Hospital abre inquérito ao caso de doente deixado seis dias nas urgências
Doente oncológico de 76 anos esteve seis dias no corredor das urgências de Beja. Família pede responsabilidades.
Nos esclarecimentos prestados ao PÚBLICO, os responsáveis hospitalares afirmam que “há instruções claras da direcção clínica hospitalar para o internamento nos diferentes serviços do hospital”, não havendo motivo para ter acontecido uma tal situação.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Nos esclarecimentos prestados ao PÚBLICO, os responsáveis hospitalares afirmam que “há instruções claras da direcção clínica hospitalar para o internamento nos diferentes serviços do hospital”, não havendo motivo para ter acontecido uma tal situação.
Por se ter verificado uma situação anómala, a administração do Hospital de Beja vai saber “se foram cumpridos” os procedimentos habituais de referenciação para o internamento, alegando que “não é regular” permanecer seis dias no Serviço de Urgência quando “há capacidade de internamento” nos serviços actualmente existentes na unidade hospitalar.
Do ponto de vista técnico, a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo “tem as condições necessárias e adequadas ao tratamento dos doentes oncológicos”, garante a administração hospitalar.
Jorge Alexandre, filho do doente oncológico, explicou ao PÚBLICO que foi aconselhado por quem prestava apoio ao pai de que “era preferível” permanecer no serviço de urgência do que fazer viagens diárias de quase 300 quilómetros de Mértola, onde residem, para o Hospital de Évora e regresso, para receber o tratamento de radioterapia.
A administração do hospital corrobora esta afirmação, explicando que o tempo de permanência na sala de macas “contribuiu sobretudo para facilitar os seus tratamentos e preparar a sua referenciação para a rede de cuidados paliativos”.
“O problema é que estranhamos ver o meu pai sempre na maca e no corredor da urgência”, descreve Jorge Alexandre, dando conta do mal-estar que a situação provocou na família. Pediu o livro de reclamações e registou o seu protesto, que depois enviou para todos os grupos parlamentares da Assembleia da República.
O PCP entregou à presidente da Assembleia da República um requerimento endereçado ao ministro da Saúde, Paulo Macedo, exigindo-lhe uma explicação para o problema que afectara um doente oncológico no Hospital de Beja. Os deputados comunistas recordaram a resposta que o governante tinha enviado ao grupo parlamentar do PCP em Janeiro de 2012, onde este dizia que o encerramento de camas na unidade hospitalar tinha em vista “a melhor gestão de internamento de doentes (nomeadamente os doentes oncológicos)”.
Perante o atendimento a que foi sujeito o doente oncológico, que o PCP classifica de “inadmissível e desumano”, os comunistas confrontam o ministro com a sua própria resposta.
A administração hospitalar esclarece que desde o dia da entrada, até ao dia 7 de Fevereiro, o doente esteve em observação, tendo sido efetuados “todos os exames” para esclarecimento da sua situação clínica.
De 7 de Fevereiro ao dia 13 de Fevereiro permaneceu na sala de observações do mesmo serviço, onde lhe foi administrada terapêutica e orientado para radioterapia no Hospital de Évora, onde tem efectuado, desde o dia 9 de Fevereiro, sessões diárias de radioterapia. Cumpriu a sua última sessão de radioterapia no dia 16 de Fevereiro.