Ucrânia acusa Rússia de reforçar separatistas antes do cessar-fogo
Moscovo diz que é a retórica de Kiev que põe em perigo o fim dos combates. Batalhões de voluntários ucranianos prometem continuar a atacar rebeldes.
"Depois do que acordámos em Minsk, não se trata já de um ataque contra a população civil da Ucrânia nem contra os militares ucranianos. É um ataque contra os acordos de Minsk", disse o Presidente ucraniano, referindo-se aos resultados da cimeira que decorreu entre quarta e quinta-feira na capital da Bielorrússia, promovida pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente francês, François Hollande.
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"Depois do que acordámos em Minsk, não se trata já de um ataque contra a população civil da Ucrânia nem contra os militares ucranianos. É um ataque contra os acordos de Minsk", disse o Presidente ucraniano, referindo-se aos resultados da cimeira que decorreu entre quarta e quinta-feira na capital da Bielorrússia, promovida pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente francês, François Hollande.
"Sem qualquer explicação, a Rússia intensificou de forma significativa a sua operação ofensiva depois de Minsk. O acordo de Minsk continua a estar em perigo", afirmou Petro Poroshenko.
A resposta de Moscovo chegou através de um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros. No documento, as autoridades russas dizem-se "preocupadas" com o que consideram ser a tentativa de Kiev e do Ocidente de "deformarem" os pontos do acordo alcançado na quinta-feira, que inclui um cessar-fogo incondicional a partir das 0h00 de domingo na capital ucraniana (22h de sábado em Portugal continental).
Para Moscovo, os separatistas das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk "mostraram uma atitude responsável para com os seus compromissos", mas "as declarações dos políticos ucranianos em Kiev suscitam desconfiança". "Reafirmamos a principal mensagem dos acordos de Minsk de pôr fim aos combates, de retirar o armamento pesado e de dar início a uma verdadeira reforma constitucional na Ucrânia", lê-se no comunicado.
No final de 16 horas de negociações, os líderes da Alemanha, de França, da Rússia e da Ucrânia deram o seu aval a um documento com 13 pontos que prevê, para além de um cessar-fogo, medidas como a realização de eleições e a concessão de uma maior autonomia às províncias separatistas ao longo dos próximos meses.
Para além dos obstáculos ao consenso sobre o futuro estatuto político das províncias de Donetsk e Lugansk (a Ucrânia apenas admite uma maior descentralização e os separatistas exigem a independência, por exemplo), o acordo promovido por Angela Merkel e François Hollande nada diz sobre a situação particular do cerco a Debaltseve.
Situada a meio caminho entre as cidades de Donetsk e Lugansk (ambas controladas pelos separatistas pró-russos), Debaltseve está ainda sob controlo das forças governamentais ucranianas, mas tem sido devastada por bombardeamentos constantes.
De acordo com a agência Reuters, Debaltseve é alvo da artilharia dos rebeldes pró-russos "quase todos os minutos". O repórter da agência disse ter visto uma coluna de veículos militares com peças de artilharia e tanques a passar por um posto de controlo dos separatistas, a cerca de dez quilómetros de Debaltseve. Um dos combatentes, que falou à Reuters sob a condição de anonimato, disse que as suas forças estavam a ser apoiadas por "convidados que vieram da Rússia".
"Os separatistas estão a destruir Debaltseve. O bombardeamento de áreas residenciais e de edifícios civis continua. A cidade está a arder", disse o chefe da polícia da região de Donetsk, Viacheslav Abroskin, citado pela BBC.
O vice-ministro da Defesa da Ucrânia, Petro Mekhed, acusou os separatistas de quererem "içar a sua bandeira" em Debaltseve antes do início do cessar-fogo.
Mais a Sul, perto de Mariupol, há também relatos de combates entre batalhões de voluntários ao serviço do Exército ucraniano e combatentes separatistas.
À intensificação do ataque dos rebeldes pró-russos contra Debaltseve soma-se a promessa da violação do cessar-fogo por parte de voluntários ucranianos, como os membros do batalhão neonazi de Azov, que defende a cidade de Mariupol, e os ultranacionalistas do Sector Direito.
Dmitro Iarosh, líder do grupo paramilitar que desempenhou um importante papel nas violentas manifestações que levaram à queda do antigo Presidente ucraniano Viktor Ianukovich, disse que qualquer acordo com "os terroristas pró-russos" é "inconstitucional" e defendeu "o direito de continuar a realizar operações militares".
A guerra no Leste da Ucrânia começou em Abril do ano passado, semanas depois da anexação da península da Crimeia pela Rússia, com a ocupação de edifícios governamentais por combatentes pró-russos. A NATO, os Estados Unidos e a União Europeia acusam o Presidente Vladimir Putin de ter fomentado o conflito e de apoiar militarmente os separatistas, uma acusação que Moscovo sempre negou.
Nos dez meses de conflito morreram mais de 5400 pessoas, incluindo 59 crianças e os 298 passageiros e tripulação do voo MH17 da Malaysia Airlines, abatido em Julho do ano passado. Só entre 31 de Janeiro e 6 de Fevereiro morreram 263 civis e 674 ficaram feridos, de acordo com os números das Nações Unidas.
No domingo passado, o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung alertou para a possibilidade de os números oficiais estarem muito subvalorizados – segundo os serviços secretos alemães, a guerra no Leste da Ucrânia já terá feito mais de 50.000 mortos.