Metade dos hipertensos não sabe que tem a doença
Estudo mostra que os portugueses conhecem melhor a doença, mas a informação nem sempre está a ser colocada em prática e há resistência em cortar, por exemplo, o consumo de sal.
Os dados, antecipados ao PÚBLICO pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), fazem parte do estudo Percepção da População sobre Hipertensão, feito a pedido desta sociedade e que será apresentado no 9.º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global, que começa nesta quinta-feira no Algarve e que se prolonga até domingo. O trabalho, explica Fernando Pinto, compara os dados de 2014 com os obtidos em 2009 e, em alguns casos, em 2007. Os dados foram recolhidos presencialmente em Dezembro junto de uma amostra de 500 pessoas representativa da população nacional.
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Os dados, antecipados ao PÚBLICO pelo presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH), fazem parte do estudo Percepção da População sobre Hipertensão, feito a pedido desta sociedade e que será apresentado no 9.º Congresso Português de Hipertensão e Risco Cardiovascular Global, que começa nesta quinta-feira no Algarve e que se prolonga até domingo. O trabalho, explica Fernando Pinto, compara os dados de 2014 com os obtidos em 2009 e, em alguns casos, em 2007. Os dados foram recolhidos presencialmente em Dezembro junto de uma amostra de 500 pessoas representativa da população nacional.
“As pessoas têm em quase 80% dos casos noção de que a hipertensão é um problema com que se deviam preocupar. Tem também vindo a aumentar a percepção de que o excesso de sal e a má alimentação são causas da hipertensão, mas as pessoas continuam a não saber os valores reais a partir dos quais se considera que há hipertensão e só 17% acham que têm a doença, quando sabemos que na população adulta os dados reais são de 40%”, sintetiza o cardiologista. Em 2009 havia mais gente a dizer que tinha hipertensão (20%), mas em 2007 também eram só 18%. Fernando Pinto considera que em muitos casos o diagnóstico foi feito pelo médico, mas o doente não tem a percepção da doença crónica que tem, o que pode condicionar a adesão aos medicamentos e as mudanças no estilo de vida.
Aliás, para o presidente da SPH, o facto de tanto neste estudo de 2014 como no de 2009 a percentagem de pessoas que reduziram o consumo de sal no último ano ter ficado nos mesmos 27% revela que é preciso mudar de estratégias. Segundo o médico, a preocupação acentua-se em tempos de crise. “Na última década a mortalidade por acidentes vasculares cerebrais (AVC) em Portugal baixou 46%, mas continuamos a ter muito mais que a maioria dos nossos países vizinhos e só somos comparáveis com a Grécia”, adianta Fernando Pinto, mostrando-se apreensivo que “com a crise esta melhoria recue ou seja atenuada. Deixamos de ter tanta prioridade na comida saudável e por outro lado há relatos de algumas pessoas que abandonam parte da medicação por não terem capacidade económica para a adquirir”.
Menos dez anos de vida
“A hipertensão vai matar um terço dos portugueses e, sobretudo, precocemente rouba em média cerca de 10 a 12 anos de vida útil. É uma doença que não tem cura e que, em geral, precisa de medicação a longo prazo, mas sobretudo uma alteração do estilo de vida”, alerta Fernando Pinto, que recorda que o AVC e o enfarte agudo do miocárdio são duas das principais consequências da hipertensão e que medidas simples como a perda de peso ou redução do consumo de sal são suficientes para a pressão baixar e evitar-se o uso de medicamentos em alguns doentes ou, pelo menos, a utilização de medicamentos mais complexos. Entre os inquiridos, 74% associaram a hipertensão ao AVC e 61% ao enfarte. Em 2009 a percentagem ficou-se pelos 54% em ambas as doenças e em 2007 nos 57% para o AVC e 63% para o enfarte.
No entender do representante da SPH é necessário insistir em alguma informação, como o valor a partir do qual se considera que há hipertensão. O valor, medido em milímetros de mercúrio, não deve ultrapassar os 140/90, correspondendo o valor mais alto à chamada pressão sistólica, que corresponde ao momento em que o coração se contrai. Já o valor menor, o da pressão diastólica, é obtido quando o coração relaxa. A esmagadora maioria dos inquiridos desconhece estes valores e só mede a pressão no médico, sendo que quando o fazem por iniciativa própria a farmácia é o local escolhido por 62% das pessoas – um valor oscilante, já que em 2009 era de 61% em 2007 de 68%.
Outro dos problemas identificados no estudo está na percepção que as pessoas têm da informação dada pelo médico. Há menos inquiridos a referirem os clínicos como principal fonte de informação (53%) e só 48% consideram a informação suficiente. Fernando Pinto ressalva a “memória selectiva” que pode acontecer nos doentes, mas reconhece que a banalização da doença pode contribuir para que os profissionais de saúde dêem algumas informações como adquiridas, referindo-as menos vezes.
Mais uma vez o cardiologista acredita que é preciso insistir na comunicação, mas também noutras medidas. Uma delas tem sido uma das “principais batalhas” da SPH: os rótulos, com 62% dos inquiridos a admitirem que nunca verificam a quantidade de sal nos alimentos. Apesar disso, nos últimos anos cresceu a proporção de pessoas que identifica à cabeça os produtos de charcutaria e snacks e aperitivos como especialmente ricos em sal, mas 67% desconhecem que a Organização Mundial de Saúde recomenda um máximo diário de 5,8 gramas de sal por dia.
“Consideramos que as pessoas, e mesmo os profissionais de saúde, têm dificuldade em saber os valores de sal recomendados e embora digam que sabem ler rótulos não é bem assim. Não queremos uma atitude persecutória, até porque ao contrário do tabagismo o consumo excessivo de sal não prejudica a pessoa ao lado, mas com uma rotulagem simples e intuitiva queremos dar às pessoas a oportunidade de saberem o que estão a comprar”, explica Fernando Pinto, reforçando que com uma medida destas “o mercado reagiria e iria reduzir naturalmente o sal que adiciona aos produtos”.