristal, a Rua Galeria de Paris está bem mais cheia, com muita gente de copo na mão a deambular pelos bares que estão a todo o vapor. Na esquina com a Rua Santa Teresa, assistimos ao início do serviço de patrulhamento dos oito elementos da PSP, que se dividem em quatro equipas de dois elementos.

Evitar excessos e prevenir crimes
“Este vai ser um serviço de visibilidade para evitar excessos e aumentar o sentimento de segurança”, explica Ramiro Costa, chefe da polícia. A “prevenção” é a palavra de ordem, mas “se houver acções criminais, vai haver detenções”, garante o agente. Pela experiência que já teve noutros serviços como este, Ramiro Costa refere que os principais problemas estão relacionados com “zaragatas e agressões”, garantindo que a criminalidade ainda é baixa.

“Neste primeiro momento, noto que as pessoas andam mais à vontade, se calhar já não estão tão atentas às carteiras”, realça Cristiano Melo, outro dos agentes no terreno, que, entretanto, já havia sido abordado por algumas pessoas que pediam informações. “Outras pessoas ficam mais retraídas quando nos vêem”, nota Ramiro Costa.

Os dois polícias partem para outras ruas, como a Cândido dos Reis – a morada do Plano B desde 2006. Os sócios do estabelecimento assistiram ao nascimento “deste fenómeno chamado movida” e sempre acharam que “fazia sentido haver algum policiamento”, diz Filipe Teixeira. “Independentemente da forma como o serviço é pago, é sempre positivo e acontece na hora certa”, assegura João Teixeira, outro dos sócios do Plano B.

“A noite aqui ainda é segura e é raro os casos de assaltos, mas já começa a haver alguns.” “Isso pode ser o princípio de algo pior, como aconteceu na zona industrial e na ribeira”, lembra João Teixeira. “Se aqui nem chegar a haver uma sombra disso, será muito melhor”, conclui o empresário.

À porta do Plano B, duas amigas de Braga que costumam frequentar a noite do Porto aplaudem a presença da polícia e reconhecem que vai aumentar o “sentimento de segurança” e controlar “aqueles que só estão a importunar”, diz Sara Viana. “Até porque quem vem para se divertir não tem nada a temer”, completa Filipa Veiga.