Netanyahu diz ter “obrigação moral” de falar contra acordo com o Irão

Primeiro-ministro israelita está nos EUA para discurso que muitos consideram perigoso para as relações com Washington. É nesta terça-feira, no Congresso.

Foto
Manifestação contra Netanyahu à porta do grupo de pressão AIPAC, em Washington AFP

“O tempo em que o povo judaico é passivo perante as ameaças aniquiladoras – esse tempo acabou”, disse Netanyahu nesta segunda-feira perante o grupo de pressão AIPAC, em véspera do discurso ao Congresso. Ao mesmo tempo, tentou suavizar a percepção de uma altura de tensão na relação entre Israel e o seu principal aliado, os EUA. A ligação é “mais forte do que nunca”.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“O tempo em que o povo judaico é passivo perante as ameaças aniquiladoras – esse tempo acabou”, disse Netanyahu nesta segunda-feira perante o grupo de pressão AIPAC, em véspera do discurso ao Congresso. Ao mesmo tempo, tentou suavizar a percepção de uma altura de tensão na relação entre Israel e o seu principal aliado, os EUA. A ligação é “mais forte do que nunca”.

Nos EUA, o convite dos republicanos a Netanyahu para falar no Congresso sem um aviso prévio à Casa Branca (como prevê o protocolo) e a ida aos Estados Unidos de um líder em vésperas de eleições (as legislativas israelitas são a 17 de Março) tornou-se um motivo de irritação para a presidência em Washington. A conselheira de Segurança Nacional de Obama, Susan Rice, considerou que o discurso era “destrutivo” para as relações entre os dois.

Netanyahu tem subido o tom. Antes da viagem disse que a sua missão era “fatídica, até histórica”: “Sinto que sou emissário dos cidadãos de Israel, até dos que não concordam comigo, e de todo o povo judaico”, declarou. Um responsável israelita apresentou a visita e o discurso ao Congresso como “o último travão” antes de um acordo.

Mas esta visita é tudo menos consensual até em Israel. De modo pouco habitual, entre as vozes mais críticas estão as de antigos responsáveis de segurança do Estado hebraico. Cerca de 200 responsáveis militares e dos serviços secretos assinaram uma carta pedindo a Netanyahu para cancelar o discurso.

Numa conferência de imprensa no domingo em Telavive, alguns dos mais relevantes explicaram que o faziam porque acreditam que Netanyahu está a pôr em risco a relação com os EUA. “É difícil para mim estar contra Bibi”, disse Amiram Levine, antigo general, que foi comandante de Netanyahu, usando o diminutivo porque é conhecido em Israel. “Ensinei-lhe navegação, ensinei-lhe como chegar ao seu objectivo, mas desta vez lamento ter de dizer: Bibi, erraste na navegação, o objectivo está em Teerão, não em Washington”, cita o New York Times.

Mais duro foi Meir Dagan, que depois de sair da Mossad já criticou outros líderes do país. Para Dagan, Netanyahu é “a pessoa que causou mais danos estratégicos a Israel na questão iraniana”. Isto porque, explicou numa entrevista ao diário israelita Yeditoh Ahronoth, a sua conduta irá não ajudar a impedir um mau acordo, mas aumentar a pressão sobre a Administração dos EUA para um acordo. “Como irá Obama explicar que não conseguiu chegar a um acordo? Dirá que Netanyahu o convenceu? Ou os republicanos?”

Enquanto isso, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e o ministro iraniano dos Negócios Estrangeiros, Mohammad Javad Zarif tiveram o primeiro encontro na estância suíça de Montreux. Kerry disse estar preocupado com a possibilidade de “detalhes seleccionados das negociações poderem ser discutidos publicamente nos próximos dias”, uma possível alusão ao discurso de Netanyahu. “Fazê-lo dificultaria chegar ao objectivo que Israel e outros dizem partilhar para conseguir um bom acordo”, afirmou, concluindo: “A segurança de Israel está na primeira linha das nossas preocupações, mas francamente, também a de todos os outros países na região. E também a nossa segurança”.