Áustria vai ficar com o Friso de Beethoven de Klimt

Uma das mais emblemáticas obras do pintor, é chamariz de milhares de visitantes. Herdeiros do judeu austríaco Erich Lederer dizem que foi vendida ao Estado sob coacção depois da II Guerra.

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O Friso de Beethoven é uma das mais conhecidas obras de Klimt e um exemplo maior da Arte Nova. E poderia não ter chegado aos nossos dias: foi pensado como uma obra efémera para a 14.ª exposição dos secessionistas austríacos, em 1902 e dedicada ao compositor, mas acabou por ser mantida para uma exposição dedicada ao pintor. Resistiu ainda a divisões e reuniões – foi vendido a Carl Reinighaus em 1903, que por seu turno o separou em oito pedaços e vendeu, já em 1915, a August e Serena Lederer - e ainda a duas guerras mundiais.

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O Friso de Beethoven é uma das mais conhecidas obras de Klimt e um exemplo maior da Arte Nova. E poderia não ter chegado aos nossos dias: foi pensado como uma obra efémera para a 14.ª exposição dos secessionistas austríacos, em 1902 e dedicada ao compositor, mas acabou por ser mantida para uma exposição dedicada ao pintor. Resistiu ainda a divisões e reuniões – foi vendido a Carl Reinighaus em 1903, que por seu turno o separou em oito pedaços e vendeu, já em 1915, a August e Serena Lederer - e ainda a duas guerras mundiais.

Os Lederer eram não só o pai e a mãe de Erich, cujos herdeiros reclamam há dois anos a sua restituição à família, como eram amigos do pintor simbolista, relata-se no site do Secession, em Viena, o museu do movimento austríaco do século XIX que reunia artistas e arquitectos dissidentes onde a obra de dois metros de altura e 34 metros de comprimento (e que pesa cerca de quatro toneladas) se encontra exposta.

O casal Lederer tinha boa parte da obra de Klimt na sua colecção particular (mais de uma dúzia de pinturas foram destruídas num incêndio perto do fim da guerra), nomeadamente retratos da família – o de Serena está no Museu Metropolitan, em Nova Iorque, por exemplo. O Secession, actualmente apresentado como a mais antiga galeria de arte independente do mundo, está instalado no Palácio da Secessão, símbolo arquitectónico do movimento e casa da Associação de Artistas Visuais de Viena. Klimt era um desses secessionistas e foi mesmo o primeiro presidente da organização.

Confiscada pelos nazis

A monumental obra foi confiscada pelos nazis, juntamente com o resto da colecção Lederer, em 1938. Oito anos mais tarde, Erich herdou o que resistira e lhe foi devolvido, mas deparou-se com a legislação de protecção do património móvel que proíbe a saída de obras importantes do território austríaco. Em 1972, vendeu o Friso de Beethoven ao governo austríaco, tendo este sido depois restaurado, em 1985, por peritos estatais, como indica uma nota de sexta-feira da galeria de Viena, onde foi criado um espaço especialmente climatizado para acolher a peça.

"Estamos satisfeitos por podermos continuar a mostrar o friso no local para o qual foi criado”, diz na mesma nota Herwig Kempinger, presidente da associação. “Este é o lugar mais lógico para mostrar este importante trabalho da Arte Nova vienense", disse ainda sobre o edifício ao qual acorrem anualmente milhares de visitantes para ver o Friso de Beethoven, tributo de Klimt ao compositor e à sua 9.ª Sinfonia.

Kempinger refere-se então às conclusões do Conselho Consultivo de Restituição de Arte austríaco, dedicado à análise de pedidos de herdeiros de obras de arte expropriadas pelos nazis. O órgão, que como o próprio nome indica é meramente consultivo, é ainda assim visto pelo governo como um referente para a tomada de decisão nestas matérias e, por isso, o ministro Josef Ostermayer fez saber logo na sexta-feira que vai agir em conformidade com a decisão do conselho. Segundo o jornal norte-americano The New York Times, ficar sem o Friso de Beethoven “teria sido uma perda para a Áustria enquanto centro cultural e artístico”.

Família "desiludida"

Do outro lado da barricada, os advogados dos herdeiros, citam o Times e o Wall Street Journal, estão “muito desiludidos” com a reacção do conselho ao seu pedido, que agora deve seguir para o Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Os herdeiros alegam que Erich se sentiu forçado a vender o friso por cerca de 690 mil euros por não poder retirá-lo do país – o pedido de exportação que fizera datava já de 1967e não obtivera resposta – e que o valor fora demasiado baixo para a importância da obra. Além de que existiria uma possível troca envolvida: o filho dos Lederer vendia o friso e o Estado restituía-lhe uma obra de Gentile Bellini que também pertencera aos seus pais.

Porém, o responsável do Conselho Consultivo de Restituição de Arte, Clemens Jabloner, disse à imprensa austríaca que não foram encontradas quaisquer indicações de que “a exportação não fosse possível” na época (década de 1960), além de ter também tido acesso a uma carta do então chanceler austríaco que indicava não ter havido quaisquer pressões e que o preço fora “voluntariamente negociado por ele [Enrich Lederer]”. O advogado dos Lederer, Marc Weber, está convencido de que “sempre foi claro que a resposta [ao pedido dos herdeiros] tinha de ser ‘não’ e eles só tentaram encontrar uma forma fácil de chegar a esse ‘não’”.

Em 2009, a legislação austríaca foi actualizada de forma a permitir que fossem restituídas obras roubadas pelos nazis e que tivessem sido compradas pelo Estado no âmbito da legislação de protecção de património. É no contexto dessa lei, e da crença dos advogados da família de que, “se não tivesse existido uma proibição à exportação, não teria havido venda”, que os herdeiros continuarão a exigir os seus direitos.

No âmbito dos processos de restituição de obras de arte confiscadas pelos nazis, a família Lederer já recebeu de volta seis obras de Egon Schiele e uma de Bellini, a tal que Erich esperava reaver se vendesse o Klimt.