Juiz recusa audição de inspectores que investigaram Meco
Advogado das famílias das vítimas suspeita de fuga de informações durante a investigação. Tribunal de Setúbal decide a 4 de Março se caso segue para julgamento.
"Disse que não era relevante nesta fase do processo ", explicou o advogado das famílias, Vítor Parente Ribeiro.
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"Disse que não era relevante nesta fase do processo ", explicou o advogado das famílias, Vítor Parente Ribeiro.
Em causa estão suspeitas de fuga de informações durante a investigação da tragédia que matou seis estudantes do pólo de Lisboa da Universidade Lusófona. O Tribunal de Setúbal ouve neste momento uma das peritas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera que analisaram as roupas do único sobrevivente, João Gouveia, seguindo-se o debate instrutório.
Na última sessão do debate instrutório, no passado dia 14, Vítor Parente Ribeiro avançara já que suspeita que os inspectores da Polícia Judiciária que investigaram o caso terão violado o segredo de justiça, fornecendo informações privilegiadas à mãe de um dos jovens que morreram afogados. E citou uma série de mensagens de telemóvel trocadas nos meses que se seguiram à tragédia para sustentar essa tese.
“A PJ prometeu à Anabela que nenhum de nós tem que estar preocupado…”, diz o SMS enviado por uma estudante da Comissão de Praxe da Universidade Lusófona ao ex-dux Rui Osório cerca de três meses depois da tragédia. Segundo o advogado, trata-se da mãe de Tiago Campos, Anabela Pereira, a única que não culpa o jovem que sobreviveu à tragédia pela morte do filho.
A troca de mensagens prossegue, com referências ao processo judicial desencadeado pelos pais das vítimas: “A PJ disse para ninguém estar preocupado com a queixa-crime […] Mas, por favor, não comentes isto com ninguém… foram informações dadas pela PJ confidenciais… ah a droga do Tiago é bué pouca e foi consumida entre 72 a 48 horas antes do acidente…”.
Ainda em Março de 2014, Rui Osório recebe nova mensagem relativa aos agentes que continuam a investigar o que se passou na praia do Meco: “A PJ diz que não vai ouvir este gajo disse à Anabela que não era credível...". No mês anterior, em Fevereiro, também foram detectadas mensagens do mesmo teor: "A Anabela diz que já falou outra vez com o PJ para ele falar contigo rápido..."
O advogado das famílias das vítimas quer também esclarecer o que sucedeu à roupa usada na noite fatídica pelo sobrevivente João Gouveia, que segundo a Judiciária foi entregue seca às autoridades, três meses depois dos acontecimentos, mas que o relatório da polícia científica descreveu como apresentando-se molhada.
Já nesta terça-feira Vítor Parente Ribeiro disse que mesmo que o juiz decida não levar o processo a julgamento o caso não fica por aqui, uma vez que ainda pode recorrer dessa decisão para o Tribunal da Relação, desencadear uma acção cível ou mesmo ir até ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos.
O juiz de instrução anunciará a 4 de Março se o caso segue para julgamento.