O sistema financeiro está em vias de ter um novo desenho em Portugal

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Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI Ricardo Brito

O processo de mudança na arquitectura do sector bancário tem-se acentuado nos últimos anos, no quadro da crise financeira e económica, que obrigou muitos investidores portugueses descapitalizados e endividados a venderem as suas participações accionistas em bancos.

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O processo de mudança na arquitectura do sector bancário tem-se acentuado nos últimos anos, no quadro da crise financeira e económica, que obrigou muitos investidores portugueses descapitalizados e endividados a venderem as suas participações accionistas em bancos.

Foi o caso do BCP, onde predominavam empresas como a Teixeira Duarte, a Soares da Costa, o grupo Mello ou Joe Berardo, que acabaram fora de órbita. Também o Banif, intervencionado, e até o BPI (que pagou antecipadamente o empréstimo que recebeu do Estado) e que viu afastar-se o seu principal investidor histórico, o Banco Itaú, ainda estão a digerir o impacto dos últimos anos recessivos.

Em Agosto, a intervenção no BES, que levou à criação do Novo Banco, tornou incontornável o tema da consolidação e da reestruturação do sector bancário. A decisão de vender a instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha é um dado importante no desenho que vier a ser encontrado, dado que, como tudo indica, será adquirido por capitais estrangeiros.Pelo que se tem sabido, as 15 entidades que passaram à segunda fase do processo de venda (que irá dar lugar a uma oferta de valor não-vinculativa) estão ligadas a investidores não-nacionais, isto no pressuposto de que o BPI vai passar a consolidar com o La Caixa.

Nesta lista de potenciais candidatos há dois grupos chineses, a Fosun (dona da Caixa Seguros e da Luz Saúde) e o Bank of China, além de um fundo de private equity norte-americano, Apollo, que comprou a Tranquilidade. Na corrida estão ainda dois bancos espanhóis, o BBVA e o Banco Popular.

O líder de mercado, a CGD, a única instituição dominada por capitais portugueses, neste caso públicos, o Banif (onde o Estado tem uma presença transitória) e o BCP, agora com uma estrutura accionista em que se distinguem a angolana Sonangol e o espanhol Sabadell, estão impedidos de se candidatar a comprar o Novo Banco, por estarem a beneficiar de ajuda europeia.

Enquanto o Banco de Portugal e o Governo não escolhem um dono para o Novo Banco, a OPA lançada pelo La Caixa ao BPI pode ser o pontapé de saída para se começar a redesenhar o sistema bancário em Portugal. Se a oferta sobre a maioria do capital do BPI tiver sucesso, e dado que o Santander Totta já é uma filial do Santander, o mercado português passará a ser dominado em cerca de 25% por capitais espanhóis (juntando o BBVA e o Banco Popular).

A tendência acentuar-se-á fortemente se o Novo Banco (com 18% de quota de mercado) for adquirido parcial ou totalmente por qualquer destas quatro instituições, todos a disputar a instituição gerida pelo Fundo de Resolução.

Se a opção do BdP e do Governo for neste sentido, o investimento espanhol passará a dominar cerca de metade da actividade bancária. Mesmo sendo provável que o BPI e o Santander, se forem os escolhidos para ficar com o Novo Banco (ou parte dele), sejam forçados a adoptar remédios impostos pela autoridade da concorrência europeia.