Filme iraniano Taxi vence festival de Berlim
Realizado pelo dissidente iraniano Jafar Panahi, era o grande favorito ao prémio principal do Festival de Berlim.
Não foi uma surpresa. Taxi, do cineasta dissidente iraniano Jafar Panahi, estava entre os principais favoritos para ganhar o Urso de Ouro da Berlinale e assim foi.
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Não foi uma surpresa. Taxi, do cineasta dissidente iraniano Jafar Panahi, estava entre os principais favoritos para ganhar o Urso de Ouro da Berlinale e assim foi.
O cineasta iraniano Jafar Panahi, que conseguiu completar três filmes apesar de estar proibido de o fazer pelas autoridades iranianas, misturou documentário e ficção em Taxi, suscitando o entusiasmo num festival conhecido por ser sensível aos temas políticos.
No filme, o próprio Jafar Panahi, conduz um táxi em Teerão, mantendo conversas com as pessoas à medida que as transporta, criando uma espécie de mosaico da sociedade iraniana. Foi esta longa-metragem que seduziu o júri presidido pelo cineasta americano Darren Aronofsky. Apesar de todas as limitações, o realizador criou "uma carta de amor ao cinema", foi assim que o júri definiu a obra.
Antes, na sexta-feira, já Taxi tinha recebido o prémio Fipresci, da Federação Internacional de Críticos de Cinema. Em 2013, também em Berlim, já havia sido galardoado pelo argumento de Close Curtain/Parde. Já em 2006 o festival deu-lhe o Prémio Especial do Júri por Offside e nomeou-o membro honorário.
O filme Taxi, como escreveu Alexandra Zawia para o PÚBLICO, a partir de Berlim, é a continuação da série de “filmes escondidos” do iraniano, que começou com This Is Not a Film e Behind the Curtain. São filmes realizados depois de Panahi ter sido preso em 2010 e proibido de trabalhar (ou viajar) durante 20 anos por alegadamente fazer “filmes críticos do regime”.
Na sua viagem por Teerão, Panahi apanha vários convidados, com uma câmara instalada atrás do pára-brisas. Entre essas pessoas vemos a própria sobrinha, que ele vai buscar à escola. Ela lê alto as regras de realização de filmes que a escola lhes deu. “Tentar sempre fazer um filme que seja distribuível”, lê-se. “De outra forma, ninguém o quererá ver.”
Na ausência do realizador, impedido de sair do Irão, foi a sobrinha que este sábado subiu ao palco, irrompendo em lágrimas, emocionada, perante a distinção oferecida a Jafar Panahi.
Entre os principais prémios encontramos dois outros filmes que também eram apontados como favoritos. O prémio Alfred Bauer, para o filme artisticamente mais inovador, foi para a primeira obra do realizador guatemalteco Jayro Bustamante, de 37 anos, intitulado Ixcanul, que retrata a história de uma jovem Maia que sonha em emigrar para os EUA.
E o Grande Prémio do Júri do festival foi para El Club, quinta longa-metragem do chileno Pablo Larraín, que se debruça sobre os traumatismos do Chile através do estudo de uma comunidade religiosa abalada por um escândalo. É uma obra nebulosa e sombria como o interior dos protagonistas: quatro padres, supervisionados por uma freira, os cinco excomungados pela Igreja porque cada um deles cometeu um crime que o Vaticano não tolerou.
O terceiro filme do inglês Andrew Haigh, 45 Years, viu premiados os seus dois actores principais - Tom Courtenay e Charlotte Rampling - que foram considerados, respectivamente, Melhor Actor e Melhor Actriz. O filme capta a vida de um casal, filmado com minúcia, subtileza e generosidade.
O Urso de Prata de melhor realização, por sua vez, foi dividido pelo romeno Radu Jude (Aferim) e pela polaca Malgorzata Szumowska (Body), e o documentário El Botón de Nácar do chileno Patricio Guzmán, levou o Urso de Prata de melhor argumento.
O filme de acção mexicano 600 millas, realizado por Gabriel Ripstein, sobre o tráfico de armas entre os Estados Unidos e o México, foi escolhido como melhor primeira obra.