Ozgecan morreu e os homens turcos usaram saias
Caso de jovem morta por um motorista de autocarro indignou a Turquia. Protestos não se fizeram só no feminino. Os homens vieram para as ruas, sem calças.
No dia 11 de Fevereiro, Ozgecan Aslan, uma estudante de Psicologia, viajava num pequeno autocarro em Mersin, no Sul da Turquia. Na recta final da viagem seria a única ocupante do veículo, além do motorista. O condutor, de 26 anos, terá alterado o percurso e levado a rapariga para uma zona de mato. Aí terá tentado violar a jovem. Perante a resistência de Özgecan agrediu-a com uma barra de ferro e esfaqueou-a até à morte. O homem cortou-lhe depois as mãos numa tentativa de eliminar vestígios do seu ADN que pudessem ter ficado nas unhas da vítima. Por último queimou o corpo. O motorista confessou o crime dias depois.
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No dia 11 de Fevereiro, Ozgecan Aslan, uma estudante de Psicologia, viajava num pequeno autocarro em Mersin, no Sul da Turquia. Na recta final da viagem seria a única ocupante do veículo, além do motorista. O condutor, de 26 anos, terá alterado o percurso e levado a rapariga para uma zona de mato. Aí terá tentado violar a jovem. Perante a resistência de Özgecan agrediu-a com uma barra de ferro e esfaqueou-a até à morte. O homem cortou-lhe depois as mãos numa tentativa de eliminar vestígios do seu ADN que pudessem ter ficado nas unhas da vítima. Por último queimou o corpo. O motorista confessou o crime dias depois.
A violência da morte de Ozgecan teve reacções imediatas. Uma semana depois, mais de 15 mil pessoas manifestaram-se em várias cidades da Turquia e em Istambul mulheres e homens desfilaram com máscaras com a cara de Ozgecan.
Motoristas de autocarro reagiram à morte colocando laços pretos nas suas viaturas e afirmando-se “envergonhados”por um colega de profissão ter aproveitado a vulnerabilidade de uma jovem para a atacar. Nas redes sociais foram criadas páginas de homenagem à jovem e de alerta para a violência contra as mulheres na Turquia. No Twitter surgiu a hashtag #OzgecanAslan, reproduzida mais de três milhões de vezes. Foi também lançada uma petição a apelar ao reforço da punição do autor da morte da jovem, que nos últimos dias chegou a perto de um milhão de subscritores.
Um dos movimentos que está a chamar a atenção nacional e internacional foi lançado a 18 de Fevereiro. Sob o nome “uma saia por Ozgecan”, imagens de homens com saias vestidas surgiram no Twitter, primeiro a partir do vizinho Azerbaijão. Na Turquia, outros homens organizam acções semelhantes onde surgem com a peça de roupa feminina e partilham as imagens no Twitter e no Facebook. Dizemprotestar contra a morte de Ozgecan e de outras 300 mulheres no país, em 2014, às mãos de homens.
“Se uma saia é responsável por tudo, se usar uma saia significa imoralidade e não ser casta, se a mulher que usa uma saia está a enviar um convite, então nós também estamos a enviar um convite”, pode ler-se numa das dezenas de páginas criadas no Facebook de homenagem à jovem turca.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, anunciou após a morte de Ozgecan que o seu homicida iria sofrer a “condenação mais pesada”. Mas num discurso na televisão nacional esta semana, condenou que os homens turcos estejam a vir para as ruas de saia. “Dizem-se homens. Que tipo de homens são? Os homens usam calças, porque estão a usar saias?”, questionou na sua intervenção.