O homem recuou em Mar, uma das praias do país mais afectadas pela erosão
Obra de demolição, reabilitação do cordão dunar e arranjo urbanístico é este sábado inaugurada pelo Presidente da República.
O cenário nem parece motivo de festa. A praia continua sem areia e cheia de seixos rolados, e as casas que por aqui havia foram demolidas. Mas o que se vê é uma opção que vai ter de ser replicada num ou outro ponto do país, e que tem, para os seus responsáveis técnicos e políticos, uma justificação evidente. “Se não fosse o homem a ceder agora, o mar destruiria o que aqui havia dentro de poucos anos”, assinala o presidente da câmara, Benjamim Pereira.
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O cenário nem parece motivo de festa. A praia continua sem areia e cheia de seixos rolados, e as casas que por aqui havia foram demolidas. Mas o que se vê é uma opção que vai ter de ser replicada num ou outro ponto do país, e que tem, para os seus responsáveis técnicos e políticos, uma justificação evidente. “Se não fosse o homem a ceder agora, o mar destruiria o que aqui havia dentro de poucos anos”, assinala o presidente da câmara, Benjamim Pereira.
Nem toda a gente percebeu o propósito do projecto que incluiu um arranjo urbanístico. Este dotou o acesso ao mar com uma praceta, onde pontua uma enorme cruz, e uma escadaria, em betão, que serve também de dissipador da força das ondas nos temporais. O cenário permitirá a realização da famosa festa de São Bartolomeu do Mar, que a 24 de Agosto leva milhares de romeiros àquelas águas, para o chamado banho santo, mas o padre Sampaio Viana nota a falta da areia. “Desde que a praia ficou assim, com os godos [seixos] e as pedras à vista, não vem nem metade das pessoas”, lamenta.
Maria Cândida, regressada de 36 anos em França, sente falta do mesmo, e nota ainda que ali deveria haver um corrimão e rampa para acesso de pessoas com mobilidade reduzida ao que já foi um areal extenso, bem como apoios de praia, ou seja, casas de banho e uma cafetaria. Só que o administrador-delegado do Polis Litoral Norte e representante da Agência Portuguesa do Ambiente na Região, Pimenta Machado, explica que esse tipo de equipamentos não está sequer previsto no Plano de Ordenamento da Orla Costeira e que essa nunca foi a intenção deste projecto. “Esta é mesmo uma obra de recuo. Esta não é considerada uma praia balnear e há outras, com todas as condições, para onde as pessoas, inclusive as de menor mobilidade, devem ser encaminhadas", justifica.
O chão que pisamos, no terreiro dominado pelo grande cruzeiro, tem, além de cubo de granito, linhas feitas de pedra mais clara deixadas como memória dos espaços que até ao ano passado foram ocupados pelas casas. Um sinal dos 30 metros de recuo, que permitiram, nas zonas laterais deste escadório de betão, a colocação de paliçadas para regeneração do cordão dunar. Tudo junto, entre fundos comunitários e esforço municipal, a obra custou 1,7 milhões de euros.
Benjamim Pereira assinala que estes esforços de reabilitação das dunas, que implicam neste momento investimentos de 700 mil euros só no concelho de Esposende – e o Polis tem intervenções semelhantes, realizadas, a correr ou prestes a começar em Viana do Castelo e Caminha – são das intervenções mais importantes do programa. E quem percorre o concelho, de sul para norte, ao longo da EN 13 percebe porquê. Boa parte dos férteis terrenos agrícolas do aluvião actualmente existente entre a praia e a antiga arriba fóssil, situada para poente desta estrada nacional, está abaixo do nível do mar. E são as dunas que impedem a salinização destes campos.
Sem as casas demolidas, eles estão agora à vista, a partir do novo terreiro da festa de São Bartolomeu. Uma imensidão de verde, com plantações de hortícolas, por cujos caminhos há-de passar a ecovia do Litoral Norte, a menina dos olhos do Polis, que se há-de fazer já com verbas do Portugal 2020. Este ano, para fechar o apoio do QREN, o programa vai investir 12 a 13 milhões num conjunto largo de intervenções nos três concelhos, em operações de defesa costeira, de reposição de areias, reconstrução de dunas ou no bem conhecido caso do Rio Âncora, cuja foz foi desviada para sul depois de um temporal ter destruído a duna dos Caldeirões, que será, agora, reconstituida.
Depois disso, e a seu ritmo, cada município vai avançar com a sua parte da ecovia. Esposende tem o projecto de execução pronto e está só à espera do primeiro aviso de concurso da Comissão de Coordenação da Região Norte para se candidatar a uma parte dos quatro milhões de euros de que precisa e começar os trabalhos dos seus 20 quilómetros deste percurso. Que, no total, garantirá uma “fruição sustentada, e turisticamente importante”, vinca Pimenta Machado, de 70 quilómetros de paisagens nesta região do país, ao longo dos quais se poderá avaliar o trabalho que o Polis aqui desenvolveu.