Murtosa tem o único museu dedicado às conservas de enguias

Município recuperou as antigas instalações da fábrica da Comur e transformou-as em unidade museológica. Equipamento cultural vai ser inaugurado neste sábado

Foto
Nelson Garrido

“É muito mais do que a recuperação de umas antigas instalações fabris, é um espaço de memória e história do nosso povo”, destaca Joaquim Baptista, presidente da câmara da Murtosa, a propósito do equipamento que resultou de um investimento de 1,3 milhões de euros – montante que inclui a recuperação do imóvel e a aquisição de equipamento.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

“É muito mais do que a recuperação de umas antigas instalações fabris, é um espaço de memória e história do nosso povo”, destaca Joaquim Baptista, presidente da câmara da Murtosa, a propósito do equipamento que resultou de um investimento de 1,3 milhões de euros – montante que inclui a recuperação do imóvel e a aquisição de equipamento.

Joaquim Baptista confessa ter expectativas elevadas quanto à afluência de visitantes a este museu – que mantém o nome da fábrica que já funcionou naquele edifício (Comur). “Existem, por esse país fora, muitas conserveiras e uma série de espaços museológicos associados à indústria conserveira, mas conservas de enguia, só mesmo na Murtosa”, destaca o edil.

E o que podem os visitantes ficar a conhecer neste novo museu? “A história da fábrica e da comunidade onde ela se insere, vendo o desenvolvimento do processo conserveiro e as suas fases”, desvenda o líder da autarquia. Através de uma “museografia contemporânea, que alia design, conteúdos de qualidade e interactividade, este espaço distingue-se pela sua capacidade pedagógica de envolver os diversos públicos na história de uma fábrica, dos seus trabalhadores e, no fundo, de toda uma comunidade”, revela ainda Joaquim Baptista.

Um dos destaques do discurso expositivo assenta na “apresentação de vídeos, com testemunhos emocionados, de quem nasceu e trabalhou na fábrica durante muitos anos”, nota ainda o autarca, em declarações ao PÚBLICO.

Uma história com mais de 70 anos
Desde os inícios do século XX que muitas murtoseiras se dedicavam à fritura e venda da enguia nas feiras e romarias da região Centro, mais concretamente na Guarda, Mangualde, Oliveira de Azeméis, Trancoso, Viseu. “Aproveitavam um produto excedente e encontraram uma forma de o conservar através do molho de escabeche”, enaltece Joaquim Baptista.

A devastação da II Grande Guerra acabou por motivar uma enorme procura por alimentos, levando a que surgissem oportunidades de negócio para este produto tradicional da ria. Através de um agente comercial, de Itália, chegou à Murtosa uma encomenda para 2500 barricas de enguias.

Mas como “a lei exigia condições higiénico-sanitárias para a laboração” e a produção ainda era feita de forma “artesanal” e “caseira”, “produtoras e homens de negócio agregam-se” e “a 7 de Novembro de 1942, por escritura pública, constituem uma sociedade por cotas denominada Fábrica de Conservas da Murtosa, Lda.”, recorda a autarquia murtoseira.

A empresa prosperou e foi ganhando notoriedade, exportando os seus produtos para os quatro cantos do mundo. Em 1997, a empresa deixou a velha “Fábrica das Enguias”, em pleno centro de Pardelhas - mudando-se para a Zona Industrial da Murtosa, onde continua a laborar actualmente -, espaço que está, agora, transformado em unidade museológica.