Socialistas desesperam com “inabilidade política” de Costa

Falta de capacidade de resposta à direita, ausência de um discurso mais assertivo, atraso na apresentação de um programa. Polémica das declarações aos chineses vista como um sintoma do que está mal no PS.

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António Costa Rui Gaudêncio

Para Costa não existe agora sequer a desculpa de arrumar esse desconforto na ala dos seus adversários internos. As críticas surgem até no seio de entre os que o apoiaram na disputa contra o seu antecessor, António José Seguro.

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Para Costa não existe agora sequer a desculpa de arrumar esse desconforto na ala dos seus adversários internos. As críticas surgem até no seio de entre os que o apoiaram na disputa contra o seu antecessor, António José Seguro.

É também entre os seus apoiantes que o desespero sobe em relação à sua gestão política. E onde o episódio da intervenção perante a comunidade chinesa é apontado como um sintoma do que vai mal. “Um líder fica em causa [com um fait-divers] se não tem um programa nem um discurso que o distancie da direita. Quando isso não existe, os fait-divers ganham outra relevância”, diz um dirigente nacional

Um ex-dirigente nacional resume os pecados de Costa à falta de “clareza” que pode custar-lhe a maioria absoluta. O PS não descola nas sondagens porque Costa se está a revelar incapaz de traçar o seu rumo. “Deve dizer não a um Bloco Central” e apresentar o PS como um “partido moderado”, preparado para “reformar o Estado” ao mesmo tempo que “evita utopias gregas”.

Em público, nenhum socialista quer assumir uma posição crítica em relação à actual liderança. Todos os contactados o evitaram com o argumento de não pretenderem piorar o cenário para o partido. Mas não deixaram de reconhecer as suas preocupações. “A continuar assim, não ganha as eleições”, advertia esse ex-dirigente.

Um deputado aproveitou mesmo a recente polémica para assinalar a “inabilidade política” que a resposta à crise chinesa revelou. “Nós tínhamos a obrigação de ter respondido bem melhor. Até mete dó num partido que tem um potencial de argumentário como o nosso”, avaliava esse parlamentar. Afinal, a direcção socialista tinha armas para responder à letra às críticas da direita. Costa podia, na opinião desta fonte, ter apresentado exemplos de como o “Governo diz bem lá fora de coisas que diz mal cá dentro”, citando como exemplo a campanha para “distribuir [computadores] Magalhães pelo mundo” ou a defesa do ministro de Estado Paulo Portas à “rede de mobilidade” construída em Portugal como um factor de atracção de investimento no país.

Entretanto, a direita continuou a capitalizar a polémica. Ontem de manhã, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, começou por dizer que não pretendia fazer “nenhuma observação que possa ser lida como procurando aproveitar ou intervir nesse debate que decorre dentro do PS”, para depois afirmar que “qualquer observador independente e afastado da luta político-partidária reconhece que o país está diferente do que estava há quatro anos”.

Depois foi a vez do vice-primeiro-ministro espetar mais uma farpa, aproveitando os números do INE sobre o desemprego. "O desemprego desce tanto nos jovens como na população mais adulta. Isto é um sinal de que o país obviamente está a dar a volta. Às vezes, pelo menos, o que o Dr. António Costa diz é razoável, nós estamos de facto a conseguir dar a volta como país, a conseguir vencer uma crise que foi muito difícil por causa do resgate", disse Paulo Portas, após uma visita à Feira Internacional de Turismo.

Como não podia deixar de ser, a polémica perseguiu o secretário-geral do PS. Em Torres Vedras, António Costa tentava preparar o caminho para o Encontro Nacional “Valorizar o território” que o PS agendou para este fim-de-semana : "Já falei sobre esse tema ontem e para mim é um assunto encerrado, hoje falo sobre outro tema. Hoje estamos centrados sobre a revalorização do património, sobre os problemas que preocupam os portugueses. Uma das formas mais importantes de valorizar o território é a agricultura, foi isso que nos trouxe aqui".

O socorro a António Costa teve assim de vir de paragens inesperadas. Francisco Assis, o eurodeputado socialista que apoiara Seguro e abandonara o Congresso em Novembro por considerar ter havido uma viragem demasiado acentuada à esquerda, saiu em defesa do líder. "[Costa] fez referência a uma alteração das circunstâncias do investimento externo. É evidente que a situação está melhor do que há quatro anos porque a situação em termos europeus melhorou", disse na TVI24, referindo-se à "estabilização da zona monetária". 

E também a comunidade chinesa ensaiou o lançar de uma bóia de salvação. A Liga dos Chineses em Portugal lamentou a utilização do ano novo chinês como "ferramenta política", acusando políticos e comunicação social de descontextualizarem parte do discurso do líder do PS sobre a evolução do país. Para a Liga, o único pecado do socialista fora o ter reconhecido “por um lado a boa integração e a capacidade empresarial dos chineses residentes e a evolução das relações de amizade e diplomáticas entre os dois países".