Batalha por Debaltseve dificulta ainda mais acordo de cessar-fogo

Exército ucraniano e combatentes separatistas reforçam ataques nas horas que antecedem a entrada em vigor de um cessar-fogo. Ninguém sabe como resolver a situação na cidade cercada pelos rebeldes.

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Os combates concentram-se sobretudo na cidade de Debaltseve, onde 8000 soldados ucranianos estão cercados e expostos a intensos bombardeamentos pelos separatistas da autoproclamada República Popular de Donetsk.

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Os combates concentram-se sobretudo na cidade de Debaltseve, onde 8000 soldados ucranianos estão cercados e expostos a intensos bombardeamentos pelos separatistas da autoproclamada República Popular de Donetsk.

"O inimigo continua a aumentar as suas forças nas principais áreas do conflito armado. A situação mais intensa verifica-se em Debaltseve", disse nesta sexta-feira o porta-voz do Exército ucraniano, Andri Lisenko. De acordo com as contas do Governo de Kiev, pelo menos 11 soldados foram mortos e 40 ficaram feridos entre quinta e sexta-feira, nas horas que se seguiram à assinatura de um acordo promovido pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente francês, François Hollande.

A Nordeste de Debaltseve, já na província de Lugansk, pelo menos dois civis foram mortos e seis ficaram feridos na queda de um rocket num café, na cidade de Shchastia, controlada pelas forças do Governo de Kiev.

"O sistema de aquecimento da cidade não funciona e as linhas eléctricas foram danificadas, assim como o fornecimento de água. É desta forma que se preparara um cessar-fogo", disse ironicamente Hennadi Moskal, responsável pela administração da cidade, citado pela agência Reuters.

Os separatistas também acusaram as forças de Kiev de estarem a aproveitar as horas que antecedem o cessar-fogo para reconquistarem território, ou pelo menos para enfraquecerem as posições dos inimigos, principalmente nas cidades de Donetsk e Gorlivka. Num comunicado, os rebeldes dizem que três crianças foram mortas num ataque das forças governamentais contra Gorlivka.

Os repórteres da agência Reuters testemunharam disparos de artilharia de ambos os lados – o Exército de Kiev lançou ataques a partir da cidade de Kramatorsk e os separatistas dispararam a partir de Donetsk. Um dos combatentes pró-russos ouvido pela agência de notícias falou do acordo de cessar-fogo em tom jocoso: "Que cessar-fogo? Não me faças rir. Este já é o segundo ou terceiro cessar-fogo."

Nó ferroviário
O acordo assinado na quinta-feira não prevê qualquer solução específica para Debaltseve. Ao contrário de outras cidades, em que uma e outra parte mantêm um controlo relativamente confortável, a batalha em curso por Debaltseve dificilmente levará os separatistas a recuar nas suas posições devido à natureza estratégica da cidade, que é também um importante nó ferroviário entre Donetsk e Lugansk.

De acordo com o jornal britânico The Guardian, a batalha por Debaltseve foi mesmo um dos pontos principais das negociações de Minsk, com o Presidente russo, Vladimir Putin, a tentar forçar o adiamento do cessar-fogo por pelo menos dez dias. De acordo com testemunhas presentes na cimeira dos líderes da União Europeia, em Bruxelas – onde Merkel e Hollande transmitiram aos seus parceiros os pormenores da cimeira de Minsk –, o Presidente russo terá deixado claro que Debaltseve tem de cair nas mãos dos separatistas.

Para além do cessar-fogo, as partes assinaram um acordo que prevê medidas de médio e longo prazo de concretização ainda mais difícil, como a realização de eleições nas províncias rebeldes de acordo com as leis da Ucrânia; o regresso do controlo da fronteira com a Rússia para as mãos de Kiev; e uma amnistia que ninguém sabe muito bem quem abrangerá.

Nesta sexta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Pavlo Klimkin, excluiu os líderes separatistas dessa amnistia, apesar de o documento assinado não fazer qualquer referência a excepções. Esta ausência de excepções foi criticada no Twitter pela responsável da organização Human Rights Watch em Bruxelas, Lotte Leicht: "A amnistia prevista em Minsk é perturbadora. Não pode negar justiça às vítimas de crimes atrozes, incluindo o derrube do voo MH17", disse Leicht, numa referência à queda do avião da Malaysia Airlines em Junho do ano passado, que matou os 283 passageiros e 15 tripulantes a bordo.